Cartunista Mino é um dos agraciados com o Troféu Sereia de Ouro

O Desembargador Cid Marconi Branco, o médico Darival Bringel e o empresário Ricardo Cavalcante também recebem a comenda do Sistema Verdes Mares, na sexta-feira (4), no Theatro José de Alencar

Escrito por Redação ,
Mestre da arte gráfica, Mino guarda trajetória destacada na defesa da educação e divulgação das cores e culturas do Ceará para o mundo
Legenda: Mestre da arte gráfica, Mino guarda trajetória destacada na defesa da educação e divulgação das cores e culturas do Ceará para o mundo
Foto: Fabiane de Paula

Edificar uma sociedade mais justa a partir das tintas. Reconhecer na criatividade a ponte entre educar e materializar sonhos. Ao abraçar a arte gráfica como profissão, Hermínio Castelo Branco pavimentou singular defesa da cultura. Sinônimo de altruísmo, a trajetória do cartunista Mino inspira gerações de leitores.  

Reconhecido como pintor, artista plástico, desenhista, chargista, poeta, editor, escritor, dentre inúmeras facetas criativas, o mestre do traço projetou sua arte do Ceará para o mundo. Criador do simpático Capitão Rapadura, Mino desenhou um ícone presente no cotidiano dos cearenses. A sereia, símbolo da TV Verdes Mares.  

Criada em 1970, a personagem inspirou a criação do Troféu Sereia de Ouro, honraria que evidencia o brilhantismo e excelência de cearenses notáveis. A sereia concebida pelo artista plástico ultrapassou fronteiras e hoje retorna ao criador pelo signo do reconhecimento. 

Criador inventivo, cujo universo é forjado no encontro de múltiplas áreas do conhecimento, Mino reserva elogiada dedicação ao estabelecimento de um mercado de quadrinhos no Estado. Outro expoente nessa trajetória é respaldar a nona arte enquanto ferramenta de educação, cultura e conhecimento. 

Mente prolífica 

Filho de Francisca Macêdo e Raimundo Castelo Branco, Mino nasceu no dia 3 de maio de 1944. É casado com Ignês Botelho e pai de Magno, Maria Cecília, João Eduardo e José. O nome de batismo homenageia o bisavô, o poeta piauiense Hermínio Castelo Branco, autor de “A Lira Sertaneja” (1881).  

A infância foi notadamente marcada pelo acesso à arte.  As irmãs o presenteavam com lápis e cadernos para pintar. O primeiro desenho feito na vida, rememora, surgiu com apenas quatro anos. “A coisa mais forte que tenho, mais essencial, substancial e básica é o desenho. Sou essencialmente um desenhista”, descreve o mestre. 

Nessa fase, absorveu leituras que iam de quadrinhos à clássicos da literatura. Conhecia Walt Disney, bem como gibis de Tarzan, Batman e aventuras de faroeste. Filosofia e cultura pop se emaranhavam no apreço a gênios como Da Vinci, Michelangelo, Van Gogh e Picasso. Adentrar tantos caminhos artísticos foi decisivo à formação de um estilo único na pintura.  

"Quando casei o desenho com o humor apareceu o cartum. Quando juntei desenho com pintura veio o pintor. Quando resolvi desenhar palavras de forma poética nasceu a poesia. Depois desenvolvi histórias com fábulas, contos", enumera o agraciado. 

Cores do Ceará 

Formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará, o cartunista consolidou-se realizador completo, com inequívoca habilidade em confeccionar obras a partir de técnicas variadas. Aclamado internacionalmente, participou em salões de humor Brasil afora e integrou exposições e publicações na Rússia, França e Alemanha. 

Mesmo com tantas referências estéticas à disposição, Mino assevera que mergulhar na cultura cearense, nordestina, lhe permitiu ultrapassar as fronteiras do processo criativo. “Quando vi a literatura de cordel, as xilogravuras, aquele desenho bem rústico, mas bonito e equilibrado. Traços grossos, preto e branco e me encantei com isso”, referenda.   

As raízes regionais e urbanas do Ceará foram preponderantes à efetivação de um imaginário próprio. O linguajar das periferias urbanas, o contato com o camponês, a essência dos filhos e filhas da lavoura. MItologias, contos, o fantástico do Sertão modificou as tintas de Mino.     

Para Mino, o desenho foi a ferramenta motriz à busca por conhecimento e leitura de mundo
Legenda: Para Mino, o desenho foi a ferramenta motriz à busca por conhecimento e leitura de mundo
Foto: Fabiane de Paula

A partir destes elementos, surgia, em 1973, o primeiro super-herói cearense. O esperto Capitão Rapadura. Lembro de ele nascer como uma criação altamente regional. O capitão era devido aos gibis como Capitão América e Marvel... Mas, temos aqui o ‘capitão’, de quando as mulheres amassam o arroz com feijão para alimentar as crianças. E a rapadura nem precisamos falar”. 

