'Saída de Levy complica esforços'

Para agência, o ajuste da política fiscal no Brasil pode ficar ainda mais distante com Nelson Barbosa na Fazenda

Escrito por Redação ,
Legenda: No início do mês, a Moody's colocou o rating do Brasil "Baa3" em revisão para rebaixamento, o que significa que o País pode perder o seu grau de investimento

Rio. A substituição de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no comando do Ministério da Fazenda pode complicar os esforços de consolidação econômica do Brasil, disse ontem a agência de classificação de risco Moody's. "A saída do ministro Levy pode complicar os esforços de consolidação fiscal, uma vez que sugere um ajustamento da política fiscal para apoiar o crescimento econômico", disse Samar Maziad, analista sênior da Moody's.

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No início do mês, a Moody's colocou o rating do Brasil "Baa3" em revisão para rebaixamento, o que significa que o País pode perder o seu grau de investimento pela última das três grandes agências de risco.

Discurso

O mercado estará atento a uma possível mudança no discurso do governo quanto à política econômica. Na avaliação de Adauto Lima, economista-chefe da Western Asset, as decisões da política econômica estão muito mais ligadas à presidente Dilma Rousseff que ao titular da Fazenda, quem quer que seja.

"O Barbosa sempre teve uma visão diferente quanto à política fiscal a ser adotada, principalmente na maneira de encarar uma retração econômica, como a atual", afirmou.

Para Lima, há dúvidas sobre que mudanças o novo ministro pode adotar, mas medidas mais heterodoxas, como as implementadas por Guido Mantega, dificilmente são uma alternativa. Na opinião do economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, a saída de Joaquim Levy pode fazer com que o ajuste fiscal seja mais gradual em intensidade e tempo de execução. "O ministro Nelson Barbosa pode assumir uma postura de fazer o ajuste fiscal enquanto estimula o crescimento", avaliou.Para ele, Barbosa enfrenta como grande desafio a incerteza dos agentes econômicos e o ambiente hostil no Congresso Nacional, que está às voltas com o impasse em torno do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Diminuição do receio

Já segundo o sócio-diretor da Canepa Asset Management, Alexandre Póvoa, o nome de Nelson Barbosa não agrada ao mercado financeiro, mas pode haver alguns atenuantes. Se forem verdadeiros os boatos de que Barbosa não era a primeira opção da presidente Dilma Rousseff, isso diminui o receio de uma "guinada à esquerda" no governo. "Dizem que o Barbosa era o terceiro da lista, depois de Marcos Lisboa e Otaviano Canuto, então isso é um bom sinal. A presença de Levy no governo, mesmo que não conseguindo aprovar muita coisa, era um sinal de que nenhuma maluquice seria feita", afirma.

Para Alberto Ramos, diretor de pesquisas para a América Latina do banco Goldman Sachs, a escolha do ministro Nelson Barbosa para comandar a pasta da Fazenda significa uma mudança de titular do cargo, mas continuam os mesmos desafios para a consolidação do ajuste fiscal, comentou ao Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. "Há o risco da mudança sinalizar alguma alteração econômica heterodoxa. Uma nova política fiscal nessa linha poderia ser mal recebida pelos mercados".

Na avaliação de Ramos, o fato de Barbosa assumir a Fazenda pode até levá-lo a adotar uma política fiscal ortodoxa, especialmente porque o ajuste das contas públicas é essencial para o equilíbrio macroeconômico e retirar pressões sobre a política monetária para conter a inflação.

"Vamos acompanhar os primeiros pronunciamentos do ministro. Seria positivo uma posição a favor de reformas estruturais das contas públicas, como da Previdência Social".

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