'Que Nem Tu': Jurandir Filho, do Cinema com Rapadura, fala sobre impor sotaque do Nordeste na web

O criador de conteúdo cearense relembra os desafios de desbravar a internet em 2004 e de ser um dos primeiros podcast do Brasil

Escrito por Redação ,

O cearense Jurandir Filho se denomina um cientista da cultura pop. Em 2004, lançou ao lado de dois amigos o site Cinema com Rapadura. A ideia era aplicar os conhecimentos de programação que o trio aprendia na faculdade com a paixão pelo cinema, publicando críticas, notícias e perfis sobre a sétima arte de um jeito descomplicado e jovem. Dois anos depois, eles já criaram o Rapadura Cast, um dos primeiros podcasts brasileiro, e já se tornaram uma referência nacional no assunto.

Com quase 20 anos, o Cinema Com Rapadura viu muita gente entrar e sair do projeto, a indústria cinematográfica mudar, os streamings imprimirem novas lógicas de produção e distribuição de séries e filmes e tantos leitores e ouvintes se relacionarem das mais diversas formas com seu conteúdo. E sempre nesse tempo todo, Jurandir Filho estava presente. Nem sempre foi fácil, na verdade, ele confessa que muitas vezes foi muito difícil. 

O criador de conteúdo é o entrevistado de Alan Barros e Karine Zaranza do episódio de hoje (13) do Que Nem Tu, podcast do Diário do Nordeste que conta a história de nordestinos que se destacam nas mais diversas áreas. O cearense relembrou a infância, adolescência, o início do projeto, a resistência de ser uma voz com sotaque nordestino para falar de cinema na internet e os desafios de agora.

Jurandir conta que, quando o Cinema com Rapadura surgiu, falando das estreias da semana, dos filmes, com sotaque nosso, nordestino, trazendo informações e opiniões, eles receberam uma série de ataques xenofóbicos.

"Foi na porrada que a gente conseguiu desbravar esse espaço porque realmente a gente escutava muito comentário negativo. E na história do Rapadura a gente fez diversos editoriais. Inclusive, escutar hoje esses podcasts são bem emblemáticos porque a gente apanhou muito no começo", relata.

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Apesar disso, nunca passou pela cabeça desistir. Pelo contrário, o cearense foi se dedicando a estudar outras áreas, fazer pós-graduação, cursos em áreas que o time precisaria aprender tanto para escrever quanto impulsionar e comercializar a marca, que já tinha ganho espaço também na mídia tradicional, como uma coluna no Diário do Nordeste. 

"Eu sou formado em sistema de informação. Tive que estudar, fazer pós-graduação. Eu tive que aprender muita coisa. Demorou seis, sete anos pra entrar algum trocadinho no Cinema com Rapadura", explica. A demora para viabilizar financeiramente o Rapadura contribuiu para que houvesse uma rotatividade grande de integrantes do time. 

"Eu sempre senti muito [a saída de pessoas do elenco]. Eu vou processando. Mas eu acredito muito que as pessoas gostam de acompanhar o projeto. Eu sou muito grato as pessoas que fizeram parte do Cinema com Rapadura em qualquer época, seja no podcast e no próprio site. O Cinema com Rapadura foi um projeto que demorou muito pra se tornar viável comercialmente. Mas ele sempre teve muito público. Muito por causa da minha falta de tato de entender como comercializar o site".

Jurandir abriu o coração e um pouco de sua história pessoal e como alguns momentos impactaram em sua trajetória profissional. Caçula de 5 irmãos, Jurandir sempre achou que não era ouvido. "Meu principal trabalho é a voz. Aí você pensa assim: por que eu criei o podcast? Porque as pessoas escutam. Elas podem gostar ou não. É indiferente. Mas estou sendo ouvido. Minha voz tem relevância", defende.

Ele contou ainda sobre como o cinema e os games foram importantes em um momento difícil e traumático que viveu muito jovem. Perdeu os amigos em uma acidente de carro e Jurandir conta como o filme O Rei Leão o ajudou a assimilar o luto e sua dor. 
 

 

 


 

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