Ensaios de família: fotógrafas partilham vivências além dos cliques
Da gestação aos aniversários, profissionais participam de diferentes fases dos fotografados
Se você já contou com o mesmo fotógrafo para registrar momentos importantes da vida, vai se identificar com algumas histórias trazidas aqui. É que tem uma hora que o profissional da imagem começa mesmo a fazer parte da família, sendo convidado para todas as ocasiões especiais. Com a câmera em mãos, ele testemunha e contribui com processos que vão além das sessões de fotos, e não tem cultura de selfie ou de likes que substitua isso.
Que o diga Beatriz Saboia, ou melhor, a “tia Bea”, de 35 anos, treze deles dedicados a esse ramo.
“Fotografar famílias me preparou para ter a minha própria. Mostrar para uma família que a vida dela é linda do jeitinho que ela é, é a minha missão como fotógrafa, como pessoa”, identifica.
Tudo começou quando ela foi visitar os bebês gêmeos de uma prima e lá sentiu o “amor ao primeiro clique”. “Achei tudo muito espontâneo, puro e feliz. Queria sentir mais vezes aquilo e comecei a fotografar os filhos de algumas amigas”, conta.
Com o tempo, Bea se especializou na área, e passou a ser procurada pelas famílias antes mesmo da gestação. De acordo com a fotógrafa, muita gente entra em contato quando o baby é apenas um sonho e tudo ganha outras cores com a confirmação da gravidez.
“A experiência é toda bem delicada e precisa de uma certa intimidade, ali já criamos um laço maravilhoso. As pessoas me recebem em suas casas para registrar o que eles têm de mais precioso nessa vida. É algo muito envolvente e a relação que se desenvolve a partir dali”, relata.
A maternidade, segundo entende a profissional, pode ser algo bem corrido, confuso e as fotos servem de pausa, de respiro para apreciar a beleza de cada fase, cada conquista.
Focada em registros espontâneos, Bea costuma participar de todo o primeiro aninho da vida do neném. Fotos no quartinho, no berço, engatinhando pela casa e na praia costumam integrar este acervo, que dificilmente tem um fim.
“É um real privilégio poder acompanhar os primeiros passos de uma pessoa! Como uma coisa leva a outra, batizados e aniversários também são meu carro forte”, explica.
Fotógrafa, madrinha e confidente
Em uma dessas ocasiões, a fotógrafa Rosângela Nobre, 50 anos, foi convidada para ser madrinha da filha de uma cliente. Após fazer o acompanhamento de algumas fases da criança, a mãe considerou a relação estabelecida tão forte que afirmou não existir dinda melhor para a própria filha.
Hoje com 8 anos, a pequena Nina Flor continua sendo registrada por Rosângela, que, vez ou outra, também aparece do outro lado das câmeras.
No mercado fotográfico desde 1995, Rosângela, assim como Bea, se encantou pelos ensaios familiares registrando bebês. Mas, no caso dela, o trabalho é todo realizado em estúdio.
“Sou apaixonada por eles, sempre amei fotografá-los, aí sabe como é, bebê chama mamãe, que chama papai, vovó, dindos, e assim foi que resolvi ser fotógrafa de família”, contextualiza.
Dessa relação, ela destaca muito carinho, respeito, amizade e confiança. Inclusive porque, ao longo da trajetória, também precisou ser suporte em momentos delicados.
Já viu casais passarem por perdas na gravidez e ressignificarem o luto a partir de uma nova gestação, como foi o caso de Karina e James, que hoje aguardam a Ana Vitória. E, há pouco mais de um ano, também presenciou a partida de uma mãe pela Covid-19.
“Eu comecei a fazer as fotos da família da Roseanne quando o primeiro filho dela, o João Neto, tinha um ano. Ela era louca pra ter uma menina e vivia me dizendo que, quando tivesse, faria foto comigo. Ficou grávida, teve a bebê, mas depois, infelizmente, faleceu. Este ano, a Catarina completou um ano e eu fiz questão de fazer o ensaio para honrar o compromisso com a mãe”, partilha emocionada.
É por esta dedicação à memória de quem a procura, que a fotógrafa coleciona muito mais que instantes. Ao vasculhar nos HDs e álbuns físicos, os quais ela não abre mão de ofertar, é capaz de contar histórias de mais de uma geração.
“A Isabel, por exemplo, é uma moça que eu comecei a fotografar criança e agora já vou fazer os 5 anos da filhinha dela! Estou velha!”, brinca, com a câmera pronta para mais um ensaio familiar que ainda deve ser lembrado por muitas décadas.
Serviço
Beatriz Saboia: @beasaboia
Rosângela Nobre: @rosangelanobrefotografia