Covid volta às principais causas de chamados por ambulâncias no Ceará, mas imunização reduz demanda
A doença já foi a primeira causa de pedidos por atendimentos, mas com o recuo da doença e o avanço da vacinação, os casos graves reduziram
Os pedidos por ambulância para pacientes associados à Covid voltam a crescer em paralelo à 3ª onda da doença, mas com demanda menor em comparação com outros períodos da pandemia no Ceará. A doença ocupa o 3º lugar entre os motivos das chamadas do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) desde dezembro.
Junho de 2021, próximo ao pico da 2ª onda da doença, foi o último mês em que a Covid liderou os chamados por ambulâncias com 1.566 pedidos. Com a redução de casos, em agosto e setembro o coronavírus não ficou entre as 10 primeiras causas.
Mas com o aumento na transmissão da doença, associado à variante Ômicron, os pedidos voltaram a crescer em dezembro de 2021 (46) e, em janeiro (188) e fevereiro (85), se mantêm no 3º lugar. Os dados são da plataforma IntegraSUS da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) até esta terça-feira (15).
Os dados anuais, repassados pelo Samu Ceará, mostram que o total em relação à atendimento e transferência da Covid-19 em 2020 foi de 7.767. No último ano, o valor cresceu para 16.637 chamados e, em janeiro de 2022, 721 registros já foram relacionados à doença.
O maior número de ligações no último ano se refletiu nos hospitais: atendimentos e transferências de pacientes associados à infecção por coronavírus dobraram entre o primeiro e o segundo ano de pandemia no Ceará.
No contexto atual, há queda da procura depois de aumento no início de janeiro, com destaque para a região Norte do Estado.
Atendimentos de pacientes relacionados à Covid entre março de 2020 e janeiro de 2022 feitos pelo Samu
“O ano de 2021 foi bem impactante, porque a gente teve o dobro de solicitações em relação à 2020, foi o ano em que a gente teve mais internações e, infelizmente, mais óbitos”, analisa Khalil Feitosa, diretor-geral do Samu Ceará.
O serviço alcança todos os municípios cearenses desde o início de 2021 com equipe de cerca de 2 mil profissionais da saúde e com 121 bases de apoio no Estado. Para isso, estão disponíveis três Centrais de Regulação de Urgências no Eusébio, Juazeiro do Norte e Sobral.
Alguns fatores podem ser elencados no impacto da capacidade de atendimento: trotes, crescimento repentino de casos de Covid e registros de acidentes em feriados. O primeiro deles, assombrosamente, prejudicou equipes em um ano difícil: mais 30 mil trotes em 2021.
Toda vez que a gente desloca um recurso para atendimento falso, a gente deixa de atender quem de fato está precisando do serviço
Além das ocorrências preveníveis, como acidentes de trânsito e traumas, o aumento da transmissão da Covid é outro elemento preocupante e possível de redução com a contribuição social.
“Quando a gente precisa da aquisição de uma ambulância, há solicitação ao Ministério da Saúde, é um processo um pouco mais demorado. Então, nós não conseguimos com a mesma brevidade aumentar nossa capacidade operacional”, destaca sobre a adequação.
Quem realizou o primeiro atendimento por Covid na região de saúde do Cariri foi o médico regulador e intervencionista Mário Gustavo Nóbrega, no caso de um paciente com síndrome gripal, saturação baixa e dificuldade para respirar.
“Naquele tempo não se tinha nem o teste de Covid e a gente não sabia nada da doença. Então, tivemos que preparar ambulância para que eu me deslocasse até o local, era tudo muito novo e a gente não sabia lidar com a doença”, lembra sobre a ocasião em março de 2020.
Mais vacina, menos casos graves
Mário Nóbrega permanece no atendimento dos pacientes com Covid desde o início da pandemia e observa uma mudança na gravidade dos casos. “A questão da contaminação é alta, porém o caráter dos sintomas e sinais clínicos são bem menos pronunciados”, nota.
“Na 1ª onda, às vezes num plantão, eu intubava dois ou três pacientes. Hoje em dia os casos são bem mais suaves clinicamente, muitas vezes não necessita de um aporte de oxigênio efetivo para fazer intubação”, compara.
Minha orientação é que se vacine, vacine os filhos, pais e idosos, porque a vacina salva vidas. Experiência de médico que, desde o início da pandemia, lida com essa doença
O diretor-geral do Samu Ceará acrescenta que parte dos pacientes com sintomas leves de coronavírus só descobrem a infecção ao precisar de atendimento por outras demandas, como AVC ou infarto.
“Uma coisa que me chamou muita atenção, não só no pré-hospitalar quanto no intra-hospitalar também: a gente teve uma menor quantidade de pacientes com quadro de insuficiência respiratória”, frisa.
A transmissão crescente no início também impactou no processo de atendimento dos pacientes, como avalia. “A variante Ômicron apresenta o poder de contaminação bem grande, então muitas pessoas doentes por outros motivos estavam também com Covid”.