Maria Gadú detalha angústia com desaparecimento de Dom Phillips e Bruno Pereira e pede “nenhuma gota de sangue a mais"
A artista estrela O Som do Rio, série que chega ao Youtube nesta terça-feira (14), às 11 horas
A cantora e ativista socioambiental Maria Gadú detalhou a angústia dela em relação ao desaparecimento dos indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, na Amazônia. Durante evento de lançamento em São Paulo de O Som do Rio, série que chega ao Youtube nesta terça-feira (14), às 11 horas, a artista afirmou que o caso é mais um sinal de como, diariamente, o Brasil mata ativistas e defensores dos direitos humanos.
“É um momento de muita dor. Dom Phillips e o Bruno eram parceiros, companheiros. São quatro ativistas que morrem por dia nesse país. A gente não pode deixar passar impune. Eles ainda estão desaparecidos e, sim, encontraram dois corpos. Ou seja, são dois outros corpos. De quem? Quem matou? Quem mandou matar? Por que aqueles corpos estavam lá? É um sinal que Brasil mata ativista, mata protetor da floresta, mata protetor dos direitos humanos”, desabafou a cantora em entrevista ao Diário do Nordeste.
Maria Gadú estrela série do Youtube na qual aborda viagem de conhecimento e descoberta pelo Rio Tapajós, no Pará. Em quatro episódios, dirigidos por Carol Quintanilha, Maria Gadú convida personalidades como Thelma Assis (médica e vencedora do BBB 19), Vítor diCastro (ator e influenciador digital) e Lenine (cantor e compositor) a se desconectarem da vida na cidade e embarcarem numa jornada de transformação, em que a conexão real é tudo que encontrarão.
A série é criada por Maria Gadú, Estela Renner e Marcos Nisti, produzida pela Maria Farinha Filmes, e tem o objetivo de mostrar a riqueza da floresta e chamar a atenção para a urgência em frear os impactos ambientais na região.
Além de mostrar a beleza da Amazônia, a série também retrata os efeitos da atividade de garimpo. "Nos outros episódios vêm as cenas do garimpo, que é típico da região. É de doer o coração. A gente começa com beleza para as pessoas, quando virem a destruição, sentirem que isso não pode", explica Maria Gadú.
No evento de lançamento de O Som do Rio, várias imagens foram reproduzidas no telão com dados sobre assassinatos de ativistas ambientais e perguntas sobre onde estão Bruno Pereira e Dom Phillips.
“O silêncio nunca foi opção, apesar de ele ter sido muitas vezes forçado a todo mundo que está nessa luta. A gente quer o som do rio, a gente quer o som da floresta ecoando muito alto. Todo mundo merece. E nenhum gota de sangue a mais”
Maria Gadú pontuou ainda como ameaças fazem parte da rotina de quem vive na região e atua como ativista ambiental. “Alessandra Munduruku, Maria Leusa Munduruku são lideranças muito importantes que são constantemente ameaçadas, suas casas queimadas, suas casas invadidas. E a gente segue lutando que de silêncio a gente nunca viu ou ouviu, só ouve falar”, acrescentou.
Ficha técnica - O Som do Rio
Produção: Maria Farinha Filmes
Roteiro: Flávia Borges e Carol Quintanilha
Colaboração de roteiro: Val Munduruku, Duda Porto e João Iglesias
Direção: Carol Quintanilha
Produtores: Maria Gadú, Estela Renner, Luana Lobo, Marcos Nisti e Mariana Oliva
Produção executiva: Joelma Oliveira Gonzaga
Distribuição: YouTube
Elenco: Maria Gadú, Val Munduruku, Lenine, Vítor diCastro, Thelma Assis, Felipe Castanhari
Duração prevista: 4 x 15'
Entenda o caso
Em 5 de junho, o indigenista Bruno Araújo Pereira, da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), e o jornalista inglês Dom Phillips, do britânico The Guardian, partiram da comunidade ribeirinha de São Rafael em direção à cidade de Atalaia do Norte, ambas no estado do Amazonas.
A viagem costuma durar apenas duas horas, mas Bruno e Dom nunca chegaram. Após horas sem contato, uma equipe da Univaja formada por indígenas conhecedores da região que trabalhavam com Bruno partiu em busca dos dois, mas sem sucesso. Nesta segunda-feira (13), a Unijava também negou, em nota, ter encontrado algum corpo na área de busca.