Potencial startup ainda é pouco explorado no CE

Escrito por Redação ,

Falta de apoio dos poderes público e privado é apontado como um dos principais motivos para a carência

Um modelo de negócio escalável, cuja ideia é promissora e inovadora, mas que trabalha com a extrema incerteza e com o menor custo possível. As startups, normalmente associadas a empresas com desenvolvimento digital, sobrevivem no Ceará principalmente pela vontade de empreender dos próprios idealizadores - faltando, ainda, boas vias de apoio financeiro. De acordo com o site StartupBase, o Estado conta com apenas 38 empresas do tipo, somando 100 empreendedores.

Cerca de 90% desse tipo de negócio vai à falência por conta de muitas das ideias não saírem do projeto piloto devido à falta de financiamento FOTO: DIVULGAÇÃO

Conforme a diretora regional Nordeste da Associação Brasileira de Startups (ABStartups), Ludmilla Veloso, o Ceará ainda está "engatinhando" em projetos que impulsionem esse tipo de empreendimento. Por outro lado, ela afirma que o potencial é grande e que o interesse tem sido cada vez maior, com ecossistemas que estão sendo criados. Em relação à quantidade de statutps nos estados nordestinos, ela ressalta que não há informações precisas, uma vez que nem todas as empresas se cadastram em sites que divulgam os negócio.

"No Nordeste, apenas 5% são empreendedores digitais, enquanto que no Sudeste são 72%. Um dos polos principais da região é Pernambuco, onde existe uma participação grande do PIB (Produto Interno Bruto) do estado. O Porto Digital gerou receita de R$ 1 bilhão em 2014", afirma.

Alternativa

Para que esse tipo de negócio seja impulsionado, como no estado vizinho, ela afirma que é essencial aporte do governo, assim como o apoio da iniciativa privada tradicional.

Segundo Ludmilla, as startups no Brasil têm mortalidade de 90%, por conta de muitas das ideias não saírem do projeto piloto devido à falta de financiamento. "O que traz o desenvolvimento real é quando você identifica os arranjos produtivos locais, a vocação do estado. A startup traz o conceito de empresa que cresce rápido, porque você não tem gastos reais, não investe dinheiro, mas horas. É muito barato em termo de recurso", afirma.

Cenário local

Com o intuito de projetar um cenário mais propício para esse tipo de negócio, ocorreu, em novembro último, a Startup Weekend Fortaleza. "Foram apresentadas 40 ideias e 15 foram selecionadas. Foi uma coisa que nos surpreendeu, pois nosso mercado ainda é inexperiente. Conseguimos alcançar cerca de 100 inscrições nesta edição", afirma Lucas Cavalcante, um dos organizadores do evento, que ocorreu entre os dias 22 e 24 do mês passado.

Ele detalha que a principal dificuldade no Estado é se conseguir empresários que apostem em investimentos de risco.

"Na realidade, é um processo que está passando por um amadurecimento. Temos muitas barreiras para conseguir apoio do governo, investidores, além da popularização do termo", comenta. Lucas, que também é sócio-fundador da startup Fashion 85, afirma que a iniciativa privada local normalmente não enxerga as possibilidades desses empreendimentos. "Aqui no Ceara é possível, mas o trabalho é árduo para cativar o público. Algumas empresas acabam tentando editais da Funcap ou Finep, quando dá para encaixar", diz.

O objetivo para os próximos anos, segundo ele, é conseguir fechar, no Nordeste, uma agenda de eventos da área, de modo a partilhar conhecimentos entre empreendedores, integrar os estados e fortalecer o desenvolvimento desse tipo de negócio localmente.

"Para uma empresa ser um startup, é preciso um modelo específico. Ela deve ser capaz de entregar o mesmo produtos para diversas pessoas diferentes ao mesmo tempo", afirma.

Um exemplo, diz, é a Netflix, que proporciona que mais de uma pessoa assista ao mesmo filme ao mesmo tempo sem aumentar o custo deles. Outros exemplos de empresas que nasceram como startups são o Facebook e o Instagram. (GR)

Aplicativo agiliza serviço do garçom

Quem nunca passou mais tempo que o necessário para conseguir chamar o garçom até a mesa? Ou mesmo teve um pedido trocado por engano? Foi com o objetivo de proporcionar rapidez "na palma da mão", que o estudante cearense do quarto ano do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) Abraão Lemos, criou um aplicativo para dar mais agilidade ao atendimento em bares e restaurantes.

Membros da empresa cearense que criou um aplicativo para tornar mais rápido o atendimento em bares e restaurantes atendem mais de 20 clientes Foto: Kiko Silva

De acordo com ele, é possível encontrar no programa Urbbox o cardápio das empresas cadastradas e ainda poder completar o pedido com alguns toques, em aparelhos Iphone ou com sistema Android - isso sem precisar ficar minutos acenando ou dar aquele típico assovio para chamar atenção do garçom.

"Logo que consegui o modelo, com uma empresa que acreditou na ideia, moldei o produto dentro do cliente. Naquele momento, enxergamos uma grande dificuldade de atendimento ao turista", relata o criador do dispositivo, que trabalha em parceria com o colega Rubens Farias - também cearense e estudante do ITA.

