Marcos Lessa traz repertório da MPB em show de homenagem a Elis Regina: 'Me fez querer ser cantor'

“Arrastão” foi o marco de popularização da cantora Elis Regina. Em 1965, ela entoou a música no 1º Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior, chamando atenção pela performatividade na interpretação e vencendo o concurso.

Quase cinco décadas depois, em 2013, a faixa foi uma das escolhidas pelo cearense Marcos Lessa para compor o repertório que ele apresentaria na participação no reality musical “The Voice Brasil”. “O povo ficou ‘pô, mas ela é de 1965, da era dos festivais’ e eu respondi ‘mas isso aqui não é um festival de TV? Pode ficar massa’”, lembra o artista em entrevista ao Verso.

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“Eu estava com 22 anos, em rede nacional, numa oportunidade que tive para cantar uma coisa super comercial e ficar famoso, mas eu quis cantar Edu Lobo e Vinícius de Moraes (compositores da canção). Sou discípulo da Elis”, atesta o cearense.

Essa é apenas uma das ligações dele com a obra da cantora gaúcha, que ganha na próxima sexta-feira (12) mais um capítulo: o show “Saudades do Brasil: Marcos Lessa canta Elis Regina”, que estreia no Teatro RioMar Fortaleza e traz repertório que passeia pela música popular brasileira (MPB).

'Elis Regina me fez querer ser cantor'

O início da relação de admiração e reverência vem ainda da infância do cantor. “Elis é minha primeira paixão”, define. Com cerca de 10 anos, ele lembra, estava ouvindo rádio no quarto dos pais e foi “fisgado”. 

“Fiquei extasiado. Quando a música terminou de tocar, falaram: ‘Ouvimos Águas de Março, com Elis Regina. Gravei esse nome pela primeira vez”, narra. O interesse na artista o levou a pesquisar sobre ela, tendo como uma das principais fontes os discos que encontrou no escritório do pai.

“Eram uns 10 CDs. Ficava ouvindo, ‘que música legal’ e aí olhava o encarte. ‘Compositor João Bosco, quem é?’ e ia atrás de ouvir. Comecei a conhecer a MPB através da Elis. Na época do CD, do LP, o encarte sempre foi convidativo”, aponta Marcos.

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Com o tempo e a internet, outras fontes de pesquisa foram se somando, como vídeos de YouTube de apresentações de Elis, por exemplo. “Vê-la cantando é arrebatador. Ouço Elis há mais de 20 anos e continuo muito encantado. Foi a Elis Regina, gostar dela, que me fez querer ser cantor”, atesta.

A influência cedeu lugar ao sonho de, um dia, realizar um tributo a Elis. “Mas não me sentia pronto. Como sou fã, não ia conseguir fazer de qualquer jeito. Foi um tempo de maturação”, afirma o artista. 

'uSaudades do Brasil'

Seguindo “fiel à estética sonora” colocada por Elis nas interpretações feitas por ela ao longo da carreira, o show “Saudades do Brasil” — batizado assim em referência ao disco da gaúcha lançado em 1980 — se inspira na ideia simbólica do nome. “Eu tenho saudades do Brasil que a Elis gostava, onde a gente tinha, nas composições, letra legal, melodia, arranjo, proposta”, defende Marcos. 

“Como Elis era intérprete, ela é a guardiã da música brasileira. Cantar Elis é cantar a MPB como um todo, porque, num show só, são composições de Gil, Caetano, Ivan Lins, Gonzaguinha, João Bosco, Aldir Blanc, Paulo César Pinheiro, Chico Buarque, Milton Nascimento, Belchior, Guilherme Arantes…”

A homenagem a Elis é o mais recente tributo produzido por Marcos Lessa, cujos shows têm proposto uma jornada pela música brasileira, seja a partir de um recorte de gênero musical — em projetos dedicados a samba e axé — ou de uma obra artística específica — como no caso atual. 

“Hoje já tenho um nome mais consolidado no Estado. No começo ninguém conhecia Marcos Lessa, mas conhecia Gonzaguinha, então era uma estratégia que eu tinha de destacar nomes da música brasileira e também usar esses tributos para me fazer conhecido. Acabou virando uma marca minha”, reconhece.

Entre o autoral e os tributos

A predileção não faz o cantor esquecer da produção autoral. “Tenho nas plataformas lançamentos que faço todo ano, todos autorais. A dinâmica artística com o público se dá em dois âmbitos: o digital, onde as pessoas estão no dia a dia ouvindo, e no ao vivo, que é o show”, estabelece.

“No digital, busco lançar meu trabalho autoral, mas no ao vivo o meu foco é o público, é sentir o que a turma está querendo ouvir e a gente encaminha o show nesse sentido”, explica, ressaltando que alinha tal intenção com a “defesa da música popular brasileira, de forma até meio militante”.

A “militância” citada se revela nesse gesto de fortalecer pontes e ligações entre gerações diferentes tanto de artistas quanto de público. “Na turma que vai (ao show), tem pessoas que eram fãs da Elis, de uma faixa que a acompanhou em vida; um pessoal mais novo como eu, que conhece a obra dela; e um ou outro que vai porque gosta do meu trabalho”, arrisca.

“Já ouvi gente falando: ‘Marquinhos, comecei a ouvir Belchior depois de ti’ ou ‘não ouvia Gonzaguinha, comecei depois de te ouvir cantando. Para esses, espero que saiam de lá ouvindo Elis, também”, convida.

Saudades do Brasil: Marcos Lessa canta Elis Regina

Quando: sexta, 12, às 21 horas
Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Des. Lauro Nogueira, 1500, Papicu)
Quanto: a partir de R$ 50; ingressos à venda na plataforma Uhuu 
Mais informações: @teatroriomarfortaleza e @marcoslessa