Primeira mulher a pilotar avião sobre o oceano pousou em Fortaleza há 85 anos, antes de desaparecer
A estadunidense Amelia Earhart passou pelo Ceará em junho de 1937, durante tentativa de dar volta ao mundo como pilota
Enquanto nos anos 1930 as mulheres brasileiras conquistavam o direito de dirigir carros, uma estadunidense já se tornava símbolo do pioneirismo feminino na aviação. O Ceará, inclusive, a recebeu: em 1937, Amelia Earhart pousou em Fortaleza após ser a primeira mulher a voar sozinha sobre o Oceano Atlântico.
A capital cearense – mais especificamente onde, hoje, se ergue a Base Aérea, no Alto da Balança – foi uma das paradas para a aviadora durante a segunda tentativa dela de cumprir uma missão ousada: dar a volta ao mundo a bordo do avião Electra.
Amelia Earhart chegou a Fortaleza em junho de 1937, há 85 anos, acompanhada pelo copiloto Fred Noonan. Ambos partiram de Miami, nos EUA, e pousaram na capital no dia 5 de junho daquele ano, tendo o Hotel Excelsior, na Praça do Ferreira, como destino.
O percurso e a estadia da estadunidense em solo fortalezense estão documentados em fotos e cartas escritas por ela, arquivadas pela Universidade de Purdue, nos Estados Unidos. O principal destinatário às missivas era George Palmer Putnam, chamado por ela de “Mugs”.
O jornalista e historiador Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, relembra que a Fortaleza daquela época “era calma, tinha pouco mais de 100 mil habitantes”, e que se agitava com novidades. “E todo mundo que vinha de fora tinha um destino só: o Excelsior.”
“Era o principal hotel, porque o restante eram só pensões. A Amelia se hospedou lá e tirou, da janela do quarto, fotos da Praça do Ferreira. Ela revelou os negativos na antiga Abafilm, aqui mesmo”, registra o historiador.
Nirez relembra, inclusive, que o próprio irmão dele conheceu Amelia Earhart. “Quando ele soube que ela estava na cidade, correu até a Base Aérea, onde estava o avião dela, e falou com ela. Ele já faleceu, mas contava essa história”, recobra Nirez.
Amelia Earhart em Fortaleza
Antes de passar pelo Brasil, Amelia colecionou recordes: além de receber a condecoração “The Distinguished Flying Cross”, pelo voo solo cruzando o oceano, ela atingiu altitudes e velocidades de voo nunca antes realizadas por mulheres ou mesmo homens, no século XX.
A pilota chegou a fotografar, do alto, uma Fortaleza completamente horizontal e voltada para as atividades na orla marítima. Registros capturados por Amelia eternizam, inclusive, uma imagem comum até hoje: a movimentação de pescadores na praia do Mucuripe.
Outros símbolos da cidade, como a Ponte Velha do Poço da Draga e a Muralha de Hawkshaw, na Praia de Iracema; e a Coluna da Hora, da Praça do Ferreira, também foram fotografados pela aviadora, na breve escala no Ceará.
Exato um mês depois de passar pela capital alencarina, a meta de Amelia Earhart de dar uma volta ao mundo seguindo a Linha do Equador foi interrompida de forma trágica: ela e Fred Noonan partiram de Lae, na Papua-Nova Guiné, rumo à Ilha Howland – e desapareceram.
Amelia deveria pousar numa pista pequena, no meio do Oceano Pacífico, mas nunca chegou ao destino. No último contato por rádio com a Guarda Costeira dos EUA, ela chegou a indicar que não conseguia enxergar a pista – e que o combustível estava no fim.
Desde 2 de julho de 1937, então, a aviadora e o copiloto nunca mais foram ouvidos ou vistos. Eles foram dados como mortos, oficialmente, dois anos depois. Por ter sido uma mulher lendária e à frente do tempo, Amelia Earhart é lembrada até hoje em pesquisas, filmes e documentários.