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Pelo menos 100 prefeitos trocaram de partido no Ceará desde que foram eleitos; PSB amplia liderança

Os casos mais recentes de migração são observados em Coreaú, Itapajé, Jaguaretama, São Benedito, Croatá e Granjeiro

Escrito por Ingrid Campos, Jéssica Welma ,
Municipios
Legenda: As movimentações se intensificam com a proximidade do prazo de filiação para pretensos candidatos às eleições de outubro e a abertura da janela partidária.
Foto: Marcelino Júnior/SVM

Pelo menos 100 de 184 prefeitos cearenses estão, hoje, em legendas diferentes daquelas pelas quais foram eleitos em 2020. Com os gestores, as suas comunidades políticas também sofrem remanejamento, fortalecendo uma parcela dos partidos em atuação no Estado e enfraquecendo outros. 

Os casos mais recentes de migração são observados em Coreaú, Itapajé, Jaguaretama, São Benedito, Croatá e Granjeiro. Os prefeitos dos três primeiros municípios foram atraídos pelo PSB: Edézio Sitônio, Dra. Gorete e Glairton Cunha tomaram posse, em 2021, pelo PDT, pelo PSD e pelo PP, respectivamente.

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Já o PT filia Saul Maciel, de São Benedito, e Ronilson Oliveira, de Croatá, eleitos pelo PDT e pelo MDB, nessa ordem, no domingo (17). O MDB filia nesta sexta-feira (15) Chico Clementino, de Granjeiro, anteriormente filiado ao PSDB. A sigla tucana, então, perde representação em número de prefeituras no Ceará.

No início de fevereiro, o Diário do Nordeste realizou um balanço que mostrava um “troca-troca” em ao menos 91 municípios, quase metade das gestões cearenses. As movimentações se intensificaram desde então, tendo em vista a proximidade do prazo de filiação para pretensos candidatos às eleições de outubro e a abertura da janela partidária. 

A janela é um período de um mês, que começou em 6 de março, em que os vereadores podem mudar de partido sem acarretarem prejuízo aos seus mandatos. Em Fortaleza, por exemplo, o prefeito José Sarto se mantém no PDT, mas também conseguiu reforçar a sua base com a filiação de vereadores.  

Perdas

Líder em prefeitos eleitos em 2020, o PDT vive uma desidratação nos municípios desde 2022, quando uma crise interna foi iniciada. O auge da fragmentação ocorreu no início de fevereiro, com a migração em massa de gestores para o PSB, seguindo os caminhos do senador Cid Gomes, ex-pedetista. De 66 cidades alcançadas nas últimas eleições municipais, o PDT ficou com 14. 

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O PL também venceu as urnas em 13 cidades, mas perdeu nove representantes no Executivo. Sobraram, então, Bruno Gonçalves (Aquiraz), Acilon Gonçalves (Eusébio), Ednardo Filho (Miraíma) e Giordanna Mano (Nova Russas). 

O PCdoB perdeu duas de três prefeituras: uma para o PSB, com Robério Rufino, e outra para o PT, com Elias do Sargento, mas ainda dentro da federação. Já o PTB – já fundido ao Patriota, criando o PRD – contabiliza, hoje, zero gestões cearenses, mas elegeu três em 2020.

Quem também decaiu de representação no interior foi o Pros (hoje incorporado pelo SD): de três prefeituras, o partido ficou com zero. Vitor Valim (Caucaia), Dodó de Neoclides (Salitre) e Professor Marcelão (São Gonçalo do Amarante) passaram a reforçar o PSB e o PT. O Psol enfrentou fenômeno parecido com a filiação do único gestor eleito em 2020, Edson Veriato, de Potengi, ao PT.

Além deles, o Cidadania e o PSDB, também unidos em federação, desapareceram. O primeiro alcançou a Prefeitura de Cascavel com Tiago Ribeiro, que se filiou ao PT no ano passado.

