Dominguetti já falava em superfaturamento das vacinas antes de suposto pedido de propina
Em mensagens divulgadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, ele falou sobre um "esquema lá no MS" que deveria ser informado ao "presidente", sem deixar claro que era Jair Bolsonaro
Mensagens de texto encontradas no telefone celular de Luiz Paulo Dominguetti mostram que o PM já falava sobre a existência de superfaturamento dentro do Ministério da Saúde no início de fevereiro, ou seja, semanas antes do jantar em que teria recebido de Roberto Ferreira Dias, então diretor de Logística da pasta, o pedido de propina de US$ 1 dólar por dose de vacina.
Em mensagens divulgadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Dominguetti conversa com uma pessoa identificada como coronel Romualdo –à CPI ele disse que Romualdo é um coronel da PM de Minas Gerais–, em um contexto em que eles falam sobre um "esquema lá no MS" que deveria ser informado ao "presidente". Eles não deixam claro se estavam se referindo a Jair Bolsonaro (sem partido).
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Em outras mensagens, aparentemente tratando do mesmo assunto e sem citar nomes, Dominguetti fala que queriam que ele superfaturasse o valor da vacina "para 35 dólares". Romualdo indica que Dominguetti teria falado sobre "um Dias no MS" e envia link de uma reportagem que citava Roberto Ferreira Dias.
"Se for este, matou a charada", responde Dominguetti, insinuando depois que o servidor do ministério só aceitava fechar contrato se recebesse "o dele por fora".
Denúncia
Dominguetti afirmou em entrevista à Folha de S. Paulo no dia 29 ter recebido um pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina por parte de Dias, em um restaurante num shopping em Brasília, em 25 de fevereiro deste ano.
A versão foi repetida em depoimento na CPI da Covid na quinta-feira (1º). Demitido horas após a publicação da entrevista à Folha de S. Paulo, Dias nega a acusação.
A reportagem teve acesso a outras mensagens do telefone celular do PM de Minas, que foi apreendido pela CPI durante seu depoimento.
Conversas
Elas trazem conversas de Dominguetti com o coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor do Ministério da Saúde, e outras com Cristiano Carvalho, procurador da Davati no Brasil.
As mensagens indicam que os três mantiveram entendimentos e expectativas de fechar negócio com o governo brasileiro até meados de março, ou seja, cerca de 20 dias depois do jantar em que o PM diz ter ouvido o pedido de propina.
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Em uma conversa com Blanco, no dia 8 de março, ele pede o número de uma conta para depósito, e, sem dar mais detalhes, afirma: "Vamos depositar 1 milhão dólares agora".
Nas mensagens, Dominguetti também afirma em determinado momento a Cristiano que tinha informações positivas da negociação vindas do gabinete de Bolsonaro, com quem o grupo estaria tentando agendar um encontro, mas não apresenta nenhum indicativo que corrobore essa afirmação.
Em mensagens divulgadas pela revista Veja, um interlocutor de Dominguetti identificado como Renato envia a ele uma mensagem em 16 de março dizendo que o reverendo Amilton Gomes de Paula, que também negociou com o ministério a venda de vacinas da AstraZeneca em nome da Davati, teria se encontrado com Bolsonaro pra tratar da negociação. "O Amilton falou com Bolsonaro, ele falou que vai comprar tudo."