Exposição virtual celebra o humor cearense ao reunir os melhores momentos de sua história

Em cartaz a partir desta segunda-feira (12), mostra apresenta depoimentos inéditos de grandes nomes e presta homenagem aos 90 anos de Chico Anysio

Escrito por Diego Barbosa , diego.barbosa@svm.com.br
Legenda: O humorista Tom Cavalcante é um dos entrevistados do projeto
Foto: Reprodução

Reconhecido nacionalmente como sinônimo de inovação e originalidade, o humor cearense ganha uma exposição cujo objetivo é reunir os melhores momentos de uma trajetória singular.

Em cartaz a partir desta segunda-feira (12), às 19h, a mostra virtual “CEabrindo” é uma ode à molecagem que, dia após dia, ganha novos adeptos e admiradores.

A iniciativa deriva do projeto Terça de Graça – produção do instituto homônimo à exposição, completando uma década de promoção de espetáculos e qualificação de artistas. 

A partir de apurada pesquisa, o trabalho abarca desde os primórdios dessa arte tão característica do Estado, referenciando, por exemplo, a primeira vez em que uma expressão sobre o tema foi citada.

“A frase ‘Ceará moleque’ está no livro ‘A normalista’, de Adolfo Caminha, em que uma personagem diz exatamente isto: ‘Isso são cousas do Ceará moleque’. Ou seja, já naquela época, em 1893, se tinha uma percepção de que esse povo possui uma forma diferente de viver”, explica o humorista Bené Barbosa, intérprete do personagem Papudim, um dos idealizadores da mostra.

Segundo ele, essa história que passa por tantas figuras e acontecimentos merece ganhar amplos olhares por se tratar de algo que ratifica o jeito de ser cearense. 

Originalmente, o projeto seria feito em seis contêineres, e estaria, por exemplo, na Praça do Ferreira e na Beira-mar, para que as pessoas pudessem ter acesso ao conteúdo. Em razão de uma série de impedimentos – dentre eles, a pandemia – tudo foi transferido para o modo virtual.

Na visão de Bené, o impedimento da realização presencial abriu precedentes para que se criasse uma narrativa mais viva, contando com depoimentos inéditos daqueles que fizeram, fazem e ainda farão essa arte em solo alencarino. Todo o material estará disponível no canal CEabrindo, no YouTube.

Legenda: Criador e intérprete do personagem Papudim, Bené Barbosa destaca que a produção engloba diferentes personalidades, fatos e cenários
Foto: Reprodução

Múltiplas referências

A data escolhida para a abertura da exposição não poderia ser mais oportuna. Nesta segunda-feira, é celebrado o Dia do Humorista, uma referência ao aniversário de nascimento de Chico Anysio (1931-2012). O mestre do humor nacional completaria, em 2021, 90 anos, seguindo como influência direta para muitos artistas Brasil afora.

“Falar do Chico é como chover no molhado. O que você vai falar a respeito de um gênio? Eu continuo com uma filosofia de uns versos de uma música do Cazuza, que diz ‘pequenas porções me interessam’. A porção que eu vejo do Chico é que ele é o mestre que vem jogar luz onde existe escuridão”, observa Bené.

Um dos principais legados do maranguapense, conforme sublinha o humorista, foi afirmar que, enquanto artista, não se pode beber de uma única fonte. Não à toa, deteve uma trajetória múltipla – na literatura, no rádio, na TV, no cinema, nas artes plásticas, sendo comentarista esportivo, entre outros ofícios. 

“A mim, o que toca no Chico, de uma maneira muito mais humana, é que ele fez uma coisa que deveria servir de lição para a maioria. Sendo considerado um semideus na arte dele, ele desce do Olimpo e cria a Escolinha do Professor Raimundo. Ali, ele dá um exemplo não só de genialidade, mas também de humildade, de entendimento de que, quanto mais você sabe, mais você tem que transferir conhecimento”, completa Barbosa.

