Renato Russo, o punk que cantou a esperança de um Brasil melhor
Há exatos 25 anos, o líder da Legião Urbana saia de cena e deixava um legado musical que até hoje é farol ao coração da juventude (ou nem tão jovens)
Escrito por
Antonio Laudenir
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laudenir.oliveira@svm.com.br
Renato Manfredini Júnior viveu apenas 36 anos. Em grande parte dessa existência, foi a música o signo máximo de expressão. Ainda no berço, por intermédio de uma tia, escutava Elvis para embalar o sono. Após a infância entre Rio de Janeiro e Estados Unidos, descobriu a então nova capital do Brasil. Em Brasília virou punk e nada mais foi o mesmo.
"Punks de boutique. De fim de semana. Mas, a gente era", contou ao jornalista Zeca Camargo durante entrevista à MTV. Em outubro de 1996, a morte do cantor e compositor também encerrava o ciclo de um dos grupos mais prestigiados da “geração 80" do rock nacional. Renato Russo e Legião Urbana. Criador e criatura irmanados.
A primeira banda que o carioca participou nunca chegou a existir. A “42th street band” era fruto da imaginação fértil do adolescente. Com os amigos ensaiava covers de Sex Pistols e Ramones. Porém, era preciso outra atitude. "Monte sua própria banda e fale o que você tem a dizer", conta o próprio em trecho de reportagem transmitida pela Rádio Câmara.
Faça suas canções
Assim, Renato herda o lema punk do “faça você mesmo”. Pouco importa a qualidade do som, contato que a mensagem seja entregue. Veio o projeto Aborto Elétrico com os irmãos Fê e Flávio Lemos (de onde saíram "Que País é Este", "Conexão Amazônica", “Fátima”, “Veraneio Vascaína”). Em seguida, a fase solo como “trovador solitário” cria "Geração Coca-Cola", “Faroeste Caboclo”, “Eu Sei” e “Eduardo e Mônica”.
"O rock é uma forma legal de se trabalhar, pois, sendo uma arte bastarda, incorpora todos os tipos de música. Então é mais uma atitude e não exatamente música. Você tem, sabe, um quarteto de cordas tocando 'Yesterday', como os Beatles fizeram, isso é rock. Ao mesmo tempo que eu posso pegar uma base de repente, como fazemos em 'Faroeste Cabloco'. A primeira parte da música toda é virtualmente um repente. Mas, não deixa de ser rock", conta o músico em trecho do documentário "Rock Brasília - Era de Ouro" (2011).
Com Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha (1961-2015) cravou a aura da Legião Urbana em oito trabalhos de estúdio. Do disco homônimo de estreia em 1985 até o póstumo “Uma Outra Estação” (1997), o grupo emplacou sucessos em rádios, novelas e visitou palcos pelo Brasil. Bem, em relação aos shows, vale dizer, a história marca alguns contratempos.
O episódio mais simbólico ocorreu em junho de 1988. A apresentação no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, foi considerada desastrosa. Confusão no público, quebra quebra e Renato atacado em pleno palco. Resultado, nunca mais eles voltariam a realizar concertos (como Legião) na cidade que os projetou.
Em março daquele ano, a Legião tocou pela primeira vez em Fortaleza. Retornaram em 1990, com ambas apresentações no Ginásio Paulo Sarasate. Essa última, com direito ao ingresso mais caro daquela temporada.
Até o fim
Estabelecido no cenário musical brasileiro, Renato Russo traçou outros caminhos sonoros na última década carreira. Sem deixar os trabalhos com a Legião, gravou “The Stonewall Celebration Concert” (1994), álbum cantado em inglês que celebrou a Rebelião gay de Stonewall, ocorrida em 1969 em Nova Iorque.
Parte da renda da obra foi doada à campanha “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida”, idealizada por Herbert José de Souza (1935-1997), sociólogo brasileiro reconhecido na luta pelos direitos humanos. Com “Equilíbrio Distante” (1995), Renato abraçou temas italianos em homenagem às raízes familiares.
Antes de partir, compôs e gravou até onde o frágil estado de saúde lhe permitiu. Renato Russo denunciou injustiças e violências. Cantou insatisfações juvenis. Abordou as dores e solidão. Misturou filosofias e evangelho. Do adolescente punk persistiu a urgência de lutar por liberdade. Ao seu modo, adentrou a relevância de impormos contra os desmandos. Nada mais urgente à conjuntura atual do Brasil.
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