Entenda por que o PIB do Ceará foi o dobro do brasileiro no primeiro trimestre

Resultado foi o maior entre os estados no Nordeste que realizam o cálculo

Escrito por Paloma Vargas , paloma.vargas@svm.com.br
Indústria têxtil
Legenda: O setor da indústria apresentou 10,84% de crescimento na comparação com igual período do ano passado
Foto: Saulo Roberto

O Produto Interno Bruto (PIB) do Ceará registrou crescimento de 5,26% no primeiro trimestre de 2024 em comparação ao primeiro trimestre de 2023. O resultado estadual é mais que o dobro do registrado no Brasil, de 2,5%, na mesma comparação.

Nos primeiros três meses deste ano, quando comparado ao quarto trimestre de 2023, o PIB estadual apresentou elevação de 2,7%, também superior ao PIB brasileiro no mesmo período, que atingiu 0,8%. Já o PIB cearense acumulado nos últimos quatro trimestres foi de 3,31% contra 2,5% do nacional.

O crescimento da economia do Ceará foi o maior do Nordeste no período, superando os PIBs da Bahia e Pernambuco de 2,9% e 1,8%, respectivamente. Os dados foram apresentados pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), na tarde deste terça-feira, 25. 

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Segundo o analista de políticas públicas do Ipece e coordenador do estudo, Nicolino Trompieri Neto, o resultado positivo "cria um carregamento positivo para os próximos trimestres, a ponto da gente aumentar a expectativa da previsão para 3,16%, um aumento considerável de quase um ponto percentual, com relação a março, quando divulgamos o fechamento de 2023".  

Sobre um resultado mais positivo do que o do Brasil, Nicolino pondera que a economia cearense tem características que diferem das do País, mas lembra que o resultado positivo aqui tem relação com o nacional e que ele também faz com que "aproveitemos a onda" de confiança do consumidor na economia brasileira e a redução da taxa de juros, o que tem repercutido positivamente no mercado. 

O coordenador comenta que o setor de serviços no Ceará é mais representativo do que no Brasil, sendo cerca de 73% da economia local, tendo a sua economia muito voltada para o consumo e também para o turismo, que nos últimos trimestres vêm ajudando a alavancar o setor de serviços.

Além disso, a agropecuária brasileira é mais voltada para as commodities, sofrendo com os efeitos da safra da soja e as intempéries que atingiram o Rio Grande do Sul. "E aí o Ceará foi diferente, com boas chuvas, que não afetaram a produção".

Sobre o setor industrial, o Brasil tem um viés extrativista, muito voltado para o minério de ferro. "Já o Ceará está experimentando a retomada da indústria e no setor de transformação", disse, lembrando que o estado não possui as mesmas características industriais do país.

"O Brasil já vinha experimentando essas retomadas no agro, na indústria e isso explica um pouco os motivos de estarmos com um crescimento mais intenso do que o Brasil".     

Previsão positiva para o ano cresce

A previsão do PIB do Ceará para 2024 é de um crescimento de 3,16%, resultado acima da estimativa do nacional, que é de 2,08%. A primeira perspectiva para o PIB cearense, ainda em dezembro de 2023, era de 1,91%, passando para 2,31% em março e agora fechando em 3,16%.

Em todas as estimativas, os índices esperados também superaram o nacional, de 1,50%; 1,78% e, finalmente, de 2,08%. Os números da economia do Ceará do primeiro trimestre de 2024 foram divulgados, na tarde de hoje, pelo Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), órgão vinculado à Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag) do Governo do Estado do Ceará.

Indústria é o grande destaque do período

O setor da indústria apresentou algo incomum que foi o crescimento de dois dígitos. Conforme o especialista do Ipece no setor, Witalo Paiva, a indústria da transformação se destacou para que se tivesse esse resultado, com 10,84% de crescimento na comparação com igual período do ano passado.

