PSB assume liderança e outras siglas somem: entenda distribuição de prefeitos em partidos no Ceará
Troca-troca de partidos tem feito siglas inflarem enquanto outras minguam em número de gestões municipais sob seu comando
A debandada de prefeitos cearenses para o PSB junto com o senador Cid Gomes revirou o tabuleiro eleitoral para o pleito do ano que vem. Com apenas nove prefeituras conquistadas em 2020, o partido deu uma guinada neste ano, com a chegada do senador, e se tornou a agremiação com maior número de prefeituras "debaixo do braço": 60, atualmente.
O rompimento com Cid e o grupo governista acabou rendendo grandes perdas ao PDT, que não detém mais a primeira colocação no Estado. Em 2020, a sigla brizolista elegeu 67 prefeitos, agora, só tem 16 no comando das administrações municipais.
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Essa, no entanto, não é a primeira vez que um partido infla enquanto outro murcha em meio a idas e vindas de grupos políticos. O modus operandi, inclusive, tem sido esse no Ceará: de desapego a legendas. Na atual conjuntura política, o PT e agremiações aliadas têm sido abrigo para gestores se filiarem.
No ranking de lideranças em prefeituras, a legenda do governador e do presidente da República aparece em segundo lugar (atrás, agora, do PSB), com 42 prefeitos em exercício atualmente — 24 a mais do que o conquistado em 2020. O partido vem crescendo desde o racha com o PDT, mas também tem atraído gestores que, antes, estavam no campo de oposição a nível nacional, como o PL.
Em terceiro lugar no ranking, está o PSD, com 22 prefeitos atualmente. Todas as agremiações que emplacaram nomes nas administrações municipais no último pleito registraram alguma mudança, com entra e sai de gestores. Todavia, algumas ficaram com saldo positivo, enquanto outras foram esvaziadas (confira lista no final da reportagem).
Para a reportagem, foi comparado a legenda dos prefeitos eleitos em 2020 — mesmo os que eventualmente perderam o mandato, morreram ou renunciaram — com a dos que estão no poder atualmente — ainda que de forma temporária. Para isso, foram considerados os partidos dos eleitos registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), anúncios de filiação, checagem nos portais das prefeituras e Justiça Eleitoral.
Fragilidade dos partidos
Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), essa variação de legenda se deve a fragilidade dos partidos e a relação deles com o poder, já que muitas gestões querem permanecer como aliadas do Governo.
"Eu acho que a primeira leitura do movimento desses partidos, que cresce e que encolhe, é a relação deles com o poder. A gente não tem, no Estado, partidos estruturados, a gente tem grupos políticos. E esses grupos políticos se movimentam utilizando partidos", frisa Cleyton.
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As exceções ficam com as agremiações que conseguem manter uma tradição política, com histórico de militância, política ideológica definida e vínculo com algum campo ou base social. Geralmente, elas conseguem manter uma certa "estabilidade" de quadros, ainda que também amarguem perdas a depender do cenário político — que pode variar de acordo com o desempenho dos líderes. É como avalia a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres.
"A nossa cultura política apresenta uma certa fragilidade em relação aos partidos políticos do ponto de vista ideológico. São poucos os partidos hoje que têm uma trajetória política, uma história de militância em alguma área, em algum campo e que tem um enraizamento em uma base social fiel", explica.
Perdas
O troca-troca de partidos pelos gestores tem deixado algumas siglas à míngua no cenário político-administrativo do Ceará. As mais impactadas são as agremiações "menores", com menos quadros no poder. No pleito de 2020, por exemplo, o Cidadania conquistou uma única prefeitura, a de Cascavel. Hoje, a legenda não detém mais nenhuma prefeitura, porque perdeu o gestor para o PT.
Lá, o prefeito Tiago Ribeiro foi eleito pela primeira vez como prefeito pelo PPS, sendo reeleito pelo Cidadania (o mesmo partido com nova configuração) e conquistando a primeira prefeitura da nova legenda no Estado. No ano passado, Tiago se filiou ao PT já de olho no pleito do ano que vem. Ele não pode disputar a eleição de 2024, mas deve lançar um sucessor.
Outra agremiação que perdeu as poucas prefeituras que detinha foi o Solidariedade (SD), mesmo após ter incorporado os quadros do Pros com a fusão entre as legendas no ano passado. O SD fez cinco prefeituras em 2020, enquanto o Pros emplacou outras três. Atualmente, a legenda mantém apenas uma prefeitura: a de Parambu, com Rômulo Noronha. Em Boa Viagem, Maranguape e Novo Oriente, os gestores se filiaram ao PSB. Em Crateús, o prefeito Marcelo Machado trocou o SD pelo PDT.
Já os gestores eleitos pelo Pros, que foi incorporado pelo SD, também migraram para partidos da base governista: em Caucaia, Vitor Valim se filiou ao PSB no ano passado após articulação do ministro Camilo Santana (PT) e do governador Elmano de Freitas. Mesmo caso ocorreu em Salitre, com Dodó de Neoclides. Em São Gonçalo do Amarante, professor Marcelão se filiou, em janeiro deste ano, ao PT.
