Autoridades do Cariri tentam manter voos da Avianca com outra aérea

Responsável por cerca de 64% do tráfego aéreo na região, a companhia deixa de comercializar voos para o Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes. Cidades temem impacto negativo sobre economia, com prejuízo ao turismo e negócios

Escrito por Hugo Renan do Nascimento , hugo.renan@diariodonordeste.com.br
Foto: FOTO: ANTONIO RODRIGUES

A situação dramática da Avianca Brasil atingiu o Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes, em Juazeiro do Norte. Depois do anúncio de cancelamentos na próxima segunda-feira (22), a empresa aérea suspendeu a comercialização de bilhetes para o terminal do Cariri, onde opera com frequências para Fortaleza e Guarulhos (São Paulo). Agora, autoridades locais e órgãos da Prefeitura e Estado tentam negociar com outras companhias a reposição das rotas. 

Com a possível suspensão dos voos diretos entre Juazeiro do Norte e Fortaleza, turistas e cearenses têm duas opções nada convenientes. Uma delas é enfrentar a estrada de ônibus em uma viagem que dura 11h30. A outra é voar da Capital até Recife ou Campinas e dessas cidades chegar até Juazeiro do Norte. Essa alternativa, além de mais cara - pode chegar a R$ 2.999 (ida e volta) - faz com que o passageiro fique em trânsito por até 18 horas.

Hoje, a Avianca realiza o trecho entre Fortaleza e Juazeiro em menos de 1 hora. “O impacto desses cancelamentos é muito grande. A gente perde por baixo metade do fluxo de passageiros no Aeroporto de Juazeiro do Norte. A Avianca era realmente responsável por grande parte do fluxo. Nós já estamos nos articulando, mas a gente espera que a Avianca consiga reverter as decisões judiciais e retome as aeronaves para continuar operando normalmente”, avalia o secretário de Desenvolvimento Econômico e Inovação de Juazeiro do Norte, Michel Araújo. 

Segundo ele, o diálogo mais avançado para a reposição dos voos perdidos é com a Latam Brasil. “A gente já vinha abrindo conversas com as secretarias de Turismo de Juazeiro e do Estado, um diálogo com a Latam para a retomada dos voos aqui. Mas uma aprovação de novos voos demora pelos menos um ano e as companhias não possuem aviões sobrando”. A Latam é uma das interessadas no leilão que deve fatiar a Avianca. 

Araújo ainda diz que os cancelamentos da Avianca, responsável por cerca de 64% do fluxo de passageiros no Aeroporto Orlando Bezerra de Menezes, impactam diretamente a vida não apenas dos moradores de Juazeiro do Norte, mas também de parte do interior cearense e dos estados da Paraíba, Pernambuco e Piauí. “São 157 municípios que se servem deste aeroporto. A gente já teve um impacto grande com a perda do voo da Avianca para Brasília. E agora a situação só piorou. Inclusive o turismo de negócios muito constante entre Fortaleza e Juazeiro”, acrescenta. 

De acordo com o secretário, a demanda aérea para Juazeiro do Norte existe. O que falta, na opinião dele, são aeronaves das companhias aéreas brasileiras. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil, o aeroporto do Cariri movimentou quase 560 mil passageiros, dos quais mais de 357 mil foram da Avianca. “O nosso aeroporto é o primeiro em movimentação do interior do Nordeste. Demanda existe. Se você colocar mais 10 voos ainda vai existir demanda. O problema daqui não é demanda, é falta de avião”. 

Impactos

Diante dos cancelamentos da companhia, o Cariri cearense tem uma de suas principais portas de entrada e saída de produtos e passageiros restrita. Para o engenheiro e empresário local, Roberto Celestino, a ameaça da suspensão de voos da Avianca atinge diretamente os empregos gerados, as universidades e o transporte de cargas. “Infelizmente, as últimas decisões judiciais bombardearam um plano de sustentação das rotas. Cerca de 17% do tráfego aéreo deixar de operar é uma comoção. No caso do Cariri não é uma comoção, é um fato dramático com impactos profundos na nossa economia e vida social”. 

Na opinião dele, apesar de ser trágico a cidade perder rotas e voos da Avianca, abrem-se oportunidades para as demais empresas operarem em Juazeiro do Norte. “As outras companhias já pegam um mercado formado, com uma população acostumada à viagem aérea e um terminal bom. É um assunto que tem uma importância muito grande para a nossa região porque o nosso aeroporto é o porto e o aeroporto do Cariri”.

Celestino ainda afirma que muitos professores de Fortaleza e do Recife dão aulas semanalmente na região e que os cancelamentos prejudicam estudantes e universidades locais. “Ainda tem as empresas que dependem da atividade do transporte aéreo. Tem também o transporte de carga que é afetado. Hoje a Avianca emprega em média 50 pessoas no Aeroporto de Juazeiro do Norte. A Avianca sempre foi parceira da sociedade e compreendeu a economia do Cariri”, destacou. 

Em nota, “a Avianca lamenta os transtornos causados em função do cancelamento pontual de alguns voos e informa está se empenhando para minimizar o impacto”. Na segunda-feira, a aérea vai devolver mais 18 aeronaves aos lessores. Segundo a Anac, os aviões serão gradualmente retirados.

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