Lula desembarca no Ceará nesta sexta (20); petistas minimizam teor eleitoral da visita
Líder petista chega a Fortaleza no fim da tarde, e terá agenda com o governador Camilo Santana e outras lideranças até a próxima segunda (23)
Após quatro anos desde que esteve no Ceará pela última vez, o ex-presidente Lula (PT) desembarca no Estado nesta sexta-feira (20) para uma agenda de compromissos políticos, na primeira visita desde que se tornou elegível por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar do cotado como possível presidenciável em 2022, correligionários cearenses minimizam teor eleitoral na viagem, mas reconhecem que o líder petista vem ao Ceará também para tratar de eleições.
A agenda tem como um dos pontos altos o encontro com governador Camilo Santana (PT), que joga luz mais uma vez sobre o dilema enfrentado pelo chefe do Executivo estadual no contexto eleitoral: conciliar as relações com Lula e o ex-governador Ciro Gomes (PDT).
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O pedetista é um dos líderes do grupo governista no Ceará e potencial adversário do petista no ano que vem. Diante dos tensionamentos entre os dois, a vinda do ex-presidente deve dividir a base do Governo durante os eventos no fim de semana.
Membros do PT afirmam ainda que, no Ceará, Lula pretende ouvir sobre a atuação de Camilo Santana na pandemia, conversar com movimentos sociais e lideranças políticas de outros partidos e tratar de temas como geração de emprego e combate à fome.
Expectativas
O deputado federal José Guimarães (PT), que acompanha o ex-presidente em sua passagem por outros estados do Nordeste, pondera que a vinda de Lula para o Ceará não terá a política como prioridade, mas admite que o assunto será tratado.
Fica claro que quando politicos se reúnem não deixam de tratar das questões relacionadas a 2022. Ele vai dialogar com o PT e com o governador; com o PCdoB, com o MDB e com o PSB".
Líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa, o deputado estadual Elmano de Freitas (PT), por sua vez, reforça que não há ato político na agenda de Lula e que esse não é o foco da visita do ex-presidente.
"Ele quer ouvir do Camilo como ele atuou na pandemia, a situação da Saúde, as modernizações no Porto do Pecém e geração de emprego", destaca o deputado estadual.
Por outro lado, Elmano também reconhece que, uma vez reunidos, os politicos também irão tratar das articulações para as próximas eleições, tendo em vista a união do grupo governista no Ceará em torno da candidatura ao Governo do Estado, ao mesmo tempo em que questões em âmbito nacional colocam em lados opostos PT e PDT.
"Acho que ele tem muito a dialogar com o Camilo. Nós não estamos nem ainda em período pré-eleitoral e de convenções partidárias. Está muito longe ainda", minimiza o parlamentar.
Já o deputado José Airton Cirilo (PT) diz que um dos esforços da agenda é a construção do palanque petista no ano que vem. Nesse contexto, Lula terá encontros com líderes partidários, entre eles, o ex-senador Eunício Oliveira, do MDB. A expectativa é que Eunício esteja junto à comitiva no Porto do Pecém, no sábado (21).
Última visita de Lula foi em 2017
Em agosto de 2017, o ex-presidente percorreu ao menos dez cidades cearenses, durante a caravana Lula Pelo Brasil. Ele protagonizou atos políticos em Quixadá e no Crato.
No município do Cariri, ao sul do Estado, o petista discursou para apoiadores e recebeu título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Regional do Cariri (Urca).
A visita encerrou no dia seguinte, na Capela do Socorro, em Juazeiro do Norte, onde está o túmulo do Padre Cícero. Lula visitou o local cercado de apoiadores, incluindo o então prefeito da cidade, Arnon Bezerra (PTB).
O petista seria preso em abril do ano seguinte, no âmbito da Operação Lava Jato.
Atual conjuntura
Agora, o contexto se dá em um ano pré-eleitoral, com o ex-presidente livre e elegível após decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Pretenso concorrente de Ciro e também do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que esteve no Ceará na última semana, Lula continua sendo alvo de críticas acerca dos dois governos do PT.
No Estado, Camilo Santana - aliado dos irmãos Ferreira Gomes -, ocupa um espaço de intermediação.
De um lado, o líder de seu partido, que lidera pesquisas recentes de intenção de voto para 2022. Do outro, o ex-ministro pedetista, liderança do grupo político que compõe a base de sustentação do seu Governo, e que tentará pela quarta vez chegar à Presidência da República.
Com Lula e Ciro rompidos desde as eleições de 2018, quando o ex-governador cearense terminou em terceiro lugar e Fernando Haddad (PT) foi ao segundo turno com Jair Bolsonaro -, a última tentativa de aproximação entre os dois foi intermediada por Camilo Santana.
O encontro ocorreu em outubro de 2020 em São Paulo, e a análise inicial era de que os líderes poderiam ali ensaiar uma trégua, tendo em vista uma união para eleição do ano que vem, algo que não se consolidou.
A última vez em que Ciro e Camilo tiveram um encontro tornado público foi na semana passada, quando os dois, além do senador Cid Gomes (PDT), se reuniram no Palácio da Abolição.
O registro publicado nas redes sociais dos três políticos evidenciou a união do grupo no Ceará às vésperas da chegada de Lula ao Estado.
"Conversamos sobre conjuntura nacional, defesa da democracia, e sobre ideias e ações para melhorar a vida do nosso povo. Ciro e Cid fazem parte de um projeto que, ao lado de outros parceiros, tem ajudado muito o nosso Ceará", escreveu Camilo na ocasião.