Legislativo Judiciário Executivo

PEC que eleva gastos em R$ 83 bilhões e fura teto é aprovada por Comissão da Câmara

A mudança pode contribuir para o pagamento de R$ 400 do Auxílio Brasil até o fim de 2022

Escrito por Estadão Conteúdo ,
Foto Câmara dos Deputados
Legenda: A comissão especial da Câmara responsável por analisar a medida aprovou o texto-base por 23 votos a 11
Foto: Najara Araújo/Câmara dos Deputados

Horas depois de o Governo Federal fazer um acordo para mudar o teto do Orçamento e liberar mais R$ 83,6 bilhões para gastos em 2022, ano eleitoral, a comissão especial da Câmara responsável por analisar a medida aprovou o texto-base por 23 votos a 11.

A votação se deu pouco mais de seis horas após o relator, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), concluir seu parecer - ele próprio informou que finalizou a nova redação por volta de 14h. Faltam os destaques, que são as propostas de mudanças no texto. Concluída a votação, o texto segue ao plenário da Câmara dos Deputados.

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Auxílio Brasil

Motta é o relator da PEC dos Precatórios, enviada originalmente pelo Governo para limitar o pagamento de dívidas judiciais e abrir espaço para o Auxílio Brasil, novo programa social do Governo que substitui o Bolsa Família, com pagamento médio de R$ 300.

Na segunda-feira (18), porém, Bolsonaro determinou que o pagamento fosse maior, de ao menos R$ 400, o que estouraria o teto de gastos, que é uma regra fiscal que limita o avanço das despesas à inflação.

'Licença para gastar'

Após cogitar uma "licença para gastar" fora do teto (que a equipe econômica tentava travar em R$ 30 bilhões), o Governo acabou decidindo pela mudança na fórmula de correção do limite, resultado em um espaço maior, de R$ 40 bilhões. A PEC dos Precatórios serviu de veículo para a mudança.

Somada ao espaço gerado pelo limite dos precatórios, a medida proporciona ao todo o espaço de R$ 83,6 bilhões, segundo cálculos do Governo revelados pelo Estadão Conteúdo.

Deputados da oposição reclamaram da celeridade e disseram ter tido acesso ao texto apenas 15 minutos antes da sessão. Eles fizeram apelos para que a votação fosse adiada para semana que vem. "Não podemos fazer uma votação às cegas", disse a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC).

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Mudança do teto

Incorporada ao texto da PEC dos Precatórios colocada em discussão na comissão especial na Câmara no mesmo dia, a proposta muda a fórmula do teto, que hoje é corrigido pelo IPCA acumulado em 12 meses até junho do ano anterior ao de sua vigência. A ideia é adotar a correção da inflação de janeiro a dezembro.

Com a mudança, Bolsonaro terá espaço para acomodar os R$ 51,1 bilhões de gastos adicionais com as mudanças no Auxílio Brasil (reajuste permanente de 20% mais a parcela temporária para chegar aos R$ 400) e também gastos com emendas parlamentares, preciosas para congressistas que também buscarão novo mandato em 2022.

A mudança de correção entrou na mesa de negociação diante da preocupação de parte do Governo com a narrativa de furo no teto de gastos, da qual o Governo queria se descolar. Na quarta-feira (20), em visita a Russas, no Interior do Ceará, após confirmar o pagamento dos R$ 400, o presidente chegou a dizer que não haveria furo no teto.

"Temos a responsabilidade de fazer com que recursos saiam do Orçamento da União, ninguém vai furar teto, ninguém vai fazer nenhuma estripulia no Orçamento. Mas seria extremamente injusto deixar 17 milhões de pessoas com valor tão pouco (sic) no Bolsa Família", afirmou Bolsonaro.

Exoneração

Nesta terça-feira, os secretários de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal; e do Tesouro Nacional, Jeferson Bittencourt, pediram exoneração dos cargos ao ministro da Economia, Paulo Guedes. Eles alegaram motivos pessoais. 

A debandada ocorreu após a equipe demonstrar insatisfação com a manobra liderada pelo Centrão para romper o teto de gastos em 2022 para bancar o Auxílio Brasil.  

'Malabarismo retórico'

Um técnico experiente ouvido pela reportagem alerta, porém, que o "malabarismo retórico" em torno de furar ou não o teto não será suficiente para aplacar o temor do mercado financeiro com as mudanças, que ampliaram o nervosismo do mercado financeiro.

Em 2016, quando foi votada a criação do teto de gastos, chegou-se a cogitar que a correção do limite se desse pela inflação fechada do ano. Mas o formato final acabou privilegiando a inflação acumulada em 12 meses até junho por um motivo simples: a proposta de Orçamento é entregue até 31 de agosto do ano anterior ao de sua vigência. Saber de antemão a variação do teto facilita o processo de elaboração da peça.

Nos últimos anos, porém, a vantagem processual se converteu em uma dor de cabeça devido ao descasamento de índices de inflação, uma vez que dois terços das despesas, incluindo benefícios previdenciários, são corrigidos pelos índices do ano até dezembro.

Se a inflação acelera no segundo semestre, os gastos crescem mais que o teto, e o Governo é forçado a cortar despesas de outros lugares - como investimentos e emendas parlamentares.

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