Como o CE pode ser afetado com alta da importação do aço e paralisação de unidades da ArcelorMittal
Com queda da produção interna, indústria pressiona para maior taxação das importações
A produção de aço no Brasil está caindo em 2023, em meio ao aumento da importação do produto, sobretudo da China. Maior siderúrgica do mundo, a ArcelorMittal reduziu a operação em três plantas do País, no Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Nesse cenário, as empresas do setor pressionam o Governo Federal para aumentar a temporariamente a taxação do aço estrangeiro.
Alegando baixa demanda, a ArcelorMittal optou por dar férias coletivas aos funcionários nas unidades de Resende (RJ), Juiz de Fora (MG) e Piracicaba (SP). Não há previsão de paralisação na fábrica do Pecém, no Ceará. Entretanto, como o Estado pode ser afetado pela retração no setor?
De janeiro e outubro de 2023, a produção do aço bruto nacional caiu 8,1% em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo o Instituto Aço Brasil - entidade representativa das empresas brasileiras produtoras de aço. O total produzido saiu de 28,9 para 26,6 milhões de toneladas.
Por outro lado, as importações subiram 54,8% em relação a 2022, atingindo 4,2 milhões de toneladas. A avaliação do economista e integrante do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, é que a produção no Ceará pode vir a ser impactada caso o cenário se mantenha.
"As siderúrgicas reestruturaram suas plantas produtivas e pode ser que em algum momento possa ter algum tipo de impacto no Pecém, se a empresa continuar tendo reflexos na demanda", aponta. O especialista opina que a produção do Estado não foi afetada de imediato porque é direcionada principalmente para a exportação.
O Instituto Aço Brasil aponta que, se as previsões de disparo na importação em 2024 se concretizarem, novas paralisações de plantas podem ser esperadas.
"A projeção é de disparo de mais 20% nas importações, em cima da escalada ocorrida em 2023, para 6 milhões de toneladas, ou 79% acima do que foi realizado apenas dois anos antes, em 2022. Esse volume de aço estrangeiro representa uma perda de arrecadação de R$ 3,4 bilhões e de 297 mil empregos a serem exportados para os países produtores desse aço", projeta.
O economista Eldair Melo aponta que a produção de aço também está sendo impactada pela estagnação do setor automobilístico e construção civil. "A indústria deve passar para um momento mais complicado e difícil devido ao cenário que se traça para esses dois segmentos", aponta.
A ArcelorMittal ressalta que não há parada prevista para a unidade do Pecém e que os funcionários não terão férias coletivas ou compensação de banco de horas. Questionada, a companhia não respondeu quais ações estão sendo tomadas para manter a produção e qual a perspectiva para 2024.
Concorrência do aço chinês
Com a entrada ostensiva do aço estrangeiro, a indústria nacional pressiona o Governo Federal para aumentar temporariamente o imposto de importação do produto para 25%. A ação protecionista contra a indústria chinesa já foi adotada pelos Estados Unidos e por países da Europa.
De janeiro a outubro, o País importou mais de 2,3 milhões de toneladas de produtos siderúrgicos da China - crescimento de 60% em relação a 2022. Do segundo maior mercado, a União Europeia, foi importado 505.173 toneladas.
Atualmente, a taxa de importação está em 9,6% no Brasil. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o pedido de elevação do imposto de importação foi submetido a consulta pública e está sob análise do corpo técnico da Câmara de Comércio Exterior (Camex).
A pasta não informou uma previsão de data para a mudança e, se elevado, por quanto tempo deve permanecer no patamar mais elevado. Na visão de Ricardo Coimbra, a reivindicação do setor deve ser atendida, aumentando a competitividade do aço produzido nacionalmente e no Ceará.
Por outro lado, a maior taxação deve gerar aumento do custo de produção de setores industriais que utilizam matéria-prima importada. "Se você elevar o custo de importação, esse custo de importação deve ser repassado no mercado interno. As indústrias cearenses que compram matéria-prima importada do mercado asiático, podem receber esse produto mais caro e repassar isso para o preço final"', comenta o especialista.
Eldair Melo também prevê que a taxação maior será adotada e avalia que é uma oportunidade para a siderúrgica cearense assumir comportamento mais agressivo, aumentando as vendas internas, mas sem prejudicar as exportações. O economista opina que, além do protecionismo, é necessário investir mais no setor.
"Esse aumento de taxação deveria estar vinculado com aumento de emprego e renda, porém esse aumento ocorre com o crescimento do PIB. A formação de capital bruta, então não está havendo investimento. Há um cenário bastante complexo dentro da economia, que vai traçar os rumos para 2024", comentou Eldair.