Do Jeep ao trigo: de onde vem a fortuna da família Macêdo, fundadora do mais antigo moinho do Ceará

Família liderada atualmente por Amarílio e Roberto Macêdo já foi dona de cervejaria e importadora de veículos

Escrito por Luciano Rodrigues , luciano.rodrigues@svm.com.br
J. Macêdo
Legenda: Sede administrativa do Grupo J. Macêdo, uma das maiores empresas de processamento de trigo do Brasil
Foto: Divulgação

A terceira pessoa mais rica do Ceará fez fortuna no mercado do trigo. Amarílio de Proença Macêdo aparece com a família no ranking da revista Forbes como um dos 240 bilionários do País em 2024. Ainda neste ano, a empresa fundada pelo pai de Amarílio, José Dias de Macêdo, que leva seu nome, a cearense J. Macêdo, completa 85 anos com história que inclui cervejaria, fábricas diversas e legado para a terceira geração.

Atualmente, Amarílio Macêdo é CEO da J. Macêdo CAP, uma das companhias do grupo, e faz parte da segunda geração da família ao lado do irmão, Roberto Proença de Macêdo, presidente do Conselho de Administração da empresa. A fortuna da família, capitaneada por Amarílio, é estimada em cerca de R$ 4 bilhões.

Ao lado da M Dias Branco e do Grande Moinho Cearense, a J. Macêdo é a principal importadora de trigo do Brasil, que chega sobretudo via Porto do Mucuripe, em Fortaleza, por meio da joint venture Terminal de Grãos de Fortaleza S.A. (Tergran). 

Veja também

Dentre os produtos fabricados pela J. Macêdo, são nove marcas e oito unidades industriais. Desse total, são quatro moinhos (Fortaleza–CE, Salvador–BA, Varginha–MG e Londrina–PR) e três fábricas (Salvador e Simões Filho–BA e São José dos Campos–SP) que se dedicam à produção de farinhas de trigo, massas alimentícias, biscoitos e snacks.

Como define Irineu José Pedrollo, CEO da J. Macêdo S/A, o grupo é dono da Dona Benta, "marca líder em farinha de trigo no País": "Somos a segunda empresa em massas alimentícias e trabalhamos para ampliar a nossa capacidade de produção", completa. Mas qual a história de uma das principais empresas cearenses?

De Camocim até o Jeep Willys: primeira geração inicia bases

José Dias de Macêdo e o irmão, Benedito Macêdo, deixaram Camocim, no litoral oeste do Ceará, ainda na primeira metade do século XX. Após fundarem as bases da empresa, em 1939, atuando nos mais diferentes segmentos, de margarina a madeira. Somente 10 anos depois, no entanto, é que o negócio começou a engrenar com a importação de veículos.

Os detalhes constam no livro "Grupo J. Macêdo 85 anos — O Legado da Primeira e da Segunda para a Terceira Geração". Em 1949, a empresa passa a representar a americana Jeep no Brasil com a importação do Jeep Willys, carro pioneiro na locomoção no interior do Estado.

"Para expandir mais rapidamente a implantação do Jeep, foram criadas seis sociedades com empresários do interior do Ceará", relata o livro. Com o sucesso da operação, os irmãos continuam olhando para outros mercados, incluindo o trigo.

Na história da empresa consta que a farinha de trigo era "escassa" no mercado local, sendo necessária a importação da Bahia e dos Estados Unidos do produto já pronto. Entre 1955 e 1958, no entanto, as mudanças catapultaram a J. Macêdo a ser a sexta maior processadora de trigo do País.

José Dias Macêdo Sereia de Ouro
Legenda: José Dias Macêdo (terceiro da esquerda para direita) na premiação do Sereia de Ouro em 1976
Foto: Arquivo

No primeiro ano, houve a instalação de um moinho de pequeno porte. O negócio deu tão certo que foi necessário aumentar a capacidade, e Benedito, três anos depois, comprou um moinho inteiro que estava desativado na Itália, no porto de Veneza. Um navio foi comprado para transportar a estrutura.

