Indústria têxtil se posiciona contra abertura unilateral no País
Possibilidade de corte unilateral nas tarifas de importação por parte da equipe econômica de Jair Bolsonaro (PSL), caso seja eleito, tem desagradado o setor
O candidato à presidência Jair Bolsonaro (PSL) caiu nas graças do mercado financeiro ao defender um distanciamento maior entre economia e estado, mas parece não estar agradando a indústria brasileira. Em alerta com a possibilidade de um corte unilateral nas tarifas de importação, representantes do setor se opõem à ideia de um ambiente mais favorável à importação.
Para a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), "a visão não encontra amparo em nenhuma grande nação do mundo". "Nós estamos muito tranquilos para falar sobre o tema e nos posicionamos contrariamente a essa visão, que inclusive não encontra amparo em nenhuma grande nação do mundo que tenha relevância no cenário econômico ou no comércio internacional", destacou o presidente da entidade, Fernando Valente Pimentel.
Pimentel disse ainda que as ventilações sobre um acordo unilateral prejudicam o Brasil em um momento de negociação com outros países. "Nós temos clara identidade com uma maior integração do Brasil ao mundo e participamos ativamente das diversas negociações internacionais em que Brasil tá envolvido, maioria com Mercosul e União Europeia. Entendemos que é a forma adequada e correta de o Brasil se inserir nas relações internacionais de comércio e investimento. Como é que no meio dessas negociações alguém fala em abertura unilateral? Evidentemente, você enfraquece a posição dos negociadores", disse Pimentel.
Ele critica a visão de que a indústria brasileira é uma espécie de mal necessário e destaca que o setor "ainda tem relevância no mundo, apesar de ter perdido posições". "O setor de confecção do País ainda é um dos cinco maiores do planeta. Nós temos um ambiente de negócios extremamente complicado e hostil em termos de tributos, logística e segurança, custo de energia".
Para Pimentel, o Brasil tem, de fato, que se integrar com o resto do mundo e ter uma agenda de competitividade com prazos e metas. "Vamos nos integrar ao mundo, queremos, é necessário, mas isso tem que ser feito de forma inteligente, estruturada e organizada". Outros segmentos como o da indústria de máquinas e equipamentos também já se mostraram contrários à ideia de abertura comercial unilateral.
"Há uma visível identidade dessas outras associações de rechaçar essa visão da abertura unilateral sem explicitar claramente qual é a agenda de competitividade que vai ser implementada, porque baixar tarifa, o sujeito em uma canetada ele baixa, mas reduzir impostos e etc. passa por uma negociação no Congresso", disse, acrescentando que a indústria não pode aceitar "essa visão equivocada de que a indústria não é competitiva".
Números no País
O setor da indústria têxtil emprega 1,5 milhão de pessoas e está entre os cinco maiores produtores do planeta. A atividade está presente em três mil municípios brasileiros e uma receita de cerca de R$ 150 bilhões, excluindo impostos.