Entenda por que os preços dos transportes por aplicativo inflacionaram em Fortaleza

Alta nos preços dos combustíveis contribuiu para que corridas na Capital ficassem cada vez mais caras

Escrito por Ingrid Coelho ,
Legenda: De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação no transporte por aplicativo em Fortaleza chegou a 13,5% em setembro deste ano.

A retomada cada vez mais firme das atividades presenciais trouxe de volta a necessidade de muitos trabalhadores circularem por Fortaleza.

O problema é que, para quem usa o transporte por aplicativo como meio de locomoção, o custo ficou mais elevado no último mês.

De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação no transporte por aplicativo em Fortaleza chegou a 13,5% em setembro deste ano.

Apesar de acumular queda de 6,4% em 2021, a taxa subiu 15,5% em 12 meses.

Veja também

O economista Ricardo Coimbra explica que, assim como ocorre em outros produtos e serviços cujos preços são apurados mensalmente, os transportes por aplicativo sofrem fortemente os efeitos do encarecimento dos combustíveis. “É uma relação direta. O principal insumo de quem trabalha com o transporte por aplicativo é o combustível”, reforça Coimbra.

“Nós observamos alterações nos preços da gasolina, diesel e também do gás natural e do álcool em setembro. A própria elevação no álcool também força uma alta de preço na gasolina, já que ⅓ da gasolina é composta por álcool”, explica o economista.

A elevação nos preços dos combustíveis acabou reduzindo os ganhos no ramo e provocou queda na oferta de motoristas parceiros.

Negociações

Ricardo Coimbra também acredita que as dificuldades percebidas ao longo da pandemia de negociação entre as empresas e os motoristas parceiros levaram a uma evasão de trabalhadores do segmento.

“Outro ponto é em função da dificuldade durante o período de negociação da tarifa entre as operadoras e motoristas, levando a uma redução no número de trabalhadores no segmento”.

“Isso afetou a lucratividade desses motoristas por conta da elevação de custos, então muitos profissionais reduziram suas ações nesse tipo de atividade”
Ricardo Coimbra
Economista

Em setembro deste ano, o Diário do Nordeste mostrou a forte evasão da categoria no Ceará diante do elevado custo da gasolina. Na época, a Associação dos Motoristas de Aplicativos no Estado informou que cerca de 60% dos trabalhadores havia deixado a atividade por causa do preço do combustível.

No mesmo mês, após o reajuste na remuneração dos motoristas parceiros, cerca de 20% dos trabalhadores associados voltaram à ativa. O reajuste foi de 10% a 18% no valor da corrida pago aos motoristas, de acordo com a entidade.

Porém, com as elevações nos preços dos combustíveis que ocorreram em seguida, a atratividade do ramo voltou a cair, segundo a categoria.

“A maioria dos que tinham voltado parou de rodar novamente. Muitos estavam trabalhando a semana inteira só para pagar o aluguel do carro, ficando no zero a zero por causa dos preços dos combustíveis”, diz o presidente da associação, Rafael Keylon.

'Preços melhoraram, mas ainda estão no patamar de 2018'

Ele pontua que os reajustes levaram as tarifas ao patamar de 2018, quando os preços da gasolina estavam bem abaixo dos atuais. Ele reforça que, em 2019, houve um reajuste para baixo nos preços das corridas.

“As viagens estão mais caras em relação ao início da pandemia, mas esse reajuste que as grandes startups fizeram deixaram as taxas idênticas às de 2018, quando os preços dos combustíveis eram, porém, bem menores”, lamenta Keylon.

Diante do cenário de combustíveis cada vez mais caros, ele detalha que o motorista está rodando por mais tempo para conseguir uma renda maior. “O motorista acaba tendo que se conformar em rodar mais, passando mais tempo na rua. Mesmo com os reajustes e com a entrada do aplicativo Vyse no mercado, que cobra taxa fixa, o motorista ganha numa corrida hoje 45% do valor”, detalha o presidente da associação.

Empresas

Procurada pela reportagem, a 99 respondeu que reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25% em 1.600 cidades do País "como forma de manter o equilíbrio da plataforma diante dos constantes reajustes dos combustíveis, que impactam negativamente o transporte por aplicativos".

"A iniciativa oferece mais ganhos aos motoristas e, ao mesmo tempo, mantém a acessibilidade e oferta do serviço aos usuários, uma vez que a maior parte deste aumento para os motoristas está sendo subsidiada pela empresa, não refletindo, portanto, no preço final ao passageiro", disse a 99.

A empresa também pontuou que tem ofertado descontos em postos e lançados ações de taxas zeradas para que os parceiros fiquem com o valor total da corrida em alguns dias, horários e cidades específicas. "Com essas iniciativas, a empresa estima injetar mais de R$ 570 milhões ao PIB brasileiro até dezembro".

Procurada, a Uber encaminhou a demanda para a Associação Brasileira de Mobilidade e Tecnologia (Amobitec).

Em nota, a Amobitec disse que empresas associadas "entendem as consequências do aumento do valor dos combustíveis aos seus parceiros e trabalham para ajudar os motoristas e entregadores parceiros a reduzirem seus gastos fixos".

"A Amobitec reforça que em nenhum momento houve a redução de taxas de remuneração dos parceiros, mesmo em um período de instabilidade econômica", diz a nota.

A associação pontua ainda que adotou convênios com redes de postos para oferecer descontos e parcerias para "preços especiais em peças, acessórios e manutenções".

A Amobitec também afirma que, "em linhas gerais, os ganhos de cada corrida levam em conta uma série de fatores, como a distância total, o tempo necessário para os deslocamentos, incluindo as condições de trânsito e congestionamentos, e a demanda por viagens no horário e local específicos", enfatiza a associação.

Os destaques das últimas 24h resumidos em até 8 minutos de leitura.
Assuntos Relacionados