“Que absurdo!”: Criança viraliza ao reagir a preços e levanta debate sobre educação financeira

Veja dicas de como começar a abordar a educação financeira já na infância.

Escrito por
Maria Clarice Sousa* producaodiario@svm.com.br
(Atualizado às 16:20)

Arthur Oliveira, de apenas 8 anos, natural da Bahia, tem chamado atenção nas redes sociais com vídeos em que reage surpreso aos preços de produtos e serviços do dia a dia. Com vídeos publicados pela mãe, Jaqueline Oliveira, o garoto mostra como tenta administrar a própria mesada e se espanta com o custo das coisas.

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Em um dos vídeos mais populares, com mais de 1 milhão de visualizações, Arthur se prepara para pagar um lanche em uma rede de fast food e reage: “Melhor não comer. R$ 54, que absurdo. Melhor fazer um hambúrguer em casa.” Depois, ainda completa: “Caro, e eu nem enchi.”

O menino também questiona o valor da pipoca no cinema “Como uma pipoca é R$55,00, se no mercado é R$2,00 o milho da pipoca?”. Ele também fica surpreso com o preço das camisas de time. 

As reações do garoto, entre espontaneidade e senso de economia, abriram espaço para uma discussão sobre educação financeira desde a infância, tema que, segundo especialistas, pode ser determinante na formação de adultos mais conscientes financeiramente.

Educação financeira deve começar na infância

Segundo a economista e professora Darla Lopes, diretora do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef-CE), ensinar noções de finanças desde cedo é essencial para formar adultos mais conscientes e equilibrados. Ela explica que os primeiros hábitos sobre o uso do dinheiro são construídos ainda na infância, muitas vezes por observação do comportamento dos pais.

De forma lúdica e prática, a educação financeira pode ser introduzida a partir dos quatro anos de idade. Pequenos exercícios, como dividir a mesada entre gastar, guardar e doar, ajudam a criança a entender o valor do dinheiro e a planejar suas escolhas. O valor da mesada, no entanto, pode variar de acordo com a realidade financeira dos pais.

“Quando a criança aprende a lidar com o próprio orçamento, mesmo que pequeno, ela desenvolve responsabilidade, autocontrole e planejamento”, resume Darla.

Novos desafios da era digital

Com o avanço das compras online e do dinheiro virtual, o aprendizado se tornou ainda mais desafiador. Segundo a economista, o fato de as crianças não verem o dinheiro físico sendo trocado cria a sensação de que o recurso é infinito, o que estimula o consumo por impulso.

Para driblar isso, ela recomenda que os pais acompanhem os gastos digitais, conversem sobre prioridades e estabeleçam metas de curto e longo prazo em conjunto.“O exemplo dos adultos é a principal ferramenta de ensino”, afirma.

Para Darla, o processo de ensinar as crianças sobre dinheiro também é uma oportunidade de aprendizado para os próprios adultos. Segundo ela, o comportamento dos pais é o principal exemplo dentro de casa e influencia diretamente a formação dos hábitos financeiros dos filhos.

A economista destaca que a educação financeira não se resume à mesada, mas envolve diálogo constante e práticas cotidianas que mostrem o valor das escolhas.

Ela recomenda substituir frases como “não tenho dinheiro” por “temos outras prioridades”, reforçando que a transparência e o exemplo são fundamentais para criar uma relação saudável com o dinheiro desde cedo.

Endividamento das famílias brasileiras atinge recorde histórico

Enquanto Arthur tenta equilibrar a própria mesada, os dados mostram que muitas famílias brasileiras ainda enfrentam dificuldades para lidar com o orçamento.

De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), o percentual de famílias com dívidas a vencer chegou a 79,5% em outubro de 2025, o maior da série histórica.

O estudo aponta ainda que 16,5% das famílias se consideram “muito endividadas”, maior taxa desde agosto de 2024. A inadimplência, que se manteve em 30,5%, permanece alta, e o número de famílias que afirmam não ter condições de pagar as dívidas em atraso subiu para 13,2%, também recorde.

Outro dado que desperta o alerta é o aumento das dívidas de longo prazo: 32% das famílias estão comprometidas com parcelas há mais de um ano, o que eleva os custos com juros e compromete uma fatia maior da renda.

Segundo o levantamento, 19,1% das famílias têm mais da metade dos rendimentos comprometidos com dívidas. A taxa média de comprometimento da renda chegou a 29,6% em outubro.

*Estagiária sob supervisão do jornalista Hugo R. Nascimento.

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