União, Estado ou Prefeitura? Entenda quem deve pagar pela merenda escolar da rede pública
Suspensão do almoço para alunos de cidade do interior do Ceará levanta questões sobre a gestão dos gastos com a alimentação
Ter uma refeição completa é, para muitos estudantes, uma das garantias mais importantes que a escola pública oferece. Na pandemia de Covid, aliás, com o fechamento das escolas, a importância desse direito ganhou ainda mais evidência. Mas, afinal, quem deve arcar com a conta da merenda escolar?
Em todo o País, os custos com a merenda escolar, conforme a Lei nº 11.947/2009, devem ser bancados pela soma de repasses da União, de Estado e Municípios: estes participam com recursos próprios, que são complementados pelo Governo Federal por meio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Veja também
“O FNDE repassa às Secretarias Estaduais de Educação e às Prefeituras Municipais, de forma automática e sem necessidade de convênio, os recursos federais do PNAE, em caráter suplementar e em até 10 parcelas anuais, para a cobertura de 200 dias letivos”, pontua a União.
foram repassados pelo PNAE às 184 prefeituras cearenses, entre fevereiro e setembro de 2023, conforme painel do FNDE consultado pela reportagem.
Neste mês, estudantes do ensino fundamental das escolas públicas de tempo integral da cidade de Tianguá, no Ceará, tiveram o fornecimento de almoço suspenso: cerca de 1.600 alunos de 23 escolas precisaram voltar para casa para se alimentar, mesmo sob jornada ampliada.
Ao Diário do Nordeste, a Secretaria de Educação do município afirmou que a medida é temporária e se deve à falta de verba para a alimentação. A Prefeitura de Tianguá recebeu, entre fevereiro e setembro, R$ 1,9 milhão em repasses do PNAE, conforme painel do FNDE.
Os valores repassados pelo programa nacional a estados e municípios são calculados por aluno matriculado e por dia letivo, e foram reajustados em 2023, após 6 anos congelados:
- Creches: R$ 1,37
- Pré-escola: R$ 0,72
- Ensino fundamental e médio: R$ 0,50
- Ensino integral: R$ 1,37
- Educação de jovens e adultos: R$ 0,41
- Escolas indígenas e quilombolas: R$ 0,86
- Programa de Fomento às Escolas de Ensino Médio em Tempo Integral: R$ 2,56
- Alunos que frequentam o Atendimento Educacional Especializado no contraturno: R$ 0,68
Algumas gestões municipais, a exemplo de Tianguá, pontuam que os recursos suplementares federais são defasados e não suprem o montante necessário para garantir a alimentação dos estudantes.
A reportagem contatou a União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e a Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece) para saber como se dá o balanceamento do custeio da merenda e que soluções podem ser adotadas em caso de falta de verba. Até esta publicação, não foi possível entrevistar fontes das entidades.
Questionamentos também o Ministério da Educação (MEC), entre outros pontos, sobre como deve ser feito o investimento em alimentação para os alunos da rede pública. O órgão tampouco retornou.