Após comprar o moinho de Natal (RN), os irmãos venderam 60% da participação nas duas plantas industriais para a multinacional Bunge. Mesmo com ações minoritárias, José e Benedito desenvolveram a marca e compraram o moinho de Salvador, considerado estratégico. 

Com a parceria com a Bunge e a aquisição do moinho em Salvador, os dois Macêdos perpassaram por empresas de diversas naturezas, como fruticultura, mineração, financeiras, frigoríficos, eletrodomésticos, tintas e automóveis.

Um dos negócios foi a implantação da Cervejaria Astra, em 1970, comprada com parte do capital adquirido com a venda de 60% da participação dos moinhos para a Bunge. A Brahma, uma das principais marcas de cerveja do País, fez uma sociedade "meio a meio" com a J. Macêdo e fabricava bebidas em Fortaleza, Manaus (AM) e São Luís (MA).

A sede da antiga fábrica foi desativada anos mais tarde e demolida no início dos anos 2010 para dar lugar ao RioMar Fortaleza.

Consolidação no trigo: segunda geração assume negócios

Ao longo dos anos 1970, dois dos filhos de José Dias de Macêdo passariam a administrar o grupo. Amarílio e Roberto Macêdo começaram a atuar junto ao pai em uma transição definida pela empresa como "longa e bem-preparada".

Nesta transição, foram adquiridas marcas fundamentais para o crescimento da companhia, como a Brandini, comprada com o moinho Nordeste, sediado em Maceió (AL). A Dona Benta foi lançada em 1979.

Após a segunda geração entrar de vez no negócio, o grupo iniciou uma ampliação de presença nacional. Isso incluiu a compra de oito moinhos de trigo, duas fábricas de biscoitos e uma de massas. O moinho de Fortaleza foi recomprado da Bunge e, ao lado do de Salvador, passou a ser um diferencial competitivo.

Roberto Macêdo, presidente do conselho da J. Macêdo CAP, (esq.) e Amarílio Macêdo, CEO da J. Macêdo CAP (dir.)
Legenda: Roberto Macêdo, presidente do conselho da J. Macêdo CAP, (esq.) e Amarílio Macêdo, CEO da J. Macêdo CAP (dir.)
Foto: Kid Junior

Em 1991, com a necessidade de unificar todas as empresas moageiras em um único CNPJ, foi criada uma subsidiária da holding J. Macêdo Comércio, Administração e Participações (JMCAP): a J. Macêdo S/A, que passou a deter todas as unidades produtivas de trigo.

A parceria com a Bunge ainda renderia, em 2003, a compra da Petybon, Sol e Boa Sorte, que passaram para o guarda-chuva da J. Macêdo S/A. Ao longo do século XXI, foram feitas ampliações e modernizações nas indústrias. Fortaleza, Salvador, Simões Filho e São José dos Campos se destacaram no processo.

O futuro: terceira geração começa transição

O Grupo J. Macêdo ainda se mantém sob controle dos irmãos Amarílio e Roberto, mas conta gradualmente com a chegada de novos integrantes familiares. Filhos do tio, Benedito Macêdo, também estão na terceira geração.

O Conselho da J. Macêdo S/A e da J. Macêdo CAP conta com membros de ambas as famílias, tais como Bruno Rosa e Ravi Macêdo (conselheiros da primeira) e Manuela Ferreira e Omar Macêdo (conselheiros da segunda).

Irineu José Pedrollo, CEO da J. Macêdo S/A, não é familiar dos Macêdo, mas está há alguns anos no cargo. Na gestão dele, foram aprovadas a construção da fábrica de massas de Horizonte, na Região Metropolitana de Fortaleza, e do moinho de trigo em Londrina.

Atualmente, o Grupo J. Macêdo está distribuído em todo o Brasil, principalmente nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, onde tem maior penetração com os produtos. Existem planos previstos, para os 85 anos, que incluem lançamentos de novos produtos.

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Este conteúdo é útil para você?
Assuntos Relacionados