Mudanças, pressão social, exaustão: espetáculo cearense faz rir e pensar sobre questões do hoje

“Choveu e as Nuvens Caíram no Chão” realiza curta temporada no Teatro Dragão do Mar a partir deste sábado (20)

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: As emoções são vividas, no palco, pelo casal de atores Vini Fernandes e Iago
Foto: Tim Oliveira

Ninguém é imune às guinadas da vida. A pressa do cotidiano comprova isso. O que foi ontem pode não ser hoje, e o amanhã que virá nem sempre virá mesmo. Entre esses dramas e surpresas da existência comum, está um trabalho teatral cearense cujo foco é refletir sobre tais pontos de forma tão vigorosa quanto leve.

“Choveu e as Nuvens Caíram no Chão” estará em curta temporada no teatro do Dragão do Mar a partir deste sábado (20), seguindo nos dias 21, 27 e 28 de maio, sempre às 20h, com ingressos gratuitos.

As duas últimas sessões contarão com audiodescrição e intérprete de libras. Além da acessibilidade, é preciso mesmo que o espetáculo chegue a mais pessoas.

No centro da trama, as exigências sociais de nossa época capazes de levar pessoas a estados de sofrimento psíquico, algo metaforizado já no título da peça. “Dentre muitas possibilidades de leitura, tem a de que a natureza nos ensina: que tudo é cíclico, tudo é fluxo, e as coisas mudam conforme esse ciclo”, introduz o dramaturgo Rafael Martins.

Legenda: Transposição do texto da peça para o palco ficou por conta do dramaturgo, Rafael Martins, e do diretor, Yuri Yamamoto
Foto: Tim Oliveira

Obedece a lógica das nuvens: uma hora estamos no céu, outra hora tudo se dissolve e caímos no chão. “Mas cair é necessário e faz parte da vida. Amanhã a gente já está novamente se reerguendo. A vida também é sofrimento, mas não é só sofrimento”, complementa o artista. Essas modulações são vividas, no palco, pelo casal de atores Vini Fernandes e Iago.

Atriz e produtora cultural, Vini também é idealizadora da peça – pensada há 20 anos, mas sem ter saído do papel ainda. A transposição para o palco ficou por conta de Rafael Martins e do diretor, Yuri Yamamoto. Segundo ele, “toda a peça gira em torno da palavra”.

“Os outros elementos ficam em segundo plano justamente para dar mais destaque à dramaturgia dos personagens e aos diálogos”, explica. 

Essa também é uma forma de o público sentir melhor o texto e captar a mensagem transmitida. Isso não impede, claro, de a trupe usar imagens e elementos complementares, mas a palavra é mesmo o forte de todo o espetáculo. “O objetivo é dar voz aos sentimentos”.

Respiro para os dias

Por falar sobre comportamentos e dramas comuns da vida cotidiana, a peça mergulha fortemente nas contradições do ser contemporâneo – o que resulta no efeito de reflexão e leveza simultâneos.

É fato, por exemplo, que estamos cada vez mais ágeis, empreendedores, criativos, e cuidamos e valorizamos muito bem a própria imagem. Sabemos fazer networking. Do outro lado, traumas e desassossegos estão sempre à espreita. 

Legenda: Equipe do espetáculo “Choveu e as Nuvens Caíram no Chão”
Foto: Divulgação

“Todo mundo é muito preparado e fala muito bem com frases prontas sobre sobre cuidar de si e sobre felicidade. A tecnologia está cada vez mais avançada, com muito acesso à informação, mas tem uma contradição no meio disso tudo porque ao mesmo tempo essa é uma sociedade mais depressiva e ansiosa”, pondera Rafael Martins.

A montagem, assim, aborda esses temas de forma poética sem deixar de jogar luz na questão da produtividade – algo que, conforme o dramaturgo, nos tira o caráter contemplativo das coisas. “‘Choveu e as nuvens caíram no chão’ é, portanto, um respiro em meio aos dias agitados que temos levado”, conclui.

 

Serviço
Espetáculo “Choveu e as Nuvens Caíram no Chão”
Dias 20 (estreia), 21, 27 e 28 de maio, às 20h, no Teatro Dragão do Mar (Rua Dragão do Mar, 81, Praia de Iracema). Entrada gratuita

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