Ele explica que o fechamento de uma grande indústria do ramo de confecção em 2023 teve impacto durante todo o ano passado e a recuperação só começou a aparecer no último trimestre de 2023, ficando evidente agora, no primeiro trimestre de 2024.
 
Além disso, Paiva destaca outros dois fatores para esse bom resultado. Um deles é a volta do crescimento da indústria de calçados - a que mais emprega atualmente no estado - e o outro é o resultado da injeção de recursos por parte dos governos estadual e federal, por meio de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família e o Ceará sem Fome, melhorando a renda para as famílias.

Esse fator, inicialmente, afeta o comércio e o serviços, mas logo depois vem para a indústria, já que o comércio vendendo mais ele passa a encomendar da indústria e esse efeito ficou mais claro agora"
Witalo Paiva
Especialista do setor industrial no Ipece

O especialista ainda pondera que os setores de construção civil e de eletricidade, gás e água se mantiveram crescendo, apresentando índices 10,81% e 18,76%, respectivamente. "Dois setores importantes no estado continuam crescendo e colaborando para termos esse crescimento total da indústria de dois dígitos, o que tinha ocorrido a última vez em 2013".

Serviços mantém crescimento e segura índice para cima

O setor de serviços é responsável por 3/4 da economia do estado e, em diversos trimestres, foi ele quem segurou o crescimento do produto interno bruto. Porém, desta vez ele ficou em segundo lugar, representando um crescimento de 3,87%, quando se compara ao igual período do ano anterior.

"O setor de serviço é sistêmico e todas as atividades monitoradas registraram crescimento bastante expressivos. Das seis atividades monitoradas pelo Ipece (comércio, alojamento e alimentação, transportes, intermediação financeira, administração pública e outros serviços), quatro registraram crescimento acima de 5%", comentou o especialista no setor, Alexsandre Lira.

Dentro do setor do comércio, o destaque foi para o varejo, com um crescimento de 6,4%. "Das 14 atividades monitoradas pela PMC (Pesquisa Mensal de Comércio) do IBGE, 11 registraram alta, com destaque para vendas de produtos farmacêuticos, venda de produtos pessoais e domésticos, construção civil, venda de veículos e venda de alimentos. Assim, estamos vivendo um bom momento da economia cearense. Se o varejo vai bem, isso de certa forma vai impactar diretamente na indústria que vai ter mais motivo para aumentar a sua produção".

Agropecuária volta a crescer

A agropecuária apresentou um crescimento de 2,07% no primeiro trimestre de 2024, diferentemente do cenário do Brasil, em que o setor teve queda de 3,0%. Desde o primeiro trimestre de 2023, esta foi a primeira vez que o agro apresentou números positivos. Porém, no acumulado dos últimos quatro trimestres o setor ainda apresenta índice negativo de crescimento (-7,13%).

Segundo a especialista no setor do Ipece, Cristina Lima, as boas chuvas foram responsáveis por essa mudança de cenário no setor. "Tínhamos expectativas de chuva abaixo da média, mas ao longo dos meses primeiros meses se viu que o cenário climático foi outro e isso favoreceu o crescimento". 

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Essa incerteza do clima, segundo ela, ainda fez com que o plantio fosse tardio. Por isso, a colheita de grãos deve apresentar maior peso nos resultados dos segundo e terceiro trimestres.
 
A produção de feijão teve destaque, apresentando crescimento de 78% para 2024, comparado com 2023. Além disso, a fava e o milho também registram crescimento, assim como a banana, com resultado positivo de 5,37%. O leite, que tem peso importante no setor, fechou o primeiro trimestre com alta de 4,35%.

Outro ponto destacado por Cristina é o aumento do rebanho de galináceos, com crescimento de 5,32%. "Isso faz com que tenhamos também uma indústria em crescimento neste ramo, no estado, fazendo frente na venda de produtos para o consumidor para grandes marcas nacionais e, inclusive, iniciando o envio de produção para outros estados brasileiros".

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