Festival Eleazar de Carvalho celebra os 50 anos da Fundação Edson Queiroz com concertos virtuais

Evento promovido pela instituição homenageada, em parceria com a Fundação Eleazar de Carvalho, inicia neste domingo (11) e segue até o dia 25

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: Registro da última edição do Festival Eleazar de Carvalho realizada de forma presencial, em 2019: intercâmbio de saberes continua
Foto: Ares Soares

No ano em que se comemora o meio século de história da Fundação Edson Queiroz, a arte marca presença em amplas frentes. Neste mês, é a música erudita que irrompe em novos intercâmbios a partir da realização de mais uma edição do Festival Eleazar de Carvalho. O evento inicia neste domingo (11), com abertura às 19h, e segue até o dia 25 de julho, primando pela apresentação de concertos virtuais gravados e cursos ofertados em diversos segmentos.

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Mensurar a relevância da iniciativa é expediente comum de Robson Lima, trompista cearense e maestro da Big Band Unifor – vinculada à Universidade de Fortaleza. A trajetória do músico está intimamente ligada ao Festival Eleazar de Carvalho. Foi em 1999, no primeiro ano do evento na Capital, que ele decidiu investir profissionalmente na carreira musical junto ao instrumento trompa.

“À época, a dona Sônia [Muniz de Carvalho, diretora artística do evento] trouxe para Fortaleza um dos maiores professores de trompa do mundo, eu diria: Ozéas Arantes. Ele foi trompista-solo da Orquestra Sinfônica de São Paulo durante 37 anos”.
Robson Lima
Trompista e maestro da Big Band Unifor

“É um gênio da trompa e, hoje, também um grande amigo. O festival, inclusive, tem essa característica que é a de transformar vidas”, situa.

Não à toa, o investimento na formação e aperfeiçoamento de estudantes do Ceará e de todo o Brasil a partir do contato com grandes nomes da música erudita, nacionais e internacionais.

Neste ano, os cursos iniciam a partir desta segunda-feira (12), reunindo dezenas de alunos em salas virtuais nos turnos manhã e tarde. Entre os instrumentos a serem trabalhados, estão violoncelo, viola, contrabaixo, percussão, piano, flauta, violino, trompete e clarineta.

Além de homenagear a Fundação Edson Queiroz, a ação também presta tributo a três músicos cearenses amplamente reconhecidos na seara: Alberto Nepomuceno (1864-1920), Jacques Klein (1930-1982) e o próprio Eleazar de Carvalho (1912-1996). Desta feita, serão exibidos, na celebração, depoimentos de ex-alunos do Festival que tiveram os caminhos modificados por meio da música e que continuam atuando na área, herança incontornável desses mestres.

Legenda: Além de homenagear a Fundação Edson Queiroz, a ação também presta tributo a três músicos cearenses amplamente reconhecidos na seara
Foto: Ares Soares

Promoção de diálogos

Violinista, regente e filho do maestro que nomeia o projeto, Sergei de Carvalho vibra pelas oportunidades capitaneadas nos 23 anos da iniciativa em Fortaleza. Segundo ele, o momento representa uma ação comunitária de amizade e amor, tudo compartilhado por meio da arte.

“A dicotomia do festival – festa e aprendizado – já proporcionou a diversos alunos o raro privilégio de um aperfeiçoamento para alçar carreiras até mesmo no exterior. São inúmeros os estudantes que hoje se apresentam como músicos de orquestras e solistas. Há também os que se tornaram mestres e rendem sua homenagem ao seu incentivador e inspirador, Eleazar de Carvalho”, sublinha.

Esse modelo da ação em solo alencarino vem de Tanglewood, um curioso recanto na cidade de Lenox, Estado de Massachussets, nos Estados Unidos. Foi lá onde Eleazar de Carvalho estudou na década de 1940, sendo sucessor de seu mestre, Sergei Koussewitzky, diretor musical da Orquestra Sinfônica de Boston. 

