É possível ser cristão, sem ir à igreja? Filme cearense explica quem são os 'desigrejados'
Realizado pelos jornalistas Rebeca Brasil e Samuel Costa Melo, produção investiga o aumento de fiéis que escolhem preservar a fé longe de templos religiosos
Estes brasileiros escolheram preservar a fé cristã, mas longe dos templos físicos. Na teologia, são definidos como "desigrejados". Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), formam o terceiro maior grupo religioso do Brasil.
É possível ser cristão sem ir à igreja? Essa é uma das questões respondidas pelo documentário "Desigrejados", produzido pelos jornalistas Rebeca Brasil e Samuel Costa Melo. A obra audiovisual apresenta a relação entre fiéis e templos religiosos, discutindo as causas que os fizeram abandonar estas instituições.
Com 70 minutos, o filme foi desenvolvido para o trabalho de conclusão de curso da dupla. Reúne relatos e o depoimento de autoridades no tema. Assim, o documentário investe em contar histórias individuais de fiéis. São cearenses que se decepcionaram com a igreja a qual frequentavam. O filme pode ser assistido na íntegra pelo YouTube.
"Produzir este documentário nos ensinou muito sobre esse tema tão presente em nossa sociedade. Foi um grande desafio conseguir equilibrar os relatos dos personagens e discursos dos líderes religiosos entrevistados, sem fazer juízo de valor", descrevem os diretores.
Olhar sobre a fé
Os grupo representa 8% da população, totalizando 15 milhões de pessoas, segundo o Censo de 2010. O documentário, que carrega o termo teológico, discute as causas e o contexto social envolvidos na decisão de abandonar a congregação cristã, mantendo uma fé individualizada.
Além disso, aborda temas como a pandemia da Covid-19 e o envolvimento de líderes e denominações religiosas com a política. Cristãos evangélicos, Rebeca e Samuel explicam que a denominação "desigrejados" lhes era familiar. "Observamos que é um tema pouco explorado pela mídia", detalha Rebeca Brasil.
Sob orientação da professora e jornalista Kamila Bossato, a dupla adentrou a longa caminhada de pesquisa e produção. O primeiro passo veio com a leitura de uma entrevista concedida pelo teólogo Victor Breno à revista Comunhão.
"A partir dessa publicação nos familiarizamos com o fenômeno, buscamos livros, teses e dissertações que abordassem essas temáticas", conta a diretora. Vale acrescentar, Victor Breno tornou-se um dos especialistas que aparecem no filme.
"Quanto às entrevistas, algumas foram indicação de conhecidos e outras conseguimos por um grupo de 'alguém conhece alguém' no Facebook. Fizemos um post perguntando sobre pessoas que ainda acreditam em Deus, mas não frequentam mais a igreja", compartilha Samuel Costa Melo.
Desigrejados e o Brasil
Entre algumas curiosidades da produção, todo o processo durou quase 12 meses, com as entrevistas sendo registradas a partir de novembro de 2022. Foram mais de quatro horas de material gravado, totalizando mais de 20 páginas de roteiro. "Deigrejados" conta ainda com trilha sonora original e imagens gravadas na Catedral Metropolitana de Fortaleza.
Com as etapas de escuta e aprofundamento no assunto, a pergunta "é possível ser cristão sem ir à igreja?" foi ganhando espaço. A partir deste questionamento, uma série de temáticas foram sendo despertadas nesta relação entre fiéis e igreja.
Samuel Costa Melo aponta outros temas que surgiram. "As causas para o abandono das congregações, a postura da igreja brasileira diante da pandemia e das últimas eleições, bem como a obrigatoriedade de frequentar à igreja no cristianismo, e as perspectivas de futuro para esse fenômeno", descreve.
Com tantas premissas levantadas, "Desigrejados" permite reflexões acerca da atual realidade brasileira. Segundo os diretores, mesmo o País sendo majoritariamente cristão, com católicos e evangélicos ocupando o primeiro e segundo lugar no ranking das religiões, o número de pessoas sem-religião tem aumentado.
"O debate em torno da filiação de pessoas a instituições religiosas cristãs está em alta, principalmente após o envolvimento da igreja com a política partidária. Muitas pessoas ficaram decepcionadas com a postura da igreja brasileira em apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro, e as redes sociais estão repletas de relatos dessas pessoas abandonando as congregações que antes faziam parte, finalizam Rebeca Brasil e Samuel Costa Melo.