PIB deve crescer apenas 1% ao ano

Segundo especialistas, com esta média, País levaria cem anos para dobrar a renda da população

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Redação producaodiario@svm.com.br
Legenda: Para Henrique Marinho, a elevada inflação, que obriga o Banco Central a manter a taxa Selic alta para controlá-la é um obstáculo para que o governo implemente medidas para a retomada do crescimento da economia
Foto: Foto: Reuters

Mantidas as atuais condições de políticas econômica, monetária, fiscal e do difícil cenário político, especialistas não enxergam uma melhora significativa da economia brasileira a curto ou médio prazo. Apesar da tendência de retorno do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2017, a avaliação do mercado é a de que ele não será suficiente para garantir um bom desempenho da economia nestes quatro anos.

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Enquanto o governo projeta o retorno do crescimento do PIB já em 2016, o mercado, mais pessimista, prevê uma recessão para este ano de -2,26% e de -0,4% em 2016. Conforme aponta o economista Henrique Marinho, a economia brasileira só viria a crescer em 2017 com 1,5% e 2,0% nos dois anos seguintes.

"A grande dificuldade será poder crescer com a inflação controlada dentro da meta para esse período, que é de 4,5% ao ano até 2017", considera.

Na avaliação do economista Ricardo Eleutério, a média anual de crescimento do PIB do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, caso haja crescimento de cerca de 2% em 2017 e 2018, deverá ser da ordem de 1%. "É um desempenho muito ruim, sofrível. Nesse ritmo, levaria um século para dobrar o PIB per capita do País", afirma. Eleutério relembra que, nas décadas de 1980 e 1990, a média anual de crescimento do País era de cerca de 2,5%. De 2003 a 2008, durante a gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a média subiu para 4,1%, caindo no primeiro mandato da presidente Dilma para 2,1%.

"Essa queda da taxa de crescimento anual para 1% representa um estado de estagnação econômica", aponta.

Obstáculos

Nesse ritmo, o economista aponta que o País enfrentaria dificuldades para expandir o emprego e a reduzir a pobreza. "Não só fica difícil fazer uma distribuição da riqueza, como reduz nossa capacidade de competir melhor no exterior, de nos tornarmos protagonistas da economia mundial. Compromete a atração de investimentos estrangeiros, a realização de investimentos em saúde, educação. É um futuro comprometido", afirma.

A previsão do mercado é a de que o ajuste fiscal promovido pelo governo deva ser "longo e penoso", principalmente por conta do embate político entre os poderes Executivo e Legislativo. "Enquanto essa crise (política) não encontrar uma saída de governabilidade, a economia brasileira continuará nesse ritmo de dificuldades em crescer com sustentabilidade", alerta o economista Henrique Marinho. Além disso, ele aponta que as tentativas do governo em implementar medidas para fazer com que a economia brasileira retome o crescimento esbarra em dois grandes obstáculos. Um deles é a elevada inflação, que força o Banco Central a manter a taxa Selic elevada para controlá-la.

"Isso ocasiona uma redução drástica da demanda agregada, o que tem levado a atividade econômica à recessão".

O outro obstáculo apontado pelo economista é a necessidade de reequilibrar as contas públicas, elevando impostos e reduzindo despesas, o que também exerce um impacto recessivo sobre a economia.

Levando em conta que boa parte das medidas fiscais ainda não obtiveram resultados e que o orçamento de 2016 foi encaminhado ao Congresso Nacional com déficit de R$ 30,5 bilhões, Marinho avalia que o cenário dificulta ainda mais a correção, que deverá levar mais tempo para dar resultado.

Ajuste

Na visão Eleutério, o ajuste fiscal proposto está se transformando em uma "tragédia fiscal". Isso porque o plano se fundamenta em ampliar a carga tributária sem reduzir suficientemente as despesas. Além disso, projeções de déficit público neste ano, com atrofia entre 2,5% a 3% da economia, e novamente no próximo ano, ainda que menor, complicam a conjuntura. Para reverter esse cenário, ele avalia ser necessário encontrar um "ponto de inflexão" para mudança do comportamento da economia e da política. "É preciso encontrar um outro caminho, um outro ajuste, o que é difícil", aponta. "O futuro contém o passado e o presente, e há muitos desarranjos econômicos que ficam se perpetuando e se projetando para décadas futuras". (YP)

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