Na Fiec, o Ceará explode de entusiasmo pelo Hidrogênio Verde

Estudo do IXL Center, com assistência de professores de Harvard e MIT, aponta para revolução na economia cearense em curto prazo. Mas será preciso qualificar, agora, a mão de obra para novos empregos de alta qualidade e altos salários

Legenda: Auditório da Fiec lotado, ontem, 25/06, para ver a apresentação dos estudos sobre a revolução que o H2v fará na economia do Ceará
Foto: Divulgação / Fiec

Um auditório superlotado de empresários e executivos de empresas privadas e públicas, com vários deles em pé, e muito entusiasmado a ponto de interromper os oradores com aplausos, ouviu ontem à tarde, na Fiec, o resumo dos estudos feitos pelo IXL Center, de Boston, sobre as “Oportunidades para o Ceará na Cadeia de Valor do Hidrogênio Verde.

A apresentação foi feita pelo CEO do IXL Center, Hitendra Patel, e pelos professores Donald Lessard, do MIT, e Gunther Glenk, da Universidade de Harvard.

Antes da apresentação, transmitindo ainda mais entusiasmo ao auditório, o presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Ricardo Cavalcante, por iniciativa de quem – com “o rápido e decidido apoio do governador Elmano de Freitas” – o estudo foi encomendado e realizado durante um ano, iniciou seu discurso incendiando as 500 pessoas presentes. Com outras palavras, ele disse:

“O Hidrogênio Verde vai revolucionar a face econômica e social do Ceará. Vamos ter, no curto prazo, uma grande demanda por empregos de alto nível, de altos salários, e teremos de qualificar a nossa mão de obra o mais rapidamente possível, e para isto o Senai e o Sesi já estão trabalhando.” Foi aplaudido.

Em seguida, Ricardo Cavalcante emocionou-se ao recordar que, em março de 2021, ainda na pandemia, começou a discutir sobre o tema do hidrogênio verde, recebendo em troca comentários do tipo “esse homem perdeu o juízo”.

Mas, à medida que o tempo passava e que novas informações vinham à tona sobre as pesquisas que a academia desenvolvia no mundo a respeito da viabilidade do H2V, mudava também a opinião da elite industrial e política do Ceará sobre as ideias do presidente da Fiec, que – sempre apoiado pelo governo do Estado e vice-versa – dobrava a aposta no projeto do Hub do Hidrogênio Verde do Pecém.

Na semana passada, o Senado Federal aprovou o texto base do marco regulatório do H2V, que será aprovado pelo plenário da casa nos próximos dias, devendo depois ser devolvido à apreciação da Câmara dos Deputados. Como haverá o recesso parlamentar e o período dedicado à campanha eleitoral deste ano, estima-se que até o próximo mês de dezembro o projeto de lei do marco regulatório do hidrogênio verde será transformado em Lei. 

“Aprovar as coisas no Brasil não é fácil”, disse o presidente da Fiec, acrescentando mais uma pitada de entusiasmo à plateia ao dizer com outras palavras:

“Quando as obras das indústrias de produção do H2V começarem no Pecém, a previsão é de que faltará mão de obra qualificada. Mas para evitar que isso aconteça, estamos mobilizados com o Senai e o Sesi, que estão de olho nas escolas públicas do Ceará, nas quais estudam alguns dos melhores alunos do Brasil. E o ITA vem aí para nos ajudar nesse esforço”, concluiu Ricardo Cavalcante, sob fortes aplausos.

Depois dele, discursou Luís Viga, CEO da gigante australiana Fortescue, que está com tudo pronto para começar as obras de construção de sua unidade industrial de produção do H2V na ZPE do Pecém, em cuja geografia se localizará o Hub do Hidrogênio Verde do Ceará.

Viga disse que “o Ceará é diferente, e isto foi reconhecido recentemente pelo presidente mundial de minha empresa, que testemunhou, pessoalmente, aqui em Fortaleza a união do Governo do Estado, da Fiec, das demais entidades empresariais, das universidades e da mídia em torno do projeto d H2V, algo que ele não vê no mundo”. 

Luís Viga – que é também presidente do Conselho da Associação da Indústria Brasileira do Hidrogênio Verde – também afirmou que nenhum outro país do mundo, nem a China nem os EUA, tem a fonte energética limpa e renovável como a do Brasil, onde há sol e vento em abundância. Mais aplausos.

