Medidas da China contra coronavírus podem atrasar exportação e investimento

Seis províncias da China decidiram suspender atividades não essenciais até 10 de fevereiro, estendendo o feriado. Entre elas estão Jiangsu e Guangdong, polos de fabricação de eletrônicos que ocupam posições centrais nas cadeias mundiais de suprimento

Escrito por Folhapress ,
Exportação
Legenda: Programa vai estimular exportação em empresas que ainda não possuem negócios fora do Brasil
Foto: Kid Júnior

As medidas que o governo chinês tem tomado para conter o surto de coronavírus podem acarretar atrasos na entrega de exportações para o Brasil e maior demora para decisões de investimento.

Segundo o presidente da Associação de Importadores de Máquinas equipamentos Industriais (Abimei), Ennio Crispini, a decisão de Pequim de ampliar o recesso do Ano-Novo chinês afeta a produção do país e, por consequência, as exportações.

"A maioria das empresas começou esse recesso na terça-feira passada (21) e voltaria no dia 3 de fevereiro, mas a algumas fábricas o governo pediu que não retomem a produção e que funcionários fiquem em casa", afirmou .

Seis províncias da China decidiram suspender atividades não essenciais até 10 de fevereiro, estendendo o feriado. Entre elas estão Jiangsu e Guangdong, polos de fabricação de eletrônicos que ocupam posições centrais nas cadeias mundiais de suprimento. Segundo Crispini, a suspensão de linhas de produção tem gerado apreensão entre empresários brasileiros. 

"Haverá algum impacto nos prazos de entrega. Algumas empresas grandes (no Brasil) estão pedindo aos fornecedores que avisem com antecedência se houver problemas motivados por essa situação", disse Crispini.

"É uma situação delicada, mas o governo chinês tem sido rápido nas reações. A gente está bastante convicto da capacidade deles de tomarem as medidas necessárias (para minimizar a contaminação de pessoas), mas há um impacto econômico."

A China é um grande exportador de máquinas operatrizes (usada para fabricação de peças de materiais como plásticos, madeira e metal), aparelhos de corte a laser e de construção, de acordo com Crispini.

"As maiores regiões produtoras têm grande concentração populacional e medidas restritivas. Isso afeta negócios, mas é precipitado saber a extensão que isso vai trazer para a economia. Há recomendação expressa que não se deve visitar a China a menos que seja estritamente necessário".

Para o advogado sino-brasileiro Reinaldo Rema, sócio da área de investimento estrangeiro do escritório TozziniFreire, o recesso chinês deve se prolongar por semanas.

"Isso vai ter um impacto, por exemplo, na negociação de contratos e no fluxo de executivos vindos da China para o Brasil e vice-versa", afirmou.

Com isso, segundo ele, as decisões de grandes investimentos devem ser postergadas em alguns meses. O advogado, que tinha uma viagem programada para a China em 15 de fevereiro, já suspendeu temporariamente sua ida para o país.

"Eu iria para divulgar projetos brasileiros, mas isso será postergado por pelo menos um mês. A partir de agora, as temperaturas na China começam a subir, o que torna as expectativas [de controle do vírus melhores para os próximos meses".

Para Humberto Barbato, presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abineee), a disseminação rápida do vírus na China pode gerar efeitos colaterais em outras economias, especialmente as emergentes.

"Vemos com preocupação o que isso pode gerar em termos de movimento de mercado. Não temos segurança de que o comportamento do mercado de ações permita que se continue investimento efetivo no Brasil. É um risco que não estava no nosso radar", diz o executivo.

[citacao tipo="aspas" ]"Uma queda no preço das ações seria natural por aqui porque o capital é muito volátil", afirma Barbato.[/citacao]

Por outro lado, o presidente da Abinee diz que uma redução no ritmo de crescimento ou mesmo retração da demanda doméstica chinesa por eletroeletrônicos pode afetar o preço de componentes usados na fabricação de produtos, o que poderia beneficiar a indústria eletroeletrônica no Brasil.

"A China é o maior fabricante e fornecedor de componentes para o setor no mundo e os preços de componentes podem cair. Nós, que somos fortes demandantes desses componentes, poderíamos ter melhoria em termos de preço, mas é difícil fazer previsões".

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