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Mapa do voto: como deputados federais do Ceará buscam reeleição sem perder espaço em 2022

O mapa eleitoral mostra como as microrregiões são disputadas entre lideranças

Escrito por Wagner Mendes , wagner.mendes@svm.com.br
Plenário da Câmara dos Deputados
Legenda: São 22 vagas em disputa na Câmara dos Deputados pela bancada cearense em Brasília
Foto: Paulo Sergio/Câmara dos Deputados

Entra e sai eleição e o controle das bases eleitorais permanece como uma das principais estratégias para a reeleição no legislativo. Deputados federais cearenses, por exemplo, atuam para garantir os votos obtidos no último pleito e se cacifar para um novo mandato.

Levantamento feito pelo Diário do Nordeste, com base em dados do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), aponta um diagnóstico curioso na peregrinação do voto: o de que há pelo menos duas estratégias claras adotadas nas campanhas. 

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Na primeira, percebe-se que metade dos deputados federais eleitos pelo Ceará, em 2018, adotou a tática da concentração da maior parte dos votos em municípios-chave. Onze parlamentares eleitos tiveram ao menos 40% dos votos recebidos em até três cidades. Ao todo, o Estado tem 184 prefeituras. 

Há casos mais impactantes, como é o da deputada federal Luizianne Lins (PT), que, de todos os votos recebidos, obteve 70,37% em apenas duas cidades do Estado: Fortaleza e Caucaia. 

O mesmo berço eleitoral da petista é compartilhado por Capitão Wagner (Pros), que conquistou 65,19% dos votos nos dois municípios, e por Célio Studart (PV), que conseguiu 64,34% dos sufrágios na região da Grande Fortaleza.  

Os dados mostram como o "apreço" por um território faz a diferença na contagem final dos votos. Essa base, costumeiramente, não é abandonada pela liderança política custe o que custar.

Seja através do envio de emendas parlamentares, da prestação de um favor ou do compartilhamento de um simples café na mercearia, o parlamentar faz questão de estar presente na região e de manter a rede de relações com lideranças comunitárias.

Bases

O deputado federal Eduardo Bismarck (PDT) recebeu 40,28% dos votos em três prefeituras. Uma delas é Aracati, administrada pelo pai, Bismarck Maia (PTB).

A gestão tem sido a prioridade do mandato do parlamentar.

O deputado federal Júnior Mano (PL) recebeu 41,13% dos votos em três prefeituras. Uma delas é Nova Russas, administrada pela esposa, Giordanna Mano (PL).

A gestão tem sido a prioridade do mandato do parlamentar.

Divisões territoriais

Contudo, não são todos os deputados que têm a força necessária em prefeituras robustas eleitoralmente. Na segunda estratégia identificada pelo mapa, a fragmentação dos votos parace ser um caminho para a vitória nas urnas.

Relator do Orçamento do Governo Federal de 2020, o deputado federal Domingos Neto (PSD), por exemplo, tem como base o município de Tauá, governado pela mãe, Patrícia Aguiar.

Com "apenas" 43 mil eleitores, o deputado tem buscado o apoio de outras administrações para se eleger. Como reforço, Domingos tem viajado diversos municípios de aliados do partido.

Quinto deputado federal mais votado do Ceará em 2018, o pedetista Idilvan Alencar tenta dialogar com dezenas de municípios para equilibrar a balança. Um baixo percentual de votos em muitas prefeituras pode fazer a diferença na conta final.

Sem base forte em prefeituras com musculatura eleitoral, o ex-secretário de educação chegou a admitir em entrevista ao Diário do Nordeste que não tem o apoio explícito de prefeitos.

"Sempre fui próximos aos prefeitos. Gostam muito de mim, mas não me apoiam", declarou.

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Assim como Domingos e Idilvan, outros parlamentares eleitos buscam a mesma estratégia em busca do triunfo eleitoral.

Informações obtidas através de dados públicos do TRE-CE apontam que 11 dos 22 deputados eleitos percorreram dezenas de cidades em busca de apoio. O mapa dos votos desses parlamentares foi completamente fragmentado em diversos municípios. 

São casos de Idilvan Alencar (PDT), José Guimarães (PT), Danilo Forte (PSDB), Denis Bezerra (PSB), AJ Albuquerque (PP), André Figueiredo (PDT), Domingos Neto (PSD), Genecias Noronha (SD), Robério Monteiro (PDT), Moses Rodrigues (MDB) e Mauro Filho (PDT). 