A partir disso, surgiu a ideia de disponibilizar o cardápio em 22 línguas diferentes, evitando qualquer confusão aos estrangeiros. Na própria plataforma, é possível ver em outro idioma o nome e a descrição do prato.

Mercado

Mas todo bom empreendedor sabe que nem só de boas ideias vive um produto. Para que comece a dar resultado e gerar lucro, é preciso avaliar bem as necessidades do mercado. Foi a partir de várias tentativas, análise e "um insight" que Abraão começou a ter retorno de um projeto que teve início há cerca de dois anos. "Comecei com a ideia de delivery pela internet, mas já tinha 54 empresas que faziam a mesma coisa", comenta.

Segundo ele, a grande inovação do aplicativo foi trazer a solução para a mão do cliente. "Existiam modelos de tablets nas mesas e computadores, mas eles ocupam espaço, são caros e quebram, além de poderem ser roubados", compara.

Copa do Mundo

Além de manter os dois cearenses estudantes do ITA em São Paulo, o negócio tem uma sede com equipe em Fortaleza. Até junho de 2014, a meta é estar presente em todas as cidades-sede da Copa do Mundo.

"Estamos correndo para cumprir a nossa meta, captando pessoas em outros estados, para podermos expandir o produto", afirma o diretor financeiro do negócio, Stefano Chagas.

No início da empresa, houve duas rodadas de negócios, quando investidores paulistas apostaram na ideia. Porém, a parte deles foi "recomprada" e, hoje, apenas um "investidor anjo" de Fortaleza tem entrado com capital.

O proprietário do restaurante Chico do Caranguejo, Liano Lourenço, destaca que a ideia do aplicativo é muito interessante, já que pode agilizar o trabalho dos garçons. Porém, durante os três meses de uso do serviço, ele diz que ainda não são muitos os clientes adeptos do método. "Funciona mesmo, mas o pessoal ainda não se acostumou, até porque ainda não são muitos os locais que utilizam", diz. (GR)

Investidores-anjo criam grupo para novos negócios

Com o intuito de criar um espaço para desenvolver startups no Estado, os líderes do núcleo regional do Ceará da Anjos do Brasil estão captando investidores. Segundo o investidor-líder Leonardo Lacerda, deverão ser trabalhadas entre quatro e oito empresas, que terão todos os investidores como sócios por cota de participação. Ele detalha que já está fechada a participação de dois investidores e outros três estão em fase de negociação.

A perspectiva é captar mais cinco executivos para o projeto, que será iniciado na segunda quinzena de janeiro. A ideia será operacionalizada pela Anjos do Brasil, pelo Isen Group e pela Elephant Coworking, que cederá o espaço.

"Não será uma aceleradora, porque esse modelo é mais inchado, tem consultores, meta de prazo pequeno e o investimento próprio dela. A nossa ideia é desenvolver negócios e acredito que ainda não dá para ser uma aceleradora", afirma Leonardo. A ideia, ressalta, é utilizar o modelo "business to business", que busca soluções para empresas.

Ele explica que o investidor anjo é aquele que entra com aporte financeiro logo no início do projeto, quando se está com o protótipo.

"Ele entra para ajudar a empresa a crescer, traz conhecimento de mercado. Se eu sou um dono de hospital, eu não vou investir em startups com soluções para supermercado, porque eu não entendo nada, mas dentro da área de saúde, investindo em tecnologia para essa área. Conheço o mercado e conheço as pessoas dele", diz.

Custos

Desse modo, explica, os executivos que investem em startups que trazem soluções para o próprio setor em que atuam terão acesso mais rápido a elas.

"O problema é que as pessoas desconhecem o projeto e o tipo de investimento. Estamos tentando sensibilizar. Não precisa ser um milionário para ser um investidor". Conforme disse, o ideal é que um grupo de investidores apostem em mais de uma startup. Os valores podem variar entre R$ 20 mil e R$ 100 mil.

"O custo é super enxuto. Um investimento de R$ 30 mil banca, em muito casos, de quatro a seis meses de empresa. Às vezes, não precisa tudo isso. O dinheiro é para desenvolver o negócio e não para entrar no bolso dos caras", comenta. Uma das formas de conhecer um negócio melhor antes mesmo de entrar com aporte é fazer mentoria.

Assim, o executivo pode orientar e acompanhar o trabalho antes mesmo de entrar com dinheiro. "De acordo com a evolução, a empresa vai precisar de investimento e ele provavelmente vai aportando para não perder a oportunidade", afirma.

Segundo Leonardo, atualmente existem seis investidores-anjo no Ceará. A maior dificuldade em conseguir executivos cearenses dispostos a entrar com recursos em startups, afirma, ocorre por conta de uma cultura em se buscar investimentos nos moldes tradicionais.

"Se ele (o investidor) se empenhar em abrir as portas do mercado, reduz drasticamente esse risco. Uma empresa sem um anjo é uma e com um anjo é outra. O investidor que entende o mercado pode não saber se vai dar certo, mas tem conhecimento suficiente para saber quando não vai dar", enfatiza. (GR)





 

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