Vale ressaltar que, em 2020, o Pros era berço do ex-deputado federal Capitão Wagner, que comanda atualmente o União Brasil — partido criado em outubro de 2021 a partir da fusão entre o DEM e o PSL.
O União Brasil é outro partido que tem minguado em número de prefeituras. Como herdou os quadros eleitos em 2020 pelo DEM e PSL, no caso, o partido deveria ter ao menos duas prefeituras: as gestões de Canindé e Santana do Cariri, à época conquistadas por gestores do DEM. As duas foram perdidas para o Republicanos, no ano passado, quando o ex-senador Chiquinho Feitosa assumiu o partido.
Por outro lado, o União Brasil ganhou uma prefeitura: a de Maracanaú, após Roberto Pessoa trocar o PSDB pela legenda em 2022.
O PSDB, que já esteve entre as agremiações com maior número de prefeituras no Estado, hoje detém apenas uma. O partido elegeu três prefeitos em 2020, mas perdeu Roberto Pessoa para o União Brasil e Jonas Muniz, gestor de Cruz, para o PSB.
Potencial de abrigo
Todavia, as siglas "menores" são as que carregam o maior potencial de crescer, podendo vir abrigar mais facilmente grandes lideranças, como avalia Monalisa, por permitirem que o líder do grupo que entrar tenha comando dentro da agremiação.
"A maioria dos nossos partidos são muito mais pragmáticos, voltados para se organizar a partir de eleições específicas e pontuais. Somado a isso, tem a personalização da política, que são figuras, líderes, que se tornam mais fortes do que a própria legenda. Isso explica esse movimento de migração de forças políticas, de lideranças, que, ao migrar de um partido para outro, conseguem carregar consigo um número grande de aliados"
Um outro elemento destacado por Monalisa é a força do Governo para atrair prefeitos para partidos que compõem sua base aliada, já que muitos municípios precisam ficar "sob à sombra do governismo" para sobreviver economicamente.
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"Um outro elemento que vale destacar é a força do Governo, sobretudo no Estado como o Ceará — que ainda é muito frágil economicamente e constituído por muitos municípios de pequeno e médio porte que dependem de repasses de transferências do Governo Federal e Estadual. Nesse cenário, nessa conjuntura de necessidade de ampliação dos recursos públicos, há uma tendência óbvia ao adesismo", acrescenta.
O cientista político Cleyton Monte acrescenta, ainda, que o interesse das lideranças estaduais pelos gestores municipais também mira no pleito seguinte, de 2026, já que os prefeitos e vereadores serão cabos eleitorais de candidatos a deputados, governador, senador e presidente.
"Eles sabem que a eleição de 2024, apesar de ser diferente, é como se fosse uma análise do Governo atual. Quanto mais aliados o Governo tiver em cidades-chave, mais ele vai ter uma estratégia competitiva para 2026"
PSB
O PSB, inclusive, já sentiu, mais de uma vez, o impacto do governismo e da saída de grupos políticos. Essa é a segunda vez que a legenda abriga Cid Gomes e seus aliados. Para disputar a eleição para o Governo do Ceará em 2006, ele deixou o PPS para se filiar ao PSB e levou consigo seu grupo político.
No entanto, naquela época o grupo era dos irmãos Ferreira Gomes, hoje divido entre Cid e Ciro — este último continua no PDT e está em lado oposto politicamente ao do irmão. Quando ambos deixaram o PSB para ir ao Pros e, dois anos depois, para o PDT, o movimento se repetiu.
"O PSB cresceu porque é próximo do Governo, é liderado pelo pai do ministro Camilo Santana e se encaixa como um partido satélite do Governo, da aliança governista. O Governo não podia mais contar com o PDT, porque o PDT hoje é um partido de oposição, controlado pelo André Figueiredo, Ciro, Roberto Cláudio. O PT, sozinho, não tem como dar sustentação ao Governo e escolheu o PSB para aglutinar esses prefeitos e parlamentares que não querem ficar na oposição"
"Isso demonstra a força do situacionismo no Ceará. Eu quero sempre estar ao lado do poder, do governador. A gente sabe que a maior parte dos municípios depende dos repasses do Governo do Estado. Na visão dos políticos, quanto mais próximo do Governo, mais fácil será esse trânsito", finaliza o professor.
Distribuição das prefeituras no Ceará por partido
- PSB
2020: 9
2024: 60 - PT
2020: 18
2024: 42 - PSD
2020: 27
2024: 22 - PDT
2020: 67
2024: 16 - MDB
2020: 17
2024: 10 - PP
2020: 10
2024: 10 - Republicanos
2020: 2
2024: 7 - PL
2020: 13
2024: 4 - Podemos
2020: 1
2024: 3 - PSDB
2020: 3
2024: 1 - SD
2020: 5
2024: 1 - PROS (incorporado ao SD)
2020: 3 - União Brasil
2024: 1 - DEM (hoje União Brasil)
2020: 2 - PCdoB
2020: 2
2024: 1 - PTB
2020: 1
2024: 1 - Cidadania
2020: 1
2024: 0 - PSOL
2020: 1
2024: 0 - Sem partido: 5