Variante Ômicron, influenza e outros vírus: por que o Ceará deve manter medidas sanitárias anticovid

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde, alerta para atuais preocupações do Estado

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Pessoas circulando de máscara de proteção facial no Centro de Fortaleza
Legenda: Uso de máscaras, por exemplo, deve ser mantido até 2022 para prevenir Covid e doenças sazonais, segundo a Prefeitura de Fortaleza
Foto: Helene Santos

A estabilização dos casos de Covid-19 no Ceará, sem aumentos preocupantes nos últimos 2 meses, tem conferido tranquilidade à população – mas é preciso cautela e manter rigor nas medidas sanitárias, como reforça Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, a bióloga e gestora da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) alerta que o desconhecimento sobre a variante Ômicron e a chegada do período de chuvas no Ceará – que traz diversas doenças respiratórias – impedem população e Estado de relaxarem.

Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde do Ceará
Legenda: Ricristhi Gonçalves, secretária executiva de Vigilância e Regulação em Saúde do Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Como está o cenário da Covid no Ceará, hoje? Temos aumento importante de casos?

Estamos num cenário de estabilidade de casos confirmados que já dura mais de 9 semanas. Isso é bom. Quando colocamos zoom em cada município, há alguns que estão oscilando por semana, mas o aumento ou a redução não têm se mantido. 

Essas oscilações são esperadas, porque pode acontecer de ter circulação viral em pequenos bolsões de suscetíveis, como pessoas que estão com apenas uma dose e acabam adoecendo. Não estamos tendo grandes aumentos no número de casos em todo o Ceará.

Alguma região ou cidade do interior tem tendência de avanço da Covid?

Em algumas regiões, os municípios estão fazendo mais testes, então conseguem detectar mais indivíduos com Covid. E isso é o que temos solicitado a todos os municípios: que ampliem a testagem, temos testes suficientes para isso. 

Hoje, a Região Norte e a do Cariri têm um aumento de positividade, mas também pelo aumento da testagem. Precisamos entender em que locais está havendo circulação viral, para tomarmos as medidas imediatas. É preciso que a pessoa com sintomas busque um local para colher amostra e verificar se aqueles sintomas são de Covid ou não.

No atual momento, em que temos 89% dos cearenses vacinados com 1 dose e 78% com duas ou dose única, qual a maior preocupação do Estado?

Nossa preocupação continua sendo a Covid-19, tendo em vista que uma nova variante foi detectada. Esse é um alerta que a gente precisa passar a todos os municípios: ainda existe um risco de termos aumento de casos, já que não sabemos o suficiente sobre essa variante.

Outra preocupação é que, no Ceará, temos a sazonalidade dos vírus respiratórios. Quando começam as primeiras chuvas, começam os casos de síndromes gripais, como a gripe, causada pela influenza; o vírus sincicial respiratório; e a parainfluenza. 

Nesse período, além da Covid, a gente se preocupa muito com a influenza. Ao longo dos anos, verifica-se um aumento de casos assim que se iniciam as chuvas aqui no Ceará.

Não tivemos nenhum caso confirmado de influenza A H1N1 no Ceará em 2021. Isso a gente atribui à vacinação e às próprias medidas contra a Covid, que contribuem também para a prevenção de outras viroses.

Também temos uma preocupação com as arboviroses, que são endêmicas e sazonais. No início de ano, com as chuvas, é momento propício para a proliferação dos mosquitos que transmitem essas doenças.

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Em relação à variante Ômicron, como o Estado tem se preparado para os possíveis impactos epidemiológicos dela?

Nós estamos, agora, diante de uma variante que tem muito mais mutações do que a delta, é um alerta da Organização Mundial de Saúde. É uma variante que exige cuidado com aglomerações. No Ceará, as grandes festas de fim de ano estão proibidas, e existe uma restrição de público para as que vão acontecer. 

Em nenhum momento recuamos quanto à utilização das máscaras em locais abertos ou fechados, o que previne não só Covid, mas outros vírus respiratórios. Apesar de ter tido flexibilização em todos os setores, aumentamos a proteção nesses ambientes, exigindo testagem e que as pessoas estivessem totalmente vacinadas.

Vamos reforçar a testagem em todo o Estado, reforçar o sequenciamento das amostras junto à Fiocruz e ao Lacen.

O avanço da vacinação foi fundamental pro enfrentamento da variante delta no Ceará: ela entrou e não se espalhou rapidamente. Hoje, temos mais de 75% da população completamente vacinada. Foi uma das medidas que mais nos protegeu.

Caso haja agravamento dos casos de Covid ligados à Ômicron no Ceará, haverá leitos suficientes?

Como está a procura pela dose de reforço? Qual a importância dela no atual contexto?

Temos muita vacina disponível, é preciso que as pessoas procurem a 3ª dose, para evitar a exposição principalmente dos mais idosos, dos imunossuprimidos. De fato, estamos tendo muito absenteísmo quanto à 3ª dose, os municípios relatam isso. 

Existe a falsa sensação de que, se está com as 2 doses, pode enfrentar o que vier. A vacina confere proteção, sim, mas ela vai decaindo ao longo dos meses.
 

Hoje, os cientistas estão tentando fazer modificações nas vacinas que já existem, para dar uma proteção maior justamente contra diferentes variantes. Mas é preciso vacinar. As doses estão disponíveis, temos imunizantes excelentes para reforçar o que já tem feito. Mas as pessoas insistem em faltar.

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Virologistas apontam preocupação com outros vírus respiratórios, como a influenza. Como prevenir grandes surtos no Ceará? As festas de fim de ano podem potencializar isso?

A imunização e as medidas já adotadas para a Covid evitam as viroses respiratórias. O uso de máscara, higienização das mãos, também são importantes. Hoje, a gente não ouve falar de pessoas que tiveram gripe forte. Não tivemos H1N1 em 2021. Tudo foi importante para evitar esses vírus.

Pode ser que aconteça, principalmente entre crianças. No menor sinal de febre alta, sintomas gripais, falta de ar, tem que ir de imediato para uma unidade de saúde para que seja manejada.

Que Centros de Testagens para Covid-19 gratuitos ainda estão disponíveis para a população?

Os testes continuam disponíveis à população nas unidades de saúde, nas UPAs (para quem tiver sintomas mais graves); na rodoviária, no aeroporto e nos Centros de Testagem no shopping RioMar Fortaleza, no Excelsior (Praça do Ferreira) e no Hospital Geral de Fortaleza (HGF). Só conseguimos entender se o vírus está circulando se for feita a testagem.

Agora, com a notícia da Ômicron, tivemos um aumento de demanda por testes. Se você tiver o menor sintoma gripal, uma dor de garganta, faça o teste, porque pode ser Covid. Mesmo já está vacinado, será mais leve, mas pode ter.

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