'Eternos' foge de fórmula da Marvel e peca na superficialidade, mas é narrativa ambiciosa
Filme chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (4) como aposta da nova fase do MCU
Contar histórias não é tarefa fácil. E adaptá-las dos quadrinhos às telas pode ser daquelas mais difíceis, algo que talvez tenha sido eclipsado pelos sucessos estrondosos da Marvel nos últimos anos. Para 'Eternos', o novo filme do estúdio, com estreia marcada para esta quinta (4) nos cinemas brasileiros, não é muito diferente. No entanto, a criatividade, o estilo narrativo e a fuga da fórmula já estruturada são os grandes trunfos do longa dirigido por Chloé Zhao.
Aposta da nova fase do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), que começou em 2008 e entregou épicos como 'Homem de Ferro' e toda a trilogia de 'Vingadores', 'Eternos' chega aos cinemas com o respaldo do olhar apurado de Zhao, vencedora do Oscar por 'Nomadland', e de um elenco repleto de estrelas.
No roteiro, um grupo de seres imortais, chamados - imagine só - de Eternos, é enviado à Terra para proteger os seres humanos da raça dos Deviantes. Os tais predadores são os responsáveis pelos ataques às civilizações, personificando os principais obstáculos do protagonista do filme.
Veja o trailer do filme:
Um conflito comum, quando visto da superfície, porém mais profundo quando presente no desenrolar das pouco mais de duas horas vistas na tela do cinema. Por aqui, talvez, seja melhor já citar a importância de Zhao para subverter a ordem pré-estabelecida aos super-heróis da Marvel.
Ao longo dos anos, por exemplo, os filmes do estúdio ficaram conhecidos pela tal fórmula, com filmes imponentes, mas leves e destinados a públicos sempre muito abrangentes.
Em 'Eternos', configurando de vez uma nova aposta, que aparenta ser intencional, o caminho é diferente: uma trama não-linear, que corre contra o tempo para criar identificação com tantos personagens em cena.
Muitos personagens
Enquanto a intenção é citar a proposta válida e ousada do roteiro, é quase impossível não falar dos erros de percurso em Eternos. Não entenda mal, é que são muitos fatores importantes a ganharem espaço em cena. De protagonistas, por exemplo, temos dez, um número para lá de extenso.
Ikaris (Richard Madden), Sersi (Gemma Chan), Ajak (Salma Hayek), Duende (Lia McHugh), Thena (Angelina Jolie), Phastos (Bryan Tyree Henry), Kingo (Kumail Nanjuani), Gilgamesh (Ma Dong-seok), Druig (Barry Keoghan) e Makkari (Lauren Ridloff) são cheios de particularidades, representando o menor dos acertos do filme.
Se o objetivo é criar apego por eles, entender as motivações de cada um, enveredar por cada uma das frustrações de figuras tão importantes na salvação da Terra, a sensação que fica é de superficialidade. 'Eternos' pode até querer ser denso, mas não tem tempo suficiente para tal, corre para chegar no ápice e perde no carisma dos protagonistas.
Ora, veja bem, esses tais heróis vivem há 7 mil anos em ambiente terrestre. Percorreram civilizações, presenciaram batalhas entre os seres humanos e, inclusive, não puderam intervir nelas.
Assim sendo, seria história demais para contar, o que é resolvido com avanços e voltas frequentes no tempo em meio ao decorrer do longa. Ainda assim, temos destaques, como a história de Kingo, por exemplo.
Não é de todo mal. Perdendo nos conflitos internos, ganha em reviravoltas, e disso o espectador não poderá reclamar. No longa, nada que tenha sido estabelecido no início se mantém, com as tramas sendo reviradas até mesmo próximo da disputa final diante dos protagonistas em questão. Um destaque até mesmo óbvio para as dualidades tão bem trabalhadas nas personalidades determinadas entre mocinhos e vilões. Fique atento!
Discussões profundas
Se voltarem às telas, os tais Eternos podem até mesmo significar discussões menos simplórias no MCU. Questões como a devoção, a crise climática na Terra e a diversidade sexual e racial podem até mesmo ser apontados como pontos altos do longa, diga-se de passagem.
A produção usa do ritmo menos acelerado no primeiro ato para tratar, ainda que de forma rasa e mais simplória, desses assuntos, o que poderia ser uma cartada certeira nos próximos lançamentos. Entretanto, os deixa de lado para seguir o clímax que não poderia ser inexistente nos filmes do gênero.
No fim das contas, nada é perfeito, mas a batalha final empolga ao máximo.
Entretanto, o balanço, acredito, é favorável. Ainda que o pecado de 'Eternos' seja a falta de profundidade, o que ele entrega é grandioso, sem dúvidas. Representa um novo caminho a ser percorrido nesta nova fase do MCU e, assim sendo, está tudo bem. Sair de rotas já percorridas com êxito é válido quando se sabe do potencial do que está por vir.