Legenda: Tido como o mestre do humor nacional, Chico Anysio é o principal homenageado da mostra
Foto: Reprodução

A mesma pluralidade de suportes pode ser sentida na mostra “CEabrindo”. De modo divertido e com informações exibidas em formato 3D, o trabalho atravessa espaços, feito a Praça do Ferreira, e emblemáticas personalidades, a exemplo de Tom Cavalcante e Renato Aragão, a fim de remontar um legado que ganhou força sobretudo no fim da década de 1980, quando a maioria dos grandes artistas do humor cearense se apresentava em bares e pizzarias.

“A gente fala de quem surgiu no rádio e na TV; das artes plásticas, de uma certa forma, por meio das caricaturas; e de festivais que nós tivemos aqui. Também tratamos de outras fuleragens que o cearense tem, a exemplo do stand-up – tendo em vista que também nos adaptamos a ele e temos bons nomes – e situações que retratam esse povo, como um evento esportivo chamado ‘Pé na carreira’”, descreve o idealizador.

Justiça à história

Nessa dinâmica, participam do momento nomes como os humoristas Paulo Diógenes, Zé Modesto, Carri Costa, Ciro Santos e Tom Cavalcante; os comunicadores João Inácio Júnior e Silvino Neves – descritos por Bené como grandes conhecedores e divulgadores do humor de nossa terra – além do jornalista e pesquisador Tarcísio Matos, à frente da pesquisa para a exposição.

“Tentamos fazer justiça ao apresentar uma história contada por aqueles que construíram essa história, algo que acho bastante importante, uma vez que há elementos narrados por quem integra esse panorama. Quando unimos essas narrativas e elas comungam do mesmo relato, aí, sim, temos uma história verdadeira”, diz Bené.

Assim, a pesquisa, além do ponto de vista histórico, se baseia também na ótica das personalidades do ontem, do hoje e do amanhã no segmento. Para o intérprete do famoso Papudim, a grande particularidade do humor cearense é essa forma de viver, cujo norte passa pela inteligência para entender que nada é para sempre e que precisamos olhar para o mundo de uma maneira mais leve – ainda que em momentos tão tenebrosos, feito este da pandemia de Covid-19.

Legenda: Um time de grandes nomes do humor cearense participa da mostra
Foto: Reprodução

Bené, não sem motivo, descreve o povo alencarino como um grande “guerreiro da alegria”. “A gente não luta com espadas, com armas; a gente luta com sorrisos. E não é uma luta, é como se fosse uma dança. O humor, enfim, serve para aliviar as dores, jogar luz onde existe dor, para levar um bálsamo de alívio. E não apenas nesse instante de pandemia. Que a alegria, assim, torne-se um exemplo de vírus, no melhor sentido da palavra. Que a gente possa contaminar as pessoas por meio do bom humor, mas, acima de tudo, por meio da gratidão a quem faz história”.

A força da cultura

Um dos entrevistados para o projeto, o humorista Ciro Santos destaca que contribui com o relato histórico por meio do ponto de vista de quem iniciou no movimento no final dos anos 1980. Para ele, essa é uma história que precisa ser contada.

“As pessoas precisam saber por onde, como e quem foram as pessoas que iniciaram esse movimento que faz parte da história e da cultura de um povo. Eu faço parte disso com muito orgulho”, declara, também trazendo Chico Anysio como uma de suas principais referências, sobretudo no que toca ao trabalho com plateia.

Legenda: No projeto, Ciro Santos contribui a partir do ponto de vista de quem começou no segmento no final dos anos 1980
Foto: Reinaldo Jorge

Atravessando um período de cada vez mais conteúdos produzidos para as redes sociais, Ciro situa que essa foi a maneira que encontrou de estar mais próximo das pessoas e fazerem elas sorrirem. Tal norte igualmente pauta o que ele espera da exposição junto ao público.

“Espero que gostem! É um projeto incrível que eu tive o prazer de participar e gostaria que as pessoas enxergassem o quanto o humor cearense é rico e maravilhoso”, conclui.


Serviço
Exposição virtual “CEabrindo”, do Projeto Terça de Graça
Em cartaz a partir desta segunda-feira (12), às 19h, por meio do canal CEabrindo, no Youtube

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