“Assim, ele adicionou ao festival, além dos espetáculos, um caráter pedagógico, incluindo a participação de bolsistas orientados por renomados mestres e doutores em seus instrumentos. O modelo até hoje é utilizado no Festival de Inverno de Campos do Jordão, sendo também adotado em Gramado (RS), Itu (SP) e João Pessoa (PB). A vinda do festival para Fortaleza é a realização de um sonho do maestro".
Sergei de Carvalho
Violinista, regente e filho do maestro Eleazar de Carvalho

Ele igualmente demarca a satisfação de contar com a Fundação Edson Queiroz e a Universidade de Fortaleza na dinâmica de perpetuação do projeto, mantendo vivo o querer de Eleazar. O festival se firma, a cada ano, como um dos mais importantes eventos educacionais de música erudita do País, responsável por fomentar acaloradas práticas e debates no território artístico do som.

“Isso sobretudo numa região onde a educação pela arte está aquém do ideal – no Nordeste como um todo e no Estado do Ceará, principalmente. Vejo, portanto, com muita importância a realização da iniciativa, mesmo no formato virtual, devido à pandemia. É um modo de mantermos acesa a chama do aprendizado”.

Legenda: Além dos espetáculos, o festival possui um caráter pedagógico, incluindo a participação de bolsistas orientados por renomados mestres e doutores em seus instrumentos
Foto: Ares Soares

Caminhar ininterrupto

Robson Lima tece o mesmo comentário acerca do alcance do Festival por aqui. De acordo com ele, a música e a educação são duas esferas que não podem caminhar separadamente, mas seguirem juntas, provendo renovadas perspectivas – sobretudo em um local onde ainda faltam mais iniciativas de apoio à formação musical erudita.

“O Festival é uma ferramenta muito importante na educação musical aqui no Estado. Se pararmos para observar, nós não temos uma orquestra sinfônica ou uma escola de orquestras no Ceará. Esse projeto, assim, durante esses anos todos, tem feito aqui esse papel de escola de orquestra. Educação e música precisam andar juntas, uma necessita da outra – principalmente neste momento de pandemia, quando a arte chegou ainda mais forte para todo mundo”, dimensiona.

Legenda: Apesar dos inúmeros desafios atrelados à pandemia, trompista celebra uma maior oportunidade de conexões por meio do ambiente virtual
Foto: Ares Soares

Apesar dos inúmeros desafios atrelados a este intrincado instante – sobretudo considerando o repasse de saberes na música, repleto de muitos detalhes – o trompista celebra uma maior oportunidade de conexões por meio do ambiente virtual. Do mesmo modo, também carrega  uma fala do próprio Eleazar de Carvalho sobre as intempéries da vida. 

“Ele falava o seguinte: ‘Quando não se pode fazer o que se deve, se deve fazer o que se pode’. Eu acho que estamos nesse momento, é uma frase muito atual. Não estamos conseguindo fazer o que se deve, então o que temos feito – desde a edição passada, e nesta – é o que se pode”, demarca.
Robson Lima
Trompista e maestro da Big Band Unifor

“Estou com muita saudade dos alunos, e esse momento vai servir para isso, para revê-los e saber como estão. Porque o Festival, como o nome já diz, é uma festa, uma celebração da música, o que faz com que os alunos aprendam com os professores, os professores aprendam com os alunos e os alunos aprendam entre si. Para além da formação artística, há esse lado humano, não é só música. Tem todo um lado social que também interfere, diretamente”.

Na ótica de quem já foi estudante e, desde há muito, pode repassar os conhecimentos obtidos durante o projeto, Robson Lima garante: a formação contínua é mola propulsora para que o festival se revitalize e chegue, cada vez mais pungente, em todos os participantes.

“O objetivo principal é fazer com que o projeto continue, que a gente não deixe de fazê-lo diante de tudo isso. Ao mesmo tempo, não é só fazer por fazer. Continuamos prezando pela qualidade do evento nesse clima de celebração”, conclui.


Serviço
XXIII Festival Eleazar de Carvalho
De 11 a 25 de julho, de forma virtual. A abertura do evento acontece neste domingo (11), às 19h. Serão exibidos concertos gravados nas plataformas digitais da Universidade de Fortaleza e na TV Unifor (canal 14 da Multiplay e 181 da NET), às segundas e quartas-feiras, a partir das 19h. Programação completa disponível neste link

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