Curiosidades

  • A metade de deputados eleitos em 2018 teve os votos concentrados em regiões específicas. A maior concentração é da deputada Luizianne Lins, com 70,37% dos votos na microrregião de Fortaleza. 
  • Deputados que tiveram os votos mais concentrados receberam uma maior votação em municípios onde o prefeito é oposição. Casos de Luizianne Lins (PT), Capitão Wagner (Pros), Vaidon Oliveira (Pros), Moses Rodrigues (MDB) e Heitor Freire (União). 
  • A outra metade dos eleitos que recebeu uma quantidade equilibrada de votos em mais municípios procuraram prefeitos do mesmo partido para ajudar na campanha.  
  • Das 33 microrregiões do Ceará, os deputados eleitos em 2018 conquistaram mais força em 15. São elas: Fortaleza, Sobral, Cariri, Uruburetama, Sertão de Inhamuns, Ipu, Sertão de Senador Pompeu, Litoral de Aracati, Sertão de Quixeramobim, Itapipoca, Sertão de Crateús, Camocim e Acaraú, Baturité, Iguatu e Ibiapaba.

 

Moeda de troca

Para a professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará, Monalisa Torres, a consolidação das bases tem relação direta com os interesses em comum do titular da prefeitura e do parlamentar.

"Para fidelizar essa base eles (deputados) precisam dos prefeitos. Deputado estadual ou federal sem uma aliança muito bem estabelecida com o prefeito vai ter mais dificuldade de manter essa base. E é uma via de mão dupla", pontua.

Torres explica que essa relação diária se dá em algumas frentes. "Na medida em que o prefeito precisa do apoio do parlametar com projetos que beneficiem a região, como o envio de mendas para execução de políticas municipais, isso é bom para o prefeito", diz a professora. 

Por outro lado, de acordo com a especialista, essa relação também beneficia o deputado quando a "conquista" é delegada ao trabalho dele enquanto parlamentar. Essa "mídia" acaba sendo exposta em eventos de inauguração na presença do prefeito e do deputado - é o acordo se consolidando.

Disputa do voto

O mapa do voto deixa claro como será a queda de braço entre lideranças políticas na corrida pela reeleição. Nas microrregiões em que as apostas são mais ousadas ao mesmo tempo a concorrência é mais acirrada.

Os deputados federais Heitor Freire, Célio Studart e Luizianne Lins disputam o voto na região da Grande Fortaleza, incluindo Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.

André Figueiredo, José Guimarães e Pedro Bezerra têm a região do Cariri como estratégica para ajudar na reeleição; Denis Bezerra, Domingos Neto e Genecias Noronha priorizam a região do Sertão dos Inhamuns.

Os eleitores da microrregião de Itapipoca são concorridos pelos deputados Idilvan Alencar, José Guimarães e Robério Monteiro; Leônidas Cristino e Robério Monteiro peregrinam votos na região de Camocim e Acaraú; e os deputados AJ Albuquerque, Danilo Forte, Leônidas Cristino, Moses Rodrigues e Vaidon Oliveira irão disputar voto na microrregião de Sobral.

"Novas figuras"

Nas movimentações de pré-campanha, "novos" nomes surgem como opções para a Câmara dos Deputados. Essas lideranças, inclusive, podem atrapalhar os planos de atuais deputados e dividir ainda mais os votos em regiões estratégicas.

Uma dessas novidades é a pré-candidata a deputada federal Dayany Bittencourt (Republicanos), esposa do pré-candidato a governador, Capitão Wagner (Pros).

Com os votos concentrados na Capital, Wagner tenta transferir o apoio para a esposa na corrida para o Legislativo.

Os votos da Grande Fortaleza podem ganhar ainda mais concorrência em caso de o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) optar por uma vaga na Câmara dos Deputados se não for escolhido para a sucessão de Camilo Santana (PT).

O ex-senador Eunício Oliveira (MDB) bateu o martelo e decidiu que será candidato a deputado federal. Com influência no Interior e na Capital, o emedebista é outro fator que pode desequilibrar a balança dos votos no Estado.

Voto ideológico

Filho de pastor, o pré-candidato a deputado federal, André Fernandes (PL), aparece como opção à Câmara no cenário dos votos ideológicos à direita, assim como o apoio religioso.

Esse tipo de voto já não tem relação territorial, e sim puramente pela crença. São eleitores que devem se dividir entre nomes como André Fernandes, Dayany do Capitão, Mayra Pinheiro (PL), Jaziel Pereira (PL) e Ronaldo Martins (Republicanos).

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