Seis anos de reabertura do Cineteatro São Luiz são celebrados com participação de Fagner

Programação especial do equipamento traz nomes como, além do cantor e compositor, o historiador e professor Levi Jucá e a contadora de histórias Gorette Costa

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O cantor e compositor Fagner é um dos convidados para rememorar instantes de sua trajetória junto ao Cineteatro São Luiz
Foto: Henrique Kardozo

Era 2015 – precisamente neste dia, 25 de maio – quando um dos mais importantes e representativos equipamentos culturais do Estado destrancou as portas outra vez. A reabertura do São Luiz, protagonizada pela Secretaria da Cultura do Ceará (Secult-CE), oportunizou a chegada do espaço ao público como Cineteatro, alargando-o em relevância e atividades.

Nesta terça-feira (25), a celebração pelos seis anos do acontecimento resgata não apenas o fato em si, mas todo o panorama de histórias, olhares e memórias presentes nessa travessia. A programação da efeméride, totalmente virtual, começa hoje e segue até sábado (29). Neste dia, o cantor e compositor Raimundo Fagner participará, a partir das 18h, da seção “Relicário São Luiz”, dedicada a recuperar as experiências dos convidados junto ao equipamento.

Na ocasião, o reconhecido artista mergulhará desde os primeiros instantes junto ao lugar – quando ocupava, ansioso, as poltronas do cinema a fim de conferir os filmes em exibição – até os momentos em que, no palco do recinto, entoou clássicos capazes de emocionar milhares de espectadores.

Legenda: Gorette Costa e o mascote do Cineteatro, Luizinho, vão apresentar ao público a história do equipamento de forma lúdica e leve
Foto: Guilherme Silva

Antes do músico, ocupam a faixa de programação, na quinta-feira (27), o arquiteto cearense Robledo Duarte – autor de renomadas obras da seara arquitetônica de Fortaleza, a exemplo do próprio Cineteatro; e o historiador e professor Levi Jucá, nesta terça (25), que tratará de histórias referentes não apenas ao espaço, mas prioritariamente à biografia de Luiz Severiano Ribeiro (1885- 1974), idealizador da construção do cinema.

Abrindo todo o roteiro de ações, está a atividade realizada pela contadora de histórias Gorette Costa. Hoje, a partir das 17h, ela narra a trajetória do equipamento cultural, com muita leveza e diversão, por meio da contação intitulada “O Mundo Mágico de Luizinho”, valendo-se do mascote da instituição para reverberar uma vastidão de dados e fatos. Todos os eventos acontecem por meio das redes sociais do São Luiz e do canal do YouTube.

Legenda: De acordo com Gorette Costa, é importante que as pessoas conheçam o panorama desse espaço que permeia a memória afetiva e histórica de Fortaleza
Foto: Guilherme Silva

“Caixa mágica”

Ao Verso, Gorette Costa afirma que a proposta, com o momento, é contar a história do Cineteatro “desde o comecinho”, quando o então menino Luiz Severiano Ribeiro ainda subia em árvores e comia no pé. “A partir daí, seguimos até quando ele conheceu a ‘Caixa mágica’, de onde eram projetadas imagens, o cinematógrafo, e iniciou o seu encanto e empenho em construir a maior sala de cinema de todas”, explica a contadora, também pedagoga e especialista em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (Uece).

A prioridade na condução da atividade, assim, é realçar o encantamento que o mágico lugar nos traz, um sentimento que Gorette carrega desde criança, quando conheceu o lugar. “Pra mim, um dos dos momentos mais emblemáticos foi o período em que o cinema ficou com a obra parada. Essa história é longa e até virou lenda na cidade”, recorda.

“Fui uma criança que conheceu a ‘caixa mágica’ no São Luiz. Lembro exatamente da sensação de ser princesa quando entrei lá entrei. Meus olhos não paravam! Corria as escadarias bem rápido e descia desfilando bem devagar... Subir nesse palco, entrar nos lugares reservados, é a realização de um sonho de criança e de artista”, completa a contadora.
Gorette Costa
Contadora de histórias

Segundo ela, é muito importante que as pessoas conheçam o panorama desse espaço que permeia a memória afetiva e histórica de grande parte do povo cearense. Acumulando esses saberes, toda a sociedade poderá se apropriar de um lugar público, rico em beleza e historicidade.

“Espero despertar nas crianças e no público, de um modo geral, a vontade de conhecer, ocupar e cuidar desse equipamento histórico, mágico, sonhado e idealizado por alguém. Um lugar onde sonhos se tornam realidade. Torço para que muitos, assim como eu, sonhem nesse lugar”, vibra.

