Dubai, da comida de rua à Estrela Michelin: uma viagem com muito tempero
Conhecida pelos prédios exuberantes, a cidade surpreende com uma culinária cosmopolita de altíssimo nível, capaz de agradar até os nordestinos que não são muito abertos ao novo
Qual é o primeiro pensamento que vem à cabeça quando você pensa em Dubai? Provavelmente, a resposta tem a ver com luxo, prédios opulentos e ostentação. Inegavelmente, a cidade goza dessa suntuosidade, que acaba por ser sua marca registrada; no entanto, o emirado mais famoso reserva muito mais que isso aos visitantes.
Para além do esplendor arquitetônico, Dubai me ganhou pelo estômago. Sim, o Burj Khalifa - prédio mais alto do mundo, com 828 metros - é estonteante. Assim como o Dubai Frame, uma moldura gigante com tons dourados. Não menos impressionantes são a The Palm, ilha artificial em formato de palmeira, e os hotéis de luxo Burj Al Arab e Atlantis, The Royal. Mas os temperos marcantes e diversos de pratos que passeiam pela culinária de todas as partes do globo fincaram-se mais profundamente na memória.
Conhecendo o Oriente Médio pela comida
Para provar que a boa gastronomia emiradense pode ser acessível, começo este relato recomendando um tour com alguns dos melhores achados de comida de rua da cidade, o Frying Pan Adventures. Conduzido de forma brilhante pela guia Farida Ahmed, que conhece minuciosamente a parte velha de Dubai (aquela que normalmente não aparece nos cartões postais), o passeio - feito a pé, com paradas nos restaurantes - é, além de delicioso, uma aula de história e geografia sobre o Oriente Médio por meio da comida.
Farida nos leva aos sabores da Jordânia, Palestina, Líbano, Iraque e Síria, passando por pratos consagrados no Ocidente, como falafel (o melhor que já comi) e outros nem tanto, como a kunafa, uma inesquecível sobremesa com queijo de cabra e ovelha. Para resumir, é comida de raiz da melhor qualidade e com preços super acessíveis. Informação importante: o tour requer estômago vazio para ser aproveitado em máxima potência.
Outra atração com preços razoáveis é o rústico Al Fanar, que fica no bairro Al Seef. O local consta na lista de restaurantes selecionados do Guia Michelin 2023 e serve, com fartura, comida típica dos Emirados Árabes. Vale experimentar o baby shark desfiado com especiarias (não confundir com o desenho) e o cheesecake de pistache.
Também come-se muito bem no TimeOut Market, que reúne várias opções de restaurantes do mundo inteiro. Escolhi o português Lana Lusa, que serviu um impecável polvo à lagareiro. Provei também a pizza vegana do Pitfire. Uma delícia.
Alta gastronomia e jantar no deserto
Falando em fire, o roteiro gastronômico também incluiu o 11 Woodfire, do chef Aknal Anuar, que detém uma Estrela Michelin. Um mestre das grelhas, Anuar, de Singapura, adota no Woodfire uma cozinha que enaltece a simplicidade e o fogo. Não falta lenha por lá. Destaque para o suculento T-Bone de Black Angus, que conseguiu deixar um convidado gaúcho boquiaberto.
Também vale menção o jantar no deserto do Sonara Camp, atração com mais cara de "turistão". Antes do banquete, dá para ver o por do sol no deserto, passear de camelo e interagir com falcões. Nos intervalos da comilança, shows típicos com espadas e fogo - muito fogo.
Os melhores pratos que provei em Dubai* (ordem aleatória)
Masgouf - Peixe iraquiano defumado
- Restaurante: Kabab Erbil Iraqi
- Especialidade: Cozinha iraquiana
- Comentário: O melhor peixe que já comi em 35 anos. Sem mais
Milos Special - Torre de abobrinha
- Restaurante:Estiatorio Milos (no hotel Atlantis, The Royal)
- Especialidade: Cozinha grega
- Comentário: Não apostaria alto num prato cuja estrela é a abobrinha, mas a criação do chef grego Costas Spiliadis é conquistadora.
Salada de tomate grega
- Restaurante:Estiatorio Milos (no hotel Atlantis, The Royal)
- Especialidade: Cozinha grega
- Comentário: De novo, o Milos surpreende com um ingrediente muito simples, o tomate. De tão puro, o sabor faz parecer se tratar de outra fruta.
T-Bone de Black Angus
- Restaurante: 11 Woodfire
- Especialidade: Grelhados
- Comentário: A suculentíssima carne derrete como manteiga na boca. O ponto do chef é impecável.
Polvo à lagareiro
- Restaurante: Lana Lusa, no Time Out Market de Dubai
- Especialidade: Cozinha portuguesa
- Comentário: Comida portuguesa de alto padrão. Costumo pensar duas vezes antes de pedir polvo, pois o erro no ponto põe tudo a perder. Este estava cozido e temperado à perfeição.
Massa verde com lagosta
- Restaurante: Sal, no hotel Burj Al Arab
- Especialidade: Cozinha mediterrânea
- Comentário: A lagosta é um mero detalhe. O ponto, textura e sabor da massa já fazem o trabalho. Comeria três desse tranquilamente.
Kunafa - torta doce
- Restaurante: Qwaider Al Nabulsi
- Especialidade: Cozinha palestina/jordaniana
- Comentário: Essa torta doce, feita com queijo de cabra e ovelha e com uma camada superior crocante, é surpreendentemente deliciosa. Deu até vontade de trazer uma franquia e vender no Brasil. Não tem como não gostar.
*O jornalista viajou a convite do Departamento de Economia e Turismo de Dubai