O que pode mudar no Pão de Açúcar a partir de acordo com bilionário tcheco? Entenda

Reavaliação do resultado das lojas e até volta para o segmento de atacarejo são possibilidades para o grupo

Escrito por Redação ,
Legenda: Em 2021, Grupo Pão de Açúcar já havia passado por reestruturação
Foto: Kid Junior

Após encerrar 2022 com um prejuízo de R$ 240 milhões e uma dívida da ordem de R$ 30 bilhões, o dono do Grupo Pão de Açúcar (GPA) no Brasil, Casino Guichard Perrachon, fechou acordo de reestruturação que passará o controle da companhia do atual CEO Jean-Charles Naouri para um grupo de investidores liderados pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky.

A operação foi anunciada por fato relevante publicado no dia 28 de julho. O texto informa que "o Casino divulgou na França que, no âmbito de sua reestruturação de dívidas, entrou em um acordo preliminar com a EP Global Commerce a.s., Fimalac e Attestor (coletivamente, o “Consórcio”), com a participação, ainda, de alguns de seus credores financeiros, para fortalecer a estrutura de caixa do Grupo Casino e reestruturação de suas dívidas financeiras".

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O bilionário Daniel Kretinsky é o líder do consórcio formado EP Global Commerce, Fimalac, Attestor e alguns credores, entre os quais bancos franceses, que deve assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar.

A fortuna do tcheco é fruto de um império no segmento de combustíveis fósseis construído enquanto empresas europeias já buscavam descarbonizar a operação. O patrimônio do empresário é avaliado em US$ 17 bilhões.

Reavaliação de lojas

O conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), Ricardo Coimbra, acredita que o novo controlador irá realizar uma minuciosa análise das operações do grupo no Brasil para definir o futuro das mesmas.

Segundo o economista, tendo em vista o superendividamento da companhia, algumas unidades que não tiverem resultados expressivos podem ser fechadas e vendidas para concorrentes.

"O Grupo deve repensar as unidades produtivas buscando a maior eficiência e potencializando aquelas que possam ter maior ganho e, talvez, se desfazendo de algumas que tenham menor retorno", pontua Coimbra.

O consultor e professor da Faculdade CDL, Christian Avesque, reforça que os novos controladores devem reavaliar os ativos do grupo e vender as lojas que não estiverem gerando o lucro desejado, uma vez que o foco deve ser aumentar o caixa para diminuir o nível de endividamento da companhia.

Em 2022, o Grupo Pão de Açúcar já havia fechado duas unidades em Fortaleza com a justificativa de que as lojas não estavam mais alcançando resultados esperados. Em compensação, duas unidades foram abertas a partir da conversão de antigas lojas Extra.

Acredito que também possa ter uma mudança de perfil nas lojas Pão de Açúcar, entrando em um modelo parecido com a rede alemã Lidl ou com a franco-portuguesa Auchn, que são supermercados de abastecimentos menores, sem muito serviços, em que consumidor vai comprar com autoatendimento. Aqui no Brasil, já temos o próprio Minuto Pão, o Carrefour Express, o Oxxo".
Christian Avesque
Consultor e professor da Faculdade CDL

Avesque acrescenta que algumas lojas em bairros nobres e em regiões de poder aquisitivo maior devem permanecer com a bandeira tradicional do Pão de Açúcar, com produtos exclusivos e importados, mas que a maioria pode ser convertida para Minuto Pão.

"O Casino está muito disposto a fazer dinheiro rápido para que possa diminuir o endividamento e fazer reinvestimentos, mostrando para o mercado que é capaz de rever prejuízos. Eles devem fazer grande investimento no eixo Norte e Nordeste, porque no Sul e Sudeste o GPA já está muito bem colocado, sedimentado, com o Minuto Pão", argumenta.

Volta ao atacarejo

Questionado se as redes de atacarejo podem ser possíveis compradores e beneficiados pela venda e fechamento dessas lojas de baixo desempenho, Coimbra admitiu que é uma possibilidade, uma vez que o segmento tem se fortalecido nos últimos anos.

Outra possibilidade apontada por ele é a entrada do próprio Grupo Pão de Açúcar no setor de atacarejo, já que a bandeira da companhia que atuava no ramo, o Assaí, foi desmembrado em 2021, já em uma tentativa de melhorar os resultados da empresa.

O GPA também descontinuou a bandeira Extra e vendeu diversos pontos de venda, que ainda não foi suficiente para obter a melhora esperada.

"O Grupo Pão de Açúcar ficou com as unidades de varejo. Então, pode ser um direcionamento do grupo ter suas próprias lojas de atacado, exatamente por esse crescimento do segmento. Existe essa potencialidade, mas vai depender muito da visualização do novo controlador em relação a isso", pontua.

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