Legenda: Para Gorette Costa, o Cineteatro São Luiz é um lugar onde sonhos se tornam realidade
Foto: Guilherme Silva

Raízes

O historiador e professor Levi Jucá, por sua vez, detalha que o diálogo no qual participará por meio do “Relicário São Luiz” – focando na biografia de Luiz Severiano Ribeiro, idealizador da construção do cinema – trará múltiplos detalhes a respeito desse cearense natural de Baturité e empresário do ramo exibidor, que iniciou seus negócios em Fortaleza com a inauguração do Cine Riche (1915), do Cine-Theatro Majestic (1917) e do Cine Moderno (1921), todos na Rua Major Facundo, quarteirão próximo da Praça do Ferreira. 

“Mudando-se para o Rio de Janeiro, em 1925, tornou-se, em poucos anos, o ‘Rei do Cinema’ no Brasil. Ainda hoje, o Grupo Severiano Ribeiro é a empresa nacional com maior número de salas de cinema (Kinoplex/UCI-Ribeiro) no país, tendo à frente Luiz Severiano Ribeiro Neto, representante da terceira geração familiar”, destaca Levi.

Legenda: Levi Jucá escreveu o livro “Um Século de Magia: origens de um Empreendedor à frente do seu tempo”, biografia de Luiz Severiano Ribeiro (1885- 1974)
Foto: Divulgação

No posto de residente e pesquisador na região do Maciço de Baturité, o estudioso foi convidado pela família Severiano Ribeiro para escrever o livro “Um Século de Magia: origens de um Empreendedor à frente do seu tempo”, lançado no Rio de Janeiro em julho de 2017, por ocasião da celebração do centenário da empresa. 

Foram dois anos de pesquisa em arquivos públicos e privados no Ceará e no Rio de Janeiro, para, enfim, produzir o texto da obra, que retrata principalmente as origens familiares e os primeiros negócios ainda no Ceará, contemplando o período do século XIX e as primeiras décadas do século XX. 

“Retrato não apenas o fundador dos cinemas, como o seu pai, o médico Luiz Severiano Ribeiro – atuante em Baturité como responsável pelo tratamento dos indigentes das grandes secas de 1877 e 1888, e casado com Maria Felícia Caracas Ribeiro, de família pioneira na produção do café em Guaramiranga. Bem como de seu avô, o Major João Severiano Ribeiro, que foi o primeiro vice-provedor da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, e funcionário público da então Província, chegando ao cargo de Inspetor do Tesouro Provincial, o equivalente nos dias de hoje ao de Secretário da Fazenda”, dimensiona.

Presença e modernidade

Sobre o Cine São Luiz, um pouco de sua história foi considerada no livro “O Rei do Cinema”, de Toninho Vaz, lançado em 2007. Mesmo jovem, Levi carrega a feliz lembrança de ter assistido a alguns filmes no emblemático cinema na década de 1990, bem como, recentemente, ter tido a oportunidade de lançar um livro lá. 

Além disso, traz à superfície a doce memória de levar os filhos para assistir ao filme “Cangaceiro Trapalhão”, descrito por ele como uma “pérola do cinema nacional” de sua infância, reprisado em programação especial e gratuita.

A história cultural moderna cearense, sobretudo de Fortaleza, passa pelo São Luiz. Importante saber das raízes cearenses muito valorizadas pelo próprio Luiz Severiano Ribeiro, que fez questão de fazer do São Luiz o mais belo e moderno cinema de sua época, entre Norte e Nordeste do Brasil, em sua própria terra natal”, destaca o historiador.

Legenda: Para Levi Jucá, a história cultural moderna cearense, sobretudo de Fortaleza, passa pelo São Luiz
Foto: Saulo Roberto

Mais: durante as negociações de venda do cinema e do edifício São Luiz, a família proprietária abriu mão de vendê-lo pelo preço integral de avaliação do imóvel para uma igreja – que o transformaria em templo religioso e que estava disposta a pagar o valor da avaliação – a fim de tratar com o Governo do Estado, que poderia pagar apenas 20% do total, mas que tinha como promessa restaurá-lo e manter a sua função cultural. 

“Creio que isso diz muito sobre o sentimento que o fundador legou aos seus descendentes no que diz respeito à sensibilidade por essa memória”, percebe Levi.
Levi Jucá
Historiador e professor

“Luiz Severiano Ribeiro tem um nome e uma história de alcance nacional, mas que foi alicerçada em Fortaleza, onde demonstrou desde muito cedo sua vocação comercial, apostando nas grandes novidades do momento: livraria, tipografia, cervejaria, fábrica de gelo, bilhar, hotel, até chegar ao cinema. Portanto, creio que essa edição interessa não apenas aos cearenses, mas a todos os públicos amantes da cultura e do cinema nacional”, complementa.

