Sidney de “Terra e Paixão”, ator cearense Paulo Roque comemora sucesso de personagem na novela
Intérprete do capanga de La Selva na novela das nove, Paulo Roque divide memórias da trajetória artística, celebra repercussão do personagem e ressalta importância da descentralização de artistas na TV
Das brincadeiras de menino na Cidade 2000 ao destaque inesperado na novela das nove da Globo, o cearense Paulo Roque construiu uma trajetória de persistência e reverência à arte da atuação. Intérprete do capataz Sidney em "Terra e Paixão", atual trama das 21 horas da emissora, o fortalezense fala ao Verso sobre carreira, repercussão e aberturas do mercado para artistas fora do eixo sudestino.
Nascido em Fortaleza em 1975, o ator lembra do encanto, ainda na infância, pelo quarteto dos Trapalhões. “Eu era uma criança que foi influenciada pela TV, como toda a minha geração. Meus pais ligavam sempre no domingo para assistir os Trapalhões e eu via aquilo e dizia ‘quero fazer isso aí’”, compartilha.
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Primeiros passos no teatro
A atração pela atuação foi aos poucos se concretizando: primeiro na escola, quando apresentava com uma amiga adaptações amadoras dos clássicos lidos na disciplina de Literatura. Depois, a partir do contato com a atriz Kátia Camila, do Grupo Balaio, que era vizinha de Paulo na Cidade 2000.
“Uma vez cheguei perto dela ali na praça, comecei a conversar e ela falou que estava fazendo uma peça e procurando atores. Eu disse ‘não tenho experiência de escola’, mas ela me levou lá, fiz uma leitura e fiquei”, recupera Paulo.
A essa oportunidade, logo se juntaram aproximações com grupos como a Comédia Cearense, com o diretor Haroldo Serra, e a Cia Cearense de Molecagem, com Carri Costa.
“Meus professores eram os próprios diretores, aprendia muito. É lógico que eu queria ter feito o (Curso) Princípios Básicos (de Teatro, formação do Theatro José de Alencar), mas não dava pra mim. Tive um filho muito cedo, tinha que me desdobrar, não tinha para estudar. Fui um pouco autodidata, mas sempre com esses mestres”, destaca.
Início no audiovisual
Além do teatro, Paulo também teve uma primeira experiência com o audiovisual, ainda em Fortaleza, ao compor elenco do curta “Paixão Nacional” (1994), de Karim Aïnouz. O ator credita à experiência o apaixonamento que encontrou no audiovisual.
“Eu queria viver essa dramaturgia, que no Ceará não tinha — pelo menos na minha época, hoje o cinema do Ceará está respeitadíssimo”, ressalta Paulo, citando admiração e desejo de parcerias com diretores como Armando Praça e Allan Deberton.
Para buscar esse caminho, se mudou para o Rio de Janeiro, onde teve as primeiras oportunidades na TV. Os trabalhos surgiam de forma esporádica, trazendo dúvidas sobre a continuidade da carreira. “Pensei em voltar para Fortaleza, não para desistir, mas para repensar”, reconhece Paulo.
Antes de efetuar o retorno, recebeu uma ligação sobre a oportunidade de fazer cinco diárias na novela “A Favorita” (2008) como parte do elenco de apoio. “Fui, fiz e os cinco dias viraram um contrato de um ano, fiz a novela inteira”, conta.
A experiência é destacada como a “escola na televisão” para o ator, que também cita a importância do trabalho no longa de ficção científica “O Homem do Futuro” (2011), na qual foi dublê de Wagner Moura.
Quem é Sidney em Terra e Paixão
Interpretado pelo cearense Paulo Roque, o personagem Sidney da novela “Terra e Paixão” é capataz da família La Selva. A partir dos desmandos dos patrões, em especial da vilã Irene (Gloria Pires), ele realizou diversas maldades e crimes.
Sidney chegou a ser preso por ter sido reconhecido por Caio (Cauã Reymond) e Jonatas (Paulo Lessa) como suspeito de causar o acidente que matou Daniel (Johnny Massaro) — o que só ocorreu justamente a mando de Irene, que na verdade tentava atingir Caio.
Para tentar se safar, a vilã paga um advogado para tirar Sidney da prisão e manda que o capataz deixe a cidade. Apesar disso, ele retorna para exigir mais dinheiro de Irene, que acaba matando o capanga. Apesar da morte na trama, o personagem segue aparecendo em memórias e, também, como “fantasma”.
“Presente” na carreira
A carreira trilhada ao longo dos anos desembocou neste ano em “Terra e Paixão”, trama das nove da Globo. Intérprete do capataz Sidney, o ator viu o personagem crescer de forma surpreendente e celebra a conquista.
“Nunca pensei que o Sidney fosse chegar onde chegou”, atesta. “A gente vai amadurecendo e pensa ‘o que posso fazer de melhor para esse personagem, seja de que tamanho ele for?’. Quando fui convidado para fazer a novela, não tinha dimensão do tamanho do Sidney, nem eles mesmos tinham”, lembra.
Capanga da família La Selva, o capataz concretizou diversas maldades a mando de Antônio (Tony Ramos) e Irene (Gloria Pires). “O Sidney foi se tornando esse capanga-chave. Enquanto o Ramiro (interpretado pelo ator Amaury Lorenzo) ia para a redenção, ele passou a ser mais sanguinário”, considera.
Destacando as parcerias com colegas de elenco e equipe, Paulo define o sentimento: “A sensação é de que a gente acertou”. O cearense também define o personagem como “um presente”.
“Enquanto a gente não consegue um lugarzinho em que a gente possa ter uma fluência de trabalho, a gente tá todo dia achando que vai desistir. O Sidney foi essa redenção, pra dizer ‘não desiste, não!”, compartilha. “Apesar de ter feito algumas participações, essa é a minha primeira novela de verdade, com um personagem na trama, com nome na abertura”, considera.
Pela repercussão, propostas para viver personagens de má índole já vem surgindo, mas Paulo ressalta que pretende fugir de rótulos. “Gosto do desafio do diferente, pensar o que posso dar de diferente para que um personagem não seja igual ao que já fiz”, explica.
Abertura do mercado
A presença do cearense no elenco de “Terra e Paixão” é um dos exemplos de um movimento recente de abertura das novelas para artistas que vivem e trabalham fora do Sudeste. “O Brasil é tão diverso, precisa ser mostrado”, defende.
“É prazeroso saber que esse espaço, que era tão fechado, está se ampliando — é lógico que também por causa de uma concorrência maior, com os streamings. Esses espaços deram oportunidade para ampliar e a gente não ficar só no eixo”, avalia.
Paulo reforça ainda, no entanto, que é preciso evitar limitações na escalação de atores nordestinos, que por vezes são lembrados apenas para papéis “regionais”. “Essa é a grande luta, todo ator tem essa vontade de não ser rotulado”, afirma.
Entre os próximos projetos já desenvolvidos, Paulo tem um roteiro de cinema que busca concretizar em breve e deve contar com parceria com a atriz paraibana Marcélia Cartaxo. Além dele, há também projetos com a atriz e realizadora Ângela Escudeiro, incluindo um longa e a série "Cassimiro e a flor da Dona Flor", com direção de Lília Moema.