Térmicas e eólicas puxam PIB; perspectiva é que economia cearense cresça 1,25% em 2022

Ipece avalia que o Ceará possui ativos diferenciados que devem levar o Estado a avançar acima da média nacional, mas fatores como inflação e juros altos ainda devem incomodar

Escrito por Ingrid Coelho ,
Legenda: Atividade de térmicas decorrente da crise energética ajudou a impulsionar o PIB estadual no terceiro trimestre deste ano, de acordo com o Ipece
Foto: Antônio Azevedo

Após crescer 4,78% no terceiro trimestre sob influência da atividade das térmicas e eólicas na indústria e da retomada no setor de serviços, o Ceará deve encerrar o ano de 2021 com um Produto Interno Bruto (PIB) de 6,24%, de acordo com estimativa do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).

Para o ano de 2022, a previsão é de um PIB anual de 1,25% - acima da média esperada para o Brasil, de 0,5%.

O detalhamento da atividade econômica do Estado no terceiro trimestre e a previsão para o PIB cearense no ano que vem foram divulgados na tarde desta quinta-feira (16) pela instituição.

De acordo com o analista de Políticas Públicas do Ipece, Nicolino Trompieri Neto, a previsão para 2022 considera “os efeitos que vêm sendo causados pelos choques inflacionários”, como o aumento da taxa de juros. “Isso vai comprometer o comportamento de consumo das famílias para os próximos anos”, projeta o economista.

O também analista Witalo Paiva corrobora a perspectiva e destaca que o Ceará deve avançar um pouco acima da média nacional, de 0,5% prevista segundo os números do Boletim Focus, porque possui “ativos diferentes”.

“Para 2022, a gente percebe uma série de fatores de risco, como a inflação que ainda deve incomodar um pouco e o ano eleitoral, provocando incerteza política no cenário nacional, tanto que as previsões que vemos para o Brasil indicam um crescimento muito leve”
Witalo Paiva
Analista do Ipece

Os economistas também explicaram o que levou o PIB do terceiro trimestre no Ceará a apresentar o crescimento de 4,78% na comparação com igual período de 2020, resultado também acima da média nacional, de 4%, conforme destacou o governador Camilo Santana (PT) em live realizada na última quarta-feira (15) nas redes sociais.

Indústria impulsionada por térmicas e eólicas

Os principais setores responsáveis pelo resultado positivo foram a indústria e os serviços. Na indústria, a alta de 8,45% na comparação interanual foi influenciada pela atividade energética, já que se trata de um período de intenso funcionamento das usinas térmicas diante da maior crise hídrica já vivenciada pelo Brasil nos últimos 91 anos.

Além disso, Witalo Paiva destacou que houve participação da atividade em parques eólicos. “A principal atividade que explica o crescimento da indústria é a de eletricidade, gás e água, especialmente quando eu falo de geração de energia”, diz.

“A geração térmica cresceu cinco vezes mais, isso é efeito da crise energética, e o Ceará possui termelétricas que estão a todo vapor, então vem ganhando espaço pelas termelétricas e também pelos parques eólicos”.

Witalo também destacou a contribuição da construção civil para o avanço da indústria no período. “A construção civil possui um ciclo mais longo e os estímulos do segundo semestre do ano passado continuam ativos. Esse cenário de inflação e de taxas de juros elevados ainda não afetam a construção civil nesse momento”.

Serviços com destaque para transportes

Com a retomada das atividades econômicas após um arrefecimento da pandemia no Estado, o setor de serviços apresentou crescimento de 5,33% no terceiro trimestre deste ano em comparação ao terceiro trimestre de 2020. O analista do Ipece Alexsandre Lira avalia que a recuperação era esperada.

“O transporte foi o que mais cresceu, puxado pelo setor aéreo, que avançou mais de 160% no terceiro trimestre ante igual período de 2020. Além disso, a gente destaca o movimento de cargas e as atividades dos correios. Isso chamou bastante a nossa atenção no período, as pessoas usaram muito a atividade virtual e isso movimentou muito os correios”, frisa Lira.

Ele também destaca a contribuição dos serviços na área médica, com a retomada de cirurgias e outros atendimentos fora do espectro da pandemia e dos serviços voltados às famílias, como reparos.

“As pessoas continuaram a consertar aquilo que era velho, como a máquina de lavar, a TV e o celular. Além dos serviços de manutenção, as pessoas passaram a usar mais serviços de manicure, cabeleireiro, corte e costura e os ligados ao esporte e lazer. As pessoas estão voltando ao normal e isso gera mais emprego”, reforça.

Chuvas e o setor agro

Enquanto indústria e serviços apresentaram resultado positivo no terceiro trimestre deste ano, o PIB agropecuário despencou 9,07% no período em decorrência das chuvas abaixo do esperado. A assessora técnica do Ipece, Cristina Lima, pontua que o principal destaque negativo ficou por conta da produção de grãos.

“Na comparação com igual trimestre do ano anterior, nós tivemos queda nos principais produtos de grão, como o milho, com retração de 34%, e o feijão, com queda de 10%”, diz Cristina, destacando a importância dessas culturas na composição do PIB agro.

Também era esperado um crescimento entre as frutas irrigadas, o que não ocorreu, de acordo com a assessora técnica. “Havia uma perspectiva de crescimento nas frutas irrigadas, mas por decisão dos empresários do setor essas culturas foram mais amenas, com redução na área de produção e fatores climáticos também afetaram”, explica.

A atividade pecuária, porém, ajudou a amortecer o impacto das frutas e grãos na economia do setor agro. “O cenário ainda é favorável para a produção de aves e ovos, tendo em vista a queda de renda das famílias e alta da carne bovina. Com isso, a demanda interna para carne de frango e ovos aumentou e a produção responde de imediato, por ser rápido”, arremata.

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