Cearenses usam nota do Enem para estudar em universidades do exterior: 'a melhor escolha da vida'
Saiba em quais faculdades estrangeiras é possível ingressar com a nota do exame brasileiro
Ter uma universidade internacional no currículo, conhecer novas culturas e conquistar independência são alguns dos motivos pelos quais estudantes almejam uma oportunidade de estudar no exterior. O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) pode ser a porta de entrada para essa oportunidade.
Foi com a nota do Enem de 2018 que a cearense Tainah Araújo, 20, conseguiu se candidatar a uma vaga na Universidade de Lisboa, em Portugal, em 2020. “É muito legal que deixem usar o Enem até 3 anos antes da matrícula, porque realmente a vontade só surgiu na pandemia”, compartilha.
A estudante avalia que o processo até conseguir entrar numa sala de aula no exterior não é complexo, mas revela que precisou da ajuda de uma empresa especializada para concluí-lo, já que resolveu deixar o Brasil em plena primeira onda da pandemia de Covid.
Foi complicado, porque em um dia eu estava com minha família em uma cidade que eu vivi a vida toda e no dia seguinte eu estava em um país completamente desconhecido.
A viagem e os primeiros momentos em Portugal foram solitários, já que os pais não tinham visto para permanecer no país – mas Tainah descreve que a acolhida por parte dos portugueses foi imprescindível para facilitar a adaptação.
“Eles sempre foram muito amigáveis, só encontrei pessoas extremamente agradáveis. Nunca sofri xenofobia. Tive alguma dificuldade sim, porque como estava sozinha, tinha que resolver tudo, sem meus pais. Mas adquiri muita maturidade e independência”, pondera.
A jovem vive, hoje, numa cidade que considera “ter tudo a ver com ela”, social e culturalmente, reforçando, todos os dias, que a opção por cursar ensino superior fora do Brasil foi a mais acertada.
"Minha experiência como estudante em Lisboa tem sido extremamente enriquecedora e gratificante. Além da independência por morar só, acredito que foi a melhor escolha que eu já fiz na minha vida", revelou.
“Foi um processo de autoconhecimento”
O processo de amadurecimento é compartilhado por Natan Viana, que usou o Enem para se matricular em Engenharia Electrotécnica e de Computadores na Universidade de Lisboa, onde “se encontrou totalmente”.
Depois de cursar 3 semestres no Ceará, Natan descobriu a oportunidade de transferir os estudos ao exterior – foi aprovado e fez as malas para o país lusitano, visando maiores oportunidades de estágio e de contato com tecnologia avançada.
O processo até conseguir a vaga e se matricular durou cerca de 3 meses, entre candidatura, carta de apresentação e pagamento de taxas à instituição portuguesa. Foi o início de um processo profundo de autoconhecimento, como relata Natan.
Apesar de o idioma ser muito semelhante, foi necessária uma adaptação, porque entrei lá sem conhecer ninguém. A cultura é um pouco diferente, e eu nunca havia morado só. Foi um processo de adaptação e autoconhecimento.
Hoje em dia, o estudante volta ao Brasil apenas nas férias do meio do ano, no verão português, programação que foi alterada pela pandemia, período em que ele permaneceu na casa dos pais, no Brasil, em ensino remoto.
Como usar o Enem para estudar no exterior
A nota do maior exame educacional do País, divulgada no último dia 9, pode ser utilizada não apenas para ingressar em universidades brasileiras, mas também em uma lista extensa de universidades internacionais.
Países como Estados Unidos, Canadá, França, Irlanda e Inglaterra têm instituições que aceitam o Enem como parte dos requisitos para admissão. Contudo, é Portugal que se destaca nessa lista.
O país lusitano tem o maior número de instituições com possibilidade de ingressar pelo Enem, são cerca de 50, entre universidades públicas e privadas. Facilidade levada em consideração por Tainah de Oliveira, ao escolher para onde iria.
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“Além da facilidade da língua, a cultura é mais ou menos parecida. Eu pesquisei as universidades, vi os rankings e o foco delas e assim escolhi”, comenta sobre a decisão de ir para o Instituto Superior Técnico onde ficam os cursos de engenharia.