O segundo, por sua vez, perdeu o comando de Granjeiro recentemente. A legenda alcançou em 2020, ainda, as cidades de Cruz, com Jonas Muniz, e de Maracanaú, com Roberto Pessoa, mas ambos estão em novo partido. Jonas está no PSB e Roberto está no União Brasil. 

Fundado por meio de fusão do DEM com o PSL, o União não conseguiu manter as prefeituras que onde se derivou. O extinto DEM foi vitorioso com Rozário Ximenes (Canindé), Marquinhos Tavares (Itaitinga) e Dr. Samuel Werton (Santana do Cariri) naquele ano. Hoje, eles estão, respectivamente, no Republicanos, sem partido e no PT. Já o PSL não elegeu prefeitos. 

Outros tiveram perdas menores, como o PP, o PSD e o MDB, que não ultrapassaram a faixa de 30% de desfiliação. Vale destacar que o Diário do Nordeste calcula o contingente da última legenda com base em informações dadas pelo seu presidente, Eunício Oliveira, que diz que vai absorver Granjeiro, Assaré, General Sampaio e Porteiras neste sábado (16).

Bloco governista fortalecido

O maior beneficiado nesse fluxo partidário é o bloco governista. O PT e o PSB, partidos coordenados pelo ministro Camilo Santana (PT) e o ex-deputado Eudoro Santana (PSB), são líderes em número de prefeitos filiados. 

O PSB saiu de oito prefeituras em 2020 para 64 em 2024. O “boom” veio após a filiação em massa de gestores saídos do PDT, em fevereiro deste ano. Já o PT elegeu 18 prefeitos no último pleito e complementou-se com outros 27, chegando a 45.

Atualmente ao lado do Governo Elmano, o Republicanos saiu de dois para seis prefeituras sob a gerência de Chiquinho Feitosa. No mesmo bloco, estão MDB, PP e PSD, já mencionados com suas poucas perdas nas movimentações partidárias deste quadriênio.

Futuro incerto

Há, ainda, quem esteja sem partido. É o caso de Thiago Campelo, de Aracoiaba; de Dr. Junior, de Chorozinho; e de Carlos Áquila, de Moraújo. Os três foram eleitos pelo PDT, mas deixaram o partido nos primeiros meses de crise. 

Em 2022, eles decidiram apoiar a candidatura de Elmano de Freitas (PT) ao Governo do Estado, que saiu vitoriosa em outubro. A postulação surgiu após o PT romper com o PDT pelo veto imposto à empreitada de Roberto Cláudio (PDT) ao Executivo cearense. Diante desse cenário, os gestores se desfiliaram para consolidar a migração de grupo político.

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Até o momento, contudo, não comunicaram publicamente a definição de um novo endereço partidário. O prazo para que isso ocorra, caso eles disputem algum cargo eletivo em outubro, termina em abril. Os três estão no segundo mandato como prefeitos, então não podem buscar reeleição para o mesmo posto, mas há outras opções.

Além disso, lideram grupos políticos a nível municipal e regional, o que demanda uma definição nesse sentido. 

DISTRIBUIÇÃO DAS PREFEITURAS NO CEARÁ POR PARTIDO

PSB

2020: 9
2024: 64

PT

2020: 18
2024: 45

PSD

2020: 27
2024: 22

PDT

2020: 67
2024: 14

MDB

2020: 17
2024: 13

PP

2020: 10
2024: 8

Republicanos

2020: 2
2024: 6

PL

2020: 13
2024: 4

Podemos

2020: 1
2024: 3

PSDB

2020: 3
2024: 0

SD

2020: 5
2024: 1

Pros (incorporado ao SD)

2020: 3

União Brasil

2024: 1

DEM (hoje União Brasil)

2020: 2

PCdoB

2020: 2
2024: 1

PTB (hoje PRD)

2020: 1
2024: 0

Cidadania

2020: 1
2024: 0

Psol

2020: 1
2024: 0

Sem partido: 5

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