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Metade dos 184 prefeitos do Ceará trocaram de partido desde a eleição em 2020

Reorganização de grupos políticos mexeu com filiações partidárias e deve continuar acontecendo até abril deste ano, prazo da Justiça Eleitoral para filiação de candidatos

Escrito por Ingrid Campos, Jéssica Welma ,
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Legenda: Em 2020, 17 legendas alcançaram capilaridade nos governos municipais, mas em 2024, o número baixou para 14.
Foto: Agência Brasil

Ao menos 91 prefeitos cearenses começam o ano de 2024 em legendas diferentes daquelas pelas quais foram eleitos em 2020, além de pelo menos outros cinco gestores que deixaram os partidos que os elegeram e ainda buscam nova casa partidária. O reagrupamento do bloco governista, iniciado em 2022, ditou uma nova organização de forças no Estado, criando outra ala de oposição e influenciando os fluxos migratórios na política cearense.

Até o momento, quem mais perdeu representantes foi o PDT. De 66 eleitos no último pleito municipal, permaneceram 15. No início deste mês, dezenas de prefeitos deixaram a sigla e filiaram-se ao PSB, seguindo os passos do senador Cid Gomes. A legenda articula reforços para ganhar novo fôlego após a debandada. 

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O movimento iniciado em 2022 não só impôs desafios à sigla brizolista, como também abriu uma disputa por gestores na base governista. Com isso, o bloco aliado do Governo Elmano acomodou novos partidos, como o Republicanos, o Podemos e o PSB. 

Bloco governista 

Os fluxos partidários nesse intervalo eleitoral beneficiaram o grupo político encabeçado pelo PT. A própria legenda, que acomoda nomes como o ministro Camilo Santana e o governador Elmano de Freitas, ganhou 24 prefeitos filiados desde 2020, número que tende a aumentar com as articulações em curso. 

O trunfo maior está com o PSB no momento. A legenda, sob direção de Eudoro Santana chegou a 60 prefeituras, com outros dois gestores filiados ao partido atualmente afastados da função. Esse número, mais o contingente petista e os filiados dos partidos aliados, forma um bolsão no entorno do Governo Elmano interessado na vitória nas urnas em outubro. 

Além do PSB, somaram-se à coligação que elegeu Elmano ao Abolição (formada em 2022 por PT/PCdoB/PV, PP, MDB, PRTB, Psol/Rede e Solidariedade) Republicanos, PSD e Podemos desde 2023.

O Republicanos, com articulação de lideranças do bloco, passou a ser chefiado por Chiquinho Feitosa, após embates no PSDB e disputa pelo comando do União Brasil – ambas as legendas seguem na oposição. O Podemos, por interferência de Cid Gomes, outro aliado estratégico do grupo, foi para a gerência de Bismarck Maia, prefeito de Aracati.
 
Já o PSD disputou eleição ao Governo do Estado como adversário direto do PT – o presidente Domingos Filho foi candidato a vice-governador –, mas mudou de lado poucos meses depois. 

Oposição em movimento

Outro fator que influenciou o fluxo de prefeitos entre partidos, mesmo que em escala menor, foi a fusão do DEM ao PSL (criando o União Brasil em 2021), o enfraquecimento do Pros nacionalmente e a guinada bolsonarista no PL.
 
Esta legenda, comandada por Acilon Gonçalves (prefeito de Eusébio) até pouco tempo, costumava orbitar a base governista no Estado, elegendo 13 prefeitos nesse espectro em 2020. Contudo, a direção mudou com a chegada do ex-presidente Jair Bolsonaro, em 2021. 

Desde então, tem atraído interessados em compor a oposição à direita, mas também tem perdido prefeituras para o grupo rival. Ao menos nove já buscaram o realinhamento ao Governo do Estado – a maioria no PSB. É o caso Alan Macêdo (Milhã), Robert Viana (Mulungu), Dedé Soldado (Pindoretama), Meu Deus (Santana do Acaraú) e Alex Nunes (prefeito interino de Tianguá).

Entre os que o deixaram o PL, também estão Herberlh Mota (Podemos), de Baturité; Michele Queiroz (PP), de Beberibe; Wilamar Palácio (PT), de Cariús; e Marcondes Jucá (PT), de Choró. 

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Com a mudança nos rumos, atritos entre Acilon e a ala bolsonarista do PL se tornaram frequentes, levando à troca na direção estadual, hoje a cargo do deputado Carmelo Neto.

Ainda na oposição, o Pros perdeu todas as três prefeituras alcançadas em 2020 e um dos principais nomes da direita no Estado, Capitão Wagner. Há dois anos, este se filiou ao União Brasil, que sequer existia em 2020, e assumiu a presidência do diretório estadual. Atualmente, a nova legenda tem apenas a prefeitura de Maracanaú, com Roberto Pessoa. Aliados de outrora, como o prefeito de Caucaia, Vitor Valim, e o de São Gonçalo, Professor Marcelão, deixaram o grupo de oposição e se filiaram, respectivamente, ao PSB e ao PT.

A então base aliada em 2020 também sofreu revezes nos últimos anos. O rompimento do PDT com o PT em 2022 e os eventos que o sucederam até o fim do ano passado inauguraram outro momento no partido. Hoje, a sigla brizolista não compõe a base governista ao nível de Estado, mas não descarta alianças pontuais pelo Interior. 