O governador Elmano de Freitas – que interrompeu sua agenda de compromissos para estar presente ao evento na Fiec – cuidou de entusiasmar ainda mais o auditório, ao dizer o seguinte, usando outras palavras:

“Fiz questão de estar aqui na Fiec, pois é aqui que estão as pessoas que fazem e escrevem a história moderna do Ceará. E faço questão de destacar que tudo o que está acontecendo é produto do trabalho e da dedicação do presidente desta casa, Ricardo Cavalcante.” E aí, além de aplausos, houve gritinhos das e dos mais entusiasmados. 

O mestre de cerimônias, jornalista Mauro Costa, sócio e diretor da AD2M, anunciou a palavra de Hitendra Patel, que, antes de falar, ajudou a aplaudir o governador Elmano de Freitas, que, pedindo desculpas, teve de ausentar-se para cumprir o restante de sua agenda.

Patel, falando em inglês, apoiou-se em transparências com legendas em português. E, com o mesmo entusiasmo da plateia, com a qual brincou, arrancando risos, mostrou o que o Ceará ganhará com a chegada do hidrogênio verde. 

Com outras palavras, ele disse:

“Vocês têm sol e vento e já transformam essas dádivas do Céu em energias renováveis. Uma complementa a outra. Esses dois brindes da natureza darão o verde ao hidrogênio que se produzirá lá no Pecém. Os investimentos para a produção do hidrogênio verde atrairão outros, como os que se farão na indústria de fertilizantes, de cimento, de aço, de alumínio, de papel, da construção pesada, da construção civil, química etc.”

Os estudos feitos pelo IXL Center estenderam-se aos projetos do H2V que se desenvolvem em vários países, como Canadá, EUA, Chile, Austrália, Marrocos e Espanha, os quais foram comparados com o Hub do Pecém.

O caso cearense realmente entusiasma, uma vez que a produção do H2V no Pecém abrirá oportunidades, entre outras carreiras, para especialista técnico em operação; instalador de sistemas de eletrólise; mantenedor de sistemas de eletrólise; operador de logística de transporte de gases; especialista em sistemas de hidrogênio verde – que são profissões hoje ainda inexistentes.

Os estudos indicam que serão criados no Hub do H2V do Pecém de 10 mil a 12 mil empregos diretos, todos de alta qualificação técnica, com salários elevados.

Além disso, o H2V promoverá – indicam os estudos do IXL Center – uma revolução tecnológica e de inovação, criando áreas de pesquisas e start-ups.

No Ceará, as universidades terão um papel muito importante no desenvolvimento tecnológico do Hub do H2v, para o que já estão convocadas a UFC, a Uece, a Unifor, o IFCE e o ITA.

Os estudos mostraram ainda que a expansão da indústria do H2V demandará no Ceará mais moradia e serviços, gerando oportunidade para vários setores.

Na área dos Serviços Públicos, por exemplo, haverá oportunidades na gestão de água e esgoto, nas empresas de eletricidade e energia, na gestão de resíduos e reciclagem, nas empresas de consultoria ambiental e nos serviços de segurança e vigilância.

Na área de Tecnologia e Inovação: suporte de TI e serviços gerenciados, empresas de desenvolvimento de software, centros de dados, startups e incubadoras, laboratórios de pesquisa e desenvolvimento.

Hitendra Patel exibiu um slide que levantou suspiros do auditório. Ele mostrou os investimentos que farão as primeiras empresas já habilitadas a construir suas unidades industriais de produção do H2V no Pecém. As empresas e seus investimentos são os seguintes:

Fortescue, da Austrália, que consumirá 2,1 GW de energia renovável e investirá US$ 6 bilhões;

Casa dos Ventos, brasileira, cujo consumo de energia renovável será de 2,4 GW e investirá US$ 7 bilhões;

Qair, da França, que consumirá 2,2 GW de energia renovável e investirá US$ 7 bilhões; 

Voltália, da França, que consumirá 1 GW de energia renovável e fará investimento de US$ 3 bilhões;

AES Brasil, norte-americana, que também consumirá 1 GW de energia renovável e investirá US$ 2 bilhões;
Cactus, brasileira do Ceará, que consumirá 1,1 GW e investirá U$ 2 bilhões;

FVR, da Espanha, cujo consumo de energia renovável será de 2 GW e fará investimento de US$ 5 bilhões.

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