O professor Ricardo Carneiro, coordenador do programa internacional Diploma Programme do Colégio 7 de Setembro, que acompanha esse processo de escolha pelos estudantes, destaca que a experiência no exterior traz uma série de privilégios ao aluno, como pessoa e profissional.
“Um dos maiores benefícios é entender e respeitar diferentes culturas e pontos de vista, sendo uma pessoa de mente mais aberta e um cidadão planetário, a fim de criar um mundo melhor”, pontua. “E também podemos citar o diferencial no currículo para quem vive a experiência de estudo no exterior, uma vez que os empregadores visualizam a questão do pensamento crítico e da resolução de problemas dos candidatos”, completa.
Outro ponto que o estudante brasileiro deve ficar atento é a diferença nos calendários acadêmicos. Então, para se candidatar a uma vaga, é importante que o candidato conheça as condições oferecidas por cada universidade.
Como os processos seletivos são individuais e em sua maioria online, o Diário do Nordeste listou alguns países e instituições que oferecem essa oportunidade para quem fez o Enem.
Estados Unidos
Entre as universidades estadunidenses que aceitam a nota do exame nacional como requisito para ingresso no ensino superior, estão a Universidade de Nova York, a Universidade de Northeastern e a Universidade Temple.
Dentre elas, a New York University (NYU) criou a Flexible Testing Policy, um programa que aceita os sistemas de avaliação de ensino médio de outros países, com intuito de facilitar o ingresso dos estudantes no momento da pandemia.
Já as outras é preciso realizar o Common Application, formulário de admissão à faculdade de graduação utilizado nos Estados Unidos, e ficar acompanhando os prazos para as etapas seguintes.
Canadá
No Canadá, uma das universidades mais importantes do país, a Universidade de Toronto (https://future.utoronto.ca/international-students/), aceita o Enem, assim como as universidades de Ryerson, Trent e Humber.
No entanto, é necessário destacar que o Enem é apenas uma parte de todo o processo seletivo, que conta com carta de motivação, entrevista com os candidatos e análise do histórico escolar.
Inglaterra
Em solo britânico, as opções são as universidades de Kingston, Birkbeck, Bristol e a reconhecida Universidade de Oxford. Entretanto, nessas instituições o Enem é apenas um dos requisitos para se candidatar a vaga e todas as exigem apresentar o nível de proficiência em língua inglesa.
Na Universidade de Bristol, por exemplo, mesmo com a pontuação do Enem, o estudante precisa realizar a inscrição no Serviço de Admissão em Universidades e Faculdades (UCAS) (https://www.bristol.ac.uk/international/countries/brazil.html).
Na Universidade de Oxford, além do Enem é preciso elaborar uma carta de motivação e também passar pelo UCAS.
França
Para as oportunidades em solo francês as exigências são um pouco maiores. Apesar de aceitar a nota do Enem para alguns processos seletivos, é preciso ter sido aprovado em alguma universidade brasileira, pública ou privada, em um curso semelhante ao que almeja na França.
No país também é exigido resultado do exame de proficiência em francês e um bom histórico escolar do ensino médio. As oportunidades na França são na Université Paris-Saclay e no Instituto Nacional de Ciências Aplicadas de Lyon.
Portugal
Entre as 50 instituições que oferecem o ingresso com a nota do Enem, devido a um convênio com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), estão listadas também as Universidades de Coimbra, Lisboa e Porto, que estão entre as mais renomadas do país.
No momento, está aberto o processo seletivo via nota Enem na Universidade de Coimbra, que pode ser feito pelo site. Quanto à Universidade de Lisboa, que funciona em duas etapas, pode se informar sobre como se candidatar a uma vaga na plataforma digital da instituição.
Outros países como Irlanda, Escócia e Espanha também oferecem oportunidades em suas universidades. Na Irlanda, as universidades são as de Dublin e Cork; na Escócia a Universidade de Glasgow e na Espanha, a Universidade de Jaén.