Em grande parte importada - ou produzida a partir de insumos importados - a decoração de Natal não escapou dos impactos da escalada do dólar em 2021, e o consumidor está pagando um pouco mais para enfeitar a casa.
Mesmo com as lojas tentando segurar o repasse, os produtos ficaram até 30% mais caros neste fim de ano, relatam os varejistas.
A diretora comercial da Manix, Érika Ximenes, explica que os importados foram adquiridos pela loja com um custo até 70% maior, mas que o repasse foi bem abaixo desse percentual: entre 20% a 30% para o preço final ao consumidor.
“A gente segurou muita coisa porque vemos que a renda da população não acompanhou essa elevação nos produtos. Além disso, nós conseguimos segurar o repasse porque compramos muitos produtos antecipadamente”, diz.
Apesar dos efeitos do dólar sobre os enfeites de Natal, ela avalia que o desejo de reunir a família e o clima de pandemia que vem sendo atenuado com o avanço da vacinação possuem um impacto positivo sobre a procura, que vem sendo intensa.
“Acredito que neste fim de ano teremos um crescimento razoável, já estou tendo que repor alguns itens, tentando encontrar mais. O consumo na nossa loja deve crescer entre 15% e 20% na comparação com o Natal de 2020”
Ela destaca que no ano passado as vendas já haviam apresentado um bom desempenho decorrente da demanda reprimida.
Frete
Além da repercussão do dólar sobre os produtos em si, a diretora comercial da Manix destaca que o frete é mais um fator que encareceu os produtos neste ano e dificultou as operações.
“Sentimos o aumento do dólar, mas o que sentimos mais ainda foi o frete, que chegou a ficar 500% mais caro. Com o aumento do dólar e uma grande demanda por frete, ficou muito mais caro transportar, além do normal. Inclusive observamos atraso na entrega de produtos”, detalha Érika, lembrando ainda dos efeitos da descontinuidade de produção nas indústrias com paralisações decorrentes da pandemia.
A redução da margem de lucro também foi uma estratégia adotada pela Fort Tudo para não repassar integralmente os impactos do dólar sobre os enfeites de Natal, de acordo com a gerente, Ana Célia Matias. “Nós tivemos um certo aumento em cima do valor que costumávamos trabalhar, mas a gente diminuiu a nossa margem de lucro”, explica.
Ela também avalia que, mesmo com a alta de preços, o consumo será satisfatório em 2021. “A gente visualiza um crescimento de 15% a 20% nas vendas, mas isso comparado ao ano de 2019, porque 2020 foi um ano diferenciado para o comerciante, de uma forte demanda reprimida, então acredito que seja difícil comparar com o ano de 2020”, explica. A expectativa é estar com estoques zerados até 15 de dezembro.
Produtos mais buscados
Érika Ximenes avalia que para este Natal a aposta são produtos mais personalizados, com enfeites de personagens e uma decoração lúdica que envolva as crianças da família, além de bonecos do Papai Noel cada vez maiores.
“Também apostamos nas coleções candy colors (cores suaves) e xadrez”. Além disso, ela destaca as tradicionais como vermelho, verde e dourado.
Ana Célia Matias pontua que os destaques da loja são as árvores em tamanho maior, de 2,2 m, além das decorações prontas no mostruário, que são cada vez mais buscadas pelos clientes. “Uma decoração pronta do mostruário chega a R$ 5 mil, R$ 6 mil. Depende do gosto do cliente”, diz.
Crise
O economista Ricardo Coimbra ressalta que a elevação de preços nesses itens e em outros componentes afetados pelo dólar, direta ou indiretamente, além do avanço do endividamento da população, deve levar o consumidor a redirecionar os gastos para a alimentação.
“Como observamos a alta no endividamento da população, uma parcela dos consumidores tende a redirecionar os recursos para o segmento alimentar”, avalia Coimbra.
Percebendo os preços mais elevados, a jornalista Gisele Leal decidiu que este ano os gastos da família com enfeites de Natal serão bem menores. Ela relata que comprou a ornamentação no ano passado e que já esperava aproveitar boa parte em 2021.
“Ano passado a gente fez uma boa compra, árvore nova, decoração nova, tudo novo. Os preços já estavam um pouco mais elevados, mas decidimos fazer esse investimento porque pensamos que guardando e cuidando direitinho ainda estaria tudo em perfeito estado”, diz. “A gente começou a ver neste ano os preços altos e decidimos manter a decoração. Vamos mudar a cor da fita ou algo assim, mas os enfeites em geral serão os mesmos”.
Ela pontua que ficou aliviada ao perceber que fez a maior parte das compras no ano passado e que vai poder reaproveitar os itens. “Realmente a gente achou mais caro, a árvore está mais cara, os enfeites, coisas de mesa que eu gosto. Ainda bem que este ano eu não comprei, porque está tudo mais caro mesmo”, diz.
O sentimento de parcela dos consumidores que não pretendem renovar a decoração de Natal é observado pela diretora de Marketing da loja Arca Mania, Thaís Pegado, que imagina vendas um pouco abaixo do realizado em 2021, sobretudo pela demanda “fora do normal”.
“Infelizmente acreditamos, diante do momento atual, em um impacto nas vendas e que elas podem ser inferiores em relação ao ano de 2020”, pontua, apesar da esperança com a liberação do 13º salário.
Ela corrobora que a alta do dólar afetou os preços, especialmente dos produtos que vem da China. Ela também destaca que os fretes sofreram elevação, também afetando os produtos. “Nossa expectativa é que o cenário melhore no próximo ano. Estamos confiantes, já que a vacinação está acelerada”, avalia Thaís.