Trocas de partidos seguem

Enquanto uma parcela majoritária dos prefeitos já encontrou um rumo partidário até as eleições de outubro, outra segue sem acomodação. 

Mesmo deixando as antigas legendas por crises internas e insatisfações no decorrer do quadriênio, ao menos três gestores não fecharam entendimento com novos endereços partidários. O movimento tem um prazo para ocorrer, caso queiram disputar as eleições municipais: 6 de abril, um semestre antes da ida às urnas.

Um caso emblemático é o do prefeito de Chorozinho, Dr. Junior, presidente da Associação dos Municípios do Ceará (Aprece). Ele deixou o PDT em 2022 para apoiar as candidaturas petistas ao Governo do Estado e ao Senado. Desde então, está sem partido.

Seu nome chegou a ser ventilado no Solidariedade, mas as negociações esfriaram. Aliados afirmam que a legenda não é mais uma opção e o assunto continua pendente.

Quem aguarda essa definição, ainda, é o prefeito de Moraújo, Carlos Áquila, ex-pedetista. Aliado de Dr. Júnior, ele aguarda diálogos com o líder e com o governador para decidir o destino partidário.

Em Aracoiaba, a situação é semelhante. Uma das perdas do PDT em 2022, o prefeito Thiago Campelo ainda avalia novo destino, que pode ser o PP. Vale destacar que a primeira-dama, Larissa Lima, e o irmão do gestor, Pedro Campelo, presidente da Câmara Municipal, já são filiados à legenda liderada por Zezinho Albuquerque.  

Prefeitos em exercício

Há ainda o caso de vice-prefeitos que assumiram o comando do município após afastamento do titular. Foi o que aconteceu nas prefeituras de Tianguá, Santa Quitéria, Pacatuba, Limoeiro do Norte e Acopiara. Nos dois primeiros municípios, Alex Nunes (ex-PL) e Lígia Protásio (ex-PP), respectivamente, fizeram as malas para o PSB.

Já Rafael Marques, de Pacatuba, trocou o MDB pelo PSB, partido que também incorporou Dilmara Amaral (ex-PDT), de Limoeiro, e Ana Patrícia (ex-MDB), de Acopiara, aos seus quadros. 

Da mesma forma, há partidos que perderam prefeitos devido a cassações, afastamentos, renúncias e até mortes. São os casos listados abaixo:

  1. Acopiara: Antônio Almeida (MDB), eleito em 2020, foi afastado pela Justiça. A vice Ana Patrícia (Republicanos) assumiu;
  2. Baixio: Zé Humberto (PDT) foi cassado. Zico (PDT) venceu a eleição suplementar em 2022;
  3. Barro: Marquinélio Tavares (PSD) foi cassado. Dr. George (MDB) foi eleito de forma suplementar em 2021;
  4. Ererê: Otoni Queiroz (PDT) morreu de Covid-19 antes da posse. A vice Emanuelle Martins (ex-PDT, hoje PSB) assumiu em definitivo;
  5. Granja: Juliana Aldigueri (PDT) renunciou. O vice Aníbal Filho (ex-PDT, hoje PT) assumiu;
  6. Itaitinga: Paulo César Feitosa (PL) morreu após infarto. O vice Marquinhos Tavares (ex-DEM, hoje sem partido) assumiu;
  7. Jaguaruana: Roberto da Viúva (PDT) foi cassado. Elias do Sargento (ex-PCdoB, hoje PT) foi eleito em 2021 em pleito suplementar;
  8. Limoeiro do Norte: José Maria Lucena (PSB) está licenciado. A vice Dilmara Amaral (ex-PDT, hoje Republicanos) assumiu;
  9. Martinópole: James Bell(PP) foi cassado. Betão do James Bel (PP) venceu eleição suplementar em 2021;
  10. Mauriti: Junior (PT) renunciou. O vice João Paulo Furtado (PT) assumiu;
  11. Missão Velha: Dr. Washington (MDB) foi cassado. Dr. Lorim (ex-PDT, hoje PSB) venceu pleito suplementar em 2021;
  12. Pacatuba: Carlomano Marques (MDB) foi afastado pela Justiça. O vice Rafael Marques (ex-MDB, hoje PSB) assumiu;
  13. Palhano: prefeito Dinho do Zé de Honório (PT) e vice Francisco Erisson morreram com pouco espaço de tempo. José do Lalá (PT) foi eleito de forma suplementar em 2021;
  14. Pedra Branca: Antonio Gois (PSD) teve o registro cassado. Matheus Gois (PSD) foi eleito em 2021;
  15. Santa Quitéria: Braguinha (PSB) foi afastado pela Justiça. A vice Lígia Protásio (PSB) assumiu.
  16. Tianguá: Luiz Menezes (PSD) foi afastado pela Justiça. O vice Alex Nunes (ex-PL, hoje PSB) assumiu;
  17. Tururu: Hilzete Malvim (PSB) foi cassada. O vice Dr. Bernardo (PSB) assumiu;
  18. Viçosa do Ceará: Zé Firmino (MDB) foi cassado. Franci Rocha (MDB) foi eleito em pleito suplementar. 
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