O desemprego seguiu em queda nos primeiros meses do ano. A taxa de desemprego nacional, capturada pela Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio (PNAD) do IBGE, recuou, em termos dessazonalizados, de 7,9% em dezembro de 2023 para 7,2% em abril (ante 8,1% em abril de 2023). No Nordeste, a taxa recuou de 11,6% no primeiro trimestre de 2023 para 10,9% no quarto trimestre, e 10,5% nos primeiros três meses de 2024. A redução mais intensa ocorreu no Rio Grande do Norte (2,3 pontos percentuais) e a mais tímida na Bahia (0,4 pontos percentuais).
O desemprego recuou em todas as regiões do país, e em quase todos os estados, com exceção de Rondônia e Santa Catarina, onde já era muito baixo. Se a direção da variação foi quase homogênea, há grande variedade quanto aos patamares da taxa de desemprego. As menores taxas, na pesquisa referente ao primeiro trimestre do ano, foram observadas no Mato Grosso e em Rondônia (ambos com 3,4%). Por outro lado, as taxas mais elevadas foram verificadas na Bahia (13,3%) e em Pernambuco (12,0%). As menores taxas de desemprego, na região Nordeste, foram observadas no Maranhão (7,7%) e no Ceará (8,5%).
Como a legislação trabalhista é a mesma em todo o país, e não existem diferenças linguísticas, seria razoável esperar uma discrepância menor na taxa de desemprego observada nos diversos estados. É verdade que Salvador e Porto Velho distam 3100 quilômetros, e a distância certamente atua contra a integração plena do mercado de trabalho. No entanto, mesmo quando se trata de estados vizinhos, por exemplo, no Nordeste, Pernambuco e Ceará, ou, no Sudeste, Rio de Janeiro e São Paulo, as diferenças são muito relevantes.
Um interessante trabalho acadêmico recente estuda o comportamento do mercado de trabalho em municipalidades brasileiras, e encontra evidências de que as cidades do Norte e Nordeste estariam de fato oferecendo menos oportunidades de ascensão para trabalhadores na base da pirâmide do que os municípios do Sul/Sudeste – Cities as Engines of Opportunities: Evidence from Brazil (NBER WP 32426) – o que poderia explicar também as persistentes diferenças entre as taxas de desemprego a nível estadual e regional.
Isto se deveria, aparentemente, a diferenças na estrutura econômica. Os municípios que oferecem maiores oportunidades de aprendizado e ganhos salariais para os trabalhadores geralmente contam com estruturas econômicas mais complexas e com uma menor participação do setor público no total do emprego. E existiriam mais municípios com essas características no Sul/Sudeste do que no Norte/Nordeste. O estudo não chega a oferecer prescrições de políticas públicas, mas pode-se inferir que iniciativas que favoreçam uma maior complexidade na estrutura econômica, associadas a um aumento da relevância relativa do setor privado, em detrimento do setor público, na geração de empregos tenderiam a criar ambientes mais favoráveis à força de trabalho local.
*Mário Mesquita é economista-chefe do Itaú Unibanco