Padilha desiste de viajar a NY em meio a restrições impostas por Trump: 'Decisão autoritária'
O ministro da Saúde havia sido convidado para participar de eventos relacionados à Organização das Nações Unidas
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, desistiu de viajar a Nova York para participar da Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) após o governo de Donald Trump restringir a circulação dele nos Estados Unidos.
Ele enviou aos ministros da saúde dos países membros da Organização Pan Americana da Saúde (Opas), nesta sexta-feira (19), uma carta sobre o assunto. "A capacidade do meu país de seguir contribuindo para esses avanços [na saúde mundial] está cerceada. Fui informado, nesta quinta-feira, da postura do governo dos Estados Unidos de restringir a minha circulação no país a poucos quarteirões de Nova York, o que impede a minha ida a Washington, em flagrante desacordo com o Acordo de Sede", criticou o gestor.
Segundo Padilha, "o visto constitui condição indispensável" para que ele possa representar o Brasil na próxima reunião do Conselho Diretor da Opas, entre os próximos dias 29 de setembro e 3 de outubro. "Trata-se de uma decisão arbitrária e autoritária, que afronta o direito internacional e prejudica a cooperação harmônica entre países soberanos", seguiu.
Depois de terem enfrentado epidemias sucessivas de diversos tipos de doenças, os líderes de nossas nações perceberam que essa missão só seria alcançada por meio da cooperação fraterna, baseada na ciência, entre todos, pois as ameaças sanitárias ignoram fronteiras e não aceitam esperar a resolução de rivalidades regionais para impor seus efeitos devastadores".
Embora a Casa Branca tenha permitido que Padilha participasse da assembleia da ONU, o brasileiro não poderia se deslocar até Washington, onde foi convidado para participar da conferência internacional da Opas. "É inaceitável. Sou ministro da Saúde do Brasil, com plena possibilidade de participar das atividades", disse o gestor à GloboNews.
Segundo o jornal O Globo, as restrições impostas a Padilha são mais severas do que as que costumam ser impostas a representantes de países como Síria, Rússia e Cuba.
Veja também
Quais foram as restrições impostas ao ministro da Saúde?
Conforme as limitações aplicadas pelo governo norte-americano, o ministro Alexandre Padilha poderia transitar apenas em uma área equivalente a até cinco quarteirões de onde se hospedar em Nova York e deveria seguir apenas os trajetos entre o hotel, a sede da ONU e representações brasileiras vinculadas à organização.
O ministro foi o último da comitiva de representantes de nações internacionais a receber visto para entrar nos Estados Unidos. No último mês, o governo de Trump também cancelou os vistos da esposa e da filha dele.
"Depois de ter cassado o visto da minha esposa e o da minha filha, de apenas dez anos de idade, o governo dos Estados Unidos impõe restrições inaceitáveis ao exercício da diplomacia brasileira. [...] A restrição que me foi imposta também compromete a velocidade das negociações com laboratórios internacionais, serviços hospitalares e instituições de pesquisa que buscam investir no Brasil e que podem fortalecer nossa capacidade de oferecer saúde de qualidade aos brasileiros", acrescentou o gestor na carta.
Veja também
'Brasil não renunciará à sua soberania'
No documento enviado aos ministros, Padilha afirmou ainda que o Brasil "não renunciará, sob nenhum pretexto", à sua soberania. "O povo do Brasil já ratificou, com suas escolhas recentes, o apreço pela democracia, pelas vacinas, pelo SUS [Sistema Único de Saúde] e pelo programa Mais Médicos, que está sendo usado como justificativa para as restrições ao meu visto", garantiu.
Por fim, o ministro ressaltou o espírito da sociedade dos EUA em prol do desenvolvimento e do humanismo e afirmou ter certeza de que este espírito "não sucumbirá à sombra de obscurantismo e de negacionismo que paira sobre o país atualmente". "País que deixou de ser referência em oferta de ajuda ao desenvolvimento, cooperação humanitária global e desenvolvimento de tecnologias em saúde, para condicionar qualquer cooperação à adesão subserviente à agenda política dos governantes do momento e seus apoiadores", concluiu.
Veja também
'Tô nem aí'
No último dia 18 de agosto, questionado por jornalistas sobre a demora das autoridades americanas na renovação do visto dele para os Estados Unidos, o ministro respondeu que não se importava.
"Vocês estão mais preocupados com o visto do que eu. Não tô nem aí. Acho que só fica preocupado com visto quem quer ir para os Estados Unidos, eu não quero ir. Só fica preocupado com visto quem quer sair do Brasil ou quem quer ir para lá fazer lobby de traição da pátria, como alguns estão fazendo. Não é meu interesse", afirmou.