Isso porque o Grupo Severiano Ribeiro também produziu filmes por meio da fundação da Atlântida Cinematográfica, responsável por lançar as famosas comédias e chanchadas entre os anos 1940 e 1960, estreladas por nomes como Oscarito (1906-1970), Grande Otelo (1915-1993), Dercy Gonçalves (1907-2008), Anselmo Duarte (1920-2009), Dick Farney (1921-1987), entre outros. 

“Espero que todos gostem do diálogo em que participarei e sintam mais curiosidade em conhecer as história de nossa gente e de nossa terra. Como professor, percebo que, atualmente, a nova geração por vezes tem mais referências históricas e culturais junto a outros povos e países, do que mesmo com o seu entorno, sua cidade, o Ceará”, considera.

Legenda: História da fundação do equipamento perpassa o sentimento que o fundador legou aos seus descendentes no que diz respeito à sensibilidade pela memória
Foto: Natinho Rodrigues

Casa de encontro

Diretor do Cineteatro São Luiz, José Alves Netto avalia que, após seis anos de reabertura, o equipamento cultural se consolida como casa de encontro com a arte e com a cultura “democrático, plural e acessível”. “Um espaço que dinamiza o cenário artístico do Ceará em conexão com o Brasil e o mundo, além de elemento vital no direito de reinventar a cidade a partir da arte e da cultura”, descreve.

O gestor também destaca que o São Luiz pode ser encarado como um espaço de reinvenção, uma vez que, nesse tempo de retorno ao público, reinventou os palcos para receber todas as linguagens artísticas; já agora, no atual momento de pandemia de Covid-19, se reinventa outra vez a fim de chegar a milhares de telas em formato virtual.

“A importância de ter um equipamento cultural, um patrimônio como o São Luiz, em pleno funcionamento e em sintonia com o público – mesmo nesses tempos tão difíceis –, se propondo a novas experiências de participação e interação com esse público, merece, anualmente, uma celebração. Nessa programação específica, aliamos o desejo de comemorar com  a vontade de manter a história desse patrimônio cada vez mais viva”, situa.
José Alves Netto
Diretor do Cineteatro São Luiz

Imbuído desse desejo, João Alves Netto sublinha que as atividades propostas traduzem o  sentimento de pertencimento, de memória e lembranças, mas também apontam para a cena de hoje, buscando alcançar o que o Ceará tem de melhor da criação artística, dos artistas e dos convidados. 

Temos nomes importantes da cena local que dão sua contribuição e deixam marcas inconfundíveis nas propostas de espetáculos e participações por meio de entrevistas – em especial, a faixa de programação Relicário São Luiz, que traz narrativas pessoais dos convidados entrelaçadas à história o Cineteatro São Luiz”, diz. “ A trajetória do equipamento é bela e tem altos e baixos. Mas a partir da reinauguração, com a transformação do cinema em cineteatro, as perspectivas de manter vivas sua memória e sua história se ampliaram”.

Legenda: Diretor do Cineteatro São Luiz, José Alves Netto afirma que as atividades propostas traduzem o sentimento de memória, mas também apontam para o hoje
Foto: Saulo Roberto

Igualmente trazendo à superfície os mágicos momentos de contato com o cinema nas dependências do equipamento, o gestor finaliza a conversa afirmando que o São Luiz funciona hoje em vários formatos – presencial, híbrido e virtual – buscando, assim, cada vez mais, o diálogo com o público,  com a praça e com os artistas de rua, como também almeja abrir outras possibilidades de chegar cada vez mais longe para alcançar novas plateias.

“Desejo vida longa a esse templo da arte, que o São Luiz possa expandir seus limites físicos cada vez mais, transbordando em todo o Estado. Acolhendo programações e também ampliando repertórios e o sentimento de pertencimento de toda a população cearense. O São Luiz é nosso!”, festeja.


Serviço
Programação em celebração pelos seis anos de reabertura do Cineteatro São Luiz
A partir desta terça-feira, a partir das 17h, com a contação de histórias “O Mundo Mágico de Luizinho”, com Gorette Costa. O momento será transmitido no site e no canal do YouTube do equipamento. Livre e gratuito. Abaixo, a programação da seção “Relicário São Luiz”, também transmitido pelas duas plataformas, mais o Instagram (@cineteatrosaoluiz)

Dia 25/05 (terça)

18h: Relicário São Luiz, com Levi Jucá 
Classificação: Livre

Dia 27/05 (quinta)

18h: Relicário São Luiz, com Robledo Duarte 
Classificação: Livre

Dia 29/05 (sábado)

18h: Relicário São Luiz, com Fagner
Classificação: Livre

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