Conheça Fortaleza dos anos 1970 a partir de raras imagens do filme 'Homem de Papel'

Totalmente gravada na capital cearense, a obra cinematográfica lançada em 1976 nos permite viajar no tempo e conhecer lugares históricos e as transformações do espaço urbano

Escrito por Antonio Laudenir , laudenir.oliveira@svm.com.br
Antigo Farol do Mucuripe ganha destaque no roteiro de
Legenda: Antigo Farol do Mucuripe ganha destaque no roteiro de "O Homem de Papel"

Além de entreter, educar e gerar emprego, o cinema é uma poderosa ferramenta de registro da memória. Imagina, que tal, poder viajar pelas ruas da Fortaleza dos anos 1970. Graças à sétima arte isso é possível. Nesse sentido, vale a pena assistir e conhecer o filme "O Homem de Papel" (1976).

Em pleno auge das "pornochanchadas", Fortaleza foi cenário de um thriller policial repleto de ação e mistério. Em cena, temos um resgate audiovisual das ruas do Centro a Leste-Oeste. Identificamos uma Beira-Mar repleta de coqueiros e imensas dunas ao fundo. Nostalgia certa, as imagens de "O Homem de Papel" capturaram Praças, Parques, Avenidas e edificações como o Farol do Mucuripe.

Cenas aéreas registraram a imensidão da orla e a movimento de jangadas, entre outras embarcações. Dos espaços que serviram de locação constam o Porto de Fortaleza, a Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC), Náutico Atlético Cearense e Praça do Ferreira. A Praça Portugal aparece irreconhecível para os dias atuais. 

Do asfalto à praia

Na trama, conhecemos Carlos, um jornalista da área policial que tenta se dar bem forjando notícias. Por conta das escolhas antiéticas, o cara passa a ser alvo tanto da polícia quanto dos bandidos. 

Daí em diante é puro cinema B dos anos 1970. Para quem é fã dos filmes "exploitation", "O Homem de Papel" é diversão garantida. Em cena, perseguições de carro, nudez, violência, tráfico de entorpecentes, tortura policial e uma certa dose de humor até "no sense". Tudo isso em meio à representação de uma paradisíaca e moderna capital cearense.

Material de divulgação do filme: Milton Moraes e Vera Gimenez
Legenda: Material de divulgação do filme: Milton Moraes e Vera Gimenez
Foto: Cinemateca Brasileira

Quem dá vida ao anti-herói da obra é o ator Milton Moraes (1930-1976). Nascido em Fortaleza, Milton já era um nome consolidado na TV, cinema e teatro. Esta aventura cinematográfica nasce da mente do ator e jornalista cearense Ezaclir Aragão (1939-1989), que, além de produzir, participa da trilha e também atua como o capanga Paulo. 

A direção é assinada por Carlos Coimbra (1927-2007), realizador reconhecido pelo ciclo de filmes com temática de cangaço nos anos 1960. O elenco reúne nomes de peso como José Lewgoy (1920-2003), Jece Valadão (1930-2006), Ziembinski (1908-1978), Ricardo Guilherme, Teresinha Sodré e Vera Gimenez. O comunicador Narcélio Limaverde (1931-2022) faz uma participação especial.  

Poster oficial que conta com arte do mestre Benício (1936-2021)
Legenda: Poster oficial que conta com arte do mestre Benício (1936-2021)
Foto: Cinemateca

O Homem do cinema

Natural de Limoeiro do Norte, Ezaclir Aragão tinha o sonho de transformar o Ceará num polo de produção cinematográfica. É dele o argumento, história e produção que embalam a narrativa de "O Homem de Papel". Segundo reportagem de Serpa Neto, publicada no Diário do Nordeste de fevereiro de 1989, o cearense tinha o gosto pelas letras e arte desde criança. 

Ainda garoto foi para o Rio de Janeiro estudar teatro. De volta a Fortaleza, dedicou-se à profissão de jornalista. Escreveu colunas ligadas a diferentes temas e atuou na cobertura do jornalismo cultural. "Homem de Papel" foi o primeiro de uma série de trabalhos na sétima arte. Com Carlos Coimbra, participou de "Iracema, a Virgem dos Lábios de Mel" (1979).

Ezaclir Aragão:
Legenda: Ezaclir Aragão: "O Homem do Cinema"
Foto: Diário do Nordeste 22/02/1989

Produziu o documentário "Caminhos de Iracema" e participou ainda das filmagens de "Luzia Homem" (1988), dirigido por Fábio Barreto e produzido pelo cineasta Luís Carlos Barreto. "Escrever e cinema, para mim, são necessidades iguais a comer. Sinto fome de expressar o que penso" (Diário do Nordeste, 1982).

 

 

 

 

 

 

 

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