Novo corte na Selic deve incentivar alta do dólar, avalia economista

Efeitos esperados pelo Banco Central não devem acontecer devido às pressões que as economias mundial e brasileira sofrem por conta da crise deflagrada pela pandemia do novo coronavírus

Escrito por Redação ,
Legenda: Um dos efeitos esperados é uma nova baixa nos juros para financiamento de imóveis nos bancos públicos e privados
Foto: FOTO: REINALDO JORGE

A nova queda histórica na Selic, que levou a taxa básica de juros a 3,75%, deve incentivar o dólar a chegar ainda mais alto ao País, segundo análise do economista Ricardo Eleutério. A medida já era esperada e foi adotada pelo Conselho de Política Monetária (Copom) como tentativa de conter a crise do novo coronavírus. Segundo o especialista, a decisão deve incentivar o consumo e desacelerar a queda na economia.

"Espera-se que a queda da taxa básica de juros seja repassada para as taxas finais, que vão financiar a compra de carros, de geladeiras, taxas de financiamento de consumo". O corte também deve refletir nos investimentos e no setor produtivo. "A redução atinge os juros que vão financiar a compra de imóveis, o investimento dos empresários e o capital de giro das empresas", completa Eleutério.

Com o índice 0,5 ponto mais baixo, a bolsa de valores deveria receber mais investidores, já que os títulos atrelados à taxa de juros sofrem queda em seus rendimentos. Mas, de acordo com Eleutério, essa não deve ser a consequência. "Não deve haver uma migração agora de investidores porque a bolsa está derretendo feito gelo no deserto. Assim, o dólar vai continuar subindo".

Na primeira reunião do ano, o Copom reduziu em 0,25 ponto percentual, levando a taxa de 4,50% para 4,25%.

Postura conservadora

Na análise de Eleutério, "o BC foi um pouco mais conservador, não se antecipou, como fez o Fed (Federal Reserve, banco central americano), que por duas vezes tomou medidas antes da data em que estavam marcadas as reuniões". "Aqui, foi respeitado o calendário do Copom e divulgada a decisão na segunda das oito reuniões do ano, uma a cada 45 dias", explica.

Apesar de considerar que a medida segue o direção certa, ele pondera: "Nada garante que o corte da taxa de juros vá produzir os efeitos positivos que se espera. A bolsa é um reflexo financeiro da realidade da economia. Quando o risco está muito elevado no País e no mundo, a bolsa cai e o dólar sobe, sendo que nós tivemos problema mais agudo com o coronavírus".

Pressões

Ao longo da semana, a autoridade monetária sofreu forte pressão para intensificar a queda da Selic. Depois que o Fed anunciou corte na taxa de juros norte-americana em reunião extraordinária, que ficou entre de 0% e 0,25%, aumentaram as expectativas para que o comitê intensificasse o corte. Para a Confederação Nacional da Indústria, o momento atual exige um afrouxamento monetário mais agressivo. A entidade avaliou como uma decisão no "sentido correto", mas criticou o tamanho do corte, que deveria ser maior.

Em nota de divulgação da Selic, o BC afirmou: "O Copom entende que a atual conjuntura prescreve cautela na condução da política monetária, e neste momento vê como adequada a manutenção da taxa Selic em seu novo patamar. No entanto, o comitê reconhece que se elevou a variância do seu balanço de riscos e novas informações sobre a conjuntura econômica serão essenciais para definir seus próximos passos".

Copom operou uma nova baixa histórica da taxa básica de juros, mas que, na avaliação de economista, não deve surtir os efeitos esperados. Na verdade, deve levar mais valorização ao dólar e baixa na Bolsa.

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