Esta fauna de causos e seres mágicos acendeu um novo tipo de desenho na produção de Mino. O mural exposto no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza recupera a representação pictórica da alma cearense.  

A obra contempla o lirismo, paixão e coragem do povo. Representados a partir de símbolos culturais como jangadas, brincantes de maracatu, fé em Padre Cícero e o sanfoneiro. Tem a copa de uma carnaúba e o Pavão Mysteriozo imortalizado na música do amigo Ednardo. 

Caráter desbravador 

Uma das marcas indeléveis na biografia de Mino é aproximar sua arte da sala de aula, contribuindo à cultura e conhecimento dos jovens cearenses. O problema nacional, alerta, situa-se na deficiência educacional. Para conhecer o Brasil é preciso ir na raiz do problema está.  

“A juventude, a criança, o adolescente, a pré-adolescência e o adolescente... É o momento em que ele pode receber as melhores influências e a maior parte da educação. E o quadrinho, o cartun, as imagens, as ilustrações e os textos pequenos, simples, chegam mais perto do aluno. Qualquer coisa difícil ele entende”, descreve. 

Informar, conscientizar e entreter esta faixa etária é o desafio. “Buscarei esse instrumento, pois não sei fazer o entretenimento vazio. Me sinto mal, inclusive. Só para fazer graça? Todo mundo está fazendo graça, né”.  

Mino reencontra Valdijunio Rodrigues, J. J. Marreiro e Daniel Brandão: artistas que integraram, entre outros nomes, a equipe responsável por desenvolver as HQs do Capitão Rapadura
Legenda: Mino reencontra Valdijunio Rodrigues, J. J. Marreiro e Daniel Brandão: artistas cearenses que integraram, entre outros nomes, a equipe responsável por desenvolver as HQs do Capitão Rapadura
Foto: Fabiane de Paula

Diante da premissa de aprofundar temas e levar conteúdo, Mino assume que o universo do Capitão Rapadura reúne, em vez de bichinhos apenas engraçados, criações capazes de levar uma mensagem edificante ao leitor. 

“São quase 40 personagens no quadrinho do Rapadura, todos regionais. Tem Rato punaré, gavião e até urubu pensador, este dono de uma filosofia bem nordestina. Outro da turma é Virgulino, um contador de história dos tempos do lendário Lampião. 

“O Capitão Rapadura é um super-herói diferente. Não é justiceiro ou se serve de violência. Ele é baseado na mitologia grega, de usar a esperteza e sabedoria. Como Ulisses que venceu Tróia com um ardil e não com a força da arma. O Rapadura procura a inteligência contra a violência. Usar a sensatez. A criança absorve isso”. 

Criação da sereia 

Ainda no início de carreira, o artista realizava um tipo de produção inédita no território da comunicação brasileira. Quando trabalhava no “Repórter Cruzeiro”, noticiário da extinta TV Ceará (Canal 2), Mino ilustrava as notícias ao vivo. Desenhava, em segundos, o teor das informações veiculadas, logo se tornando uma das atrações da emissora.  

Nos anos 1970, o estabelecimento de uma nova emissora de televisão atravessaria o caminho do homenageado. Quando ainda estava na faculdade de Direito, recebeu o convite de Mansueto Barbosa (ex-superintendente da Televisão Verdes Mares, já falecido) para elaborar o símbolo do canal. O tema era desenhar algo que remetesse aos verdes mares.  

A graciosa sereia criada por Mino, símbolo da TV Verdes Mares, está presente no imaginário dos cearenses há mais de meio século
Legenda: A graciosa sereia criada por Mino, símbolo da TV Verdes Mares, está presente no imaginário dos cearenses há mais de meio século
Foto: Fabiane de Paula

Convite aceito, para criar a logo, passou a imaginar os ícones do universo marinho. Dunas, coqueiros, jangadas e as próprias ondas do mar. Porém, foi no rosto de uma foto de criança da então namorada Ignês que Mino despertou a ideia da sereia. O ser mitológico metade peixe, metade mulher tornou-se símbolo da emissora e hoje faz parte do imaginário dos cearenses. 

Recepção do prêmio 

Ser um dos agraciados da 50ª edição do Troféu Sereia de Ouro despertou inúmeras sensações no artista. Trata-se de um reencontro único entre o criador da marca e a simbologia de proeminência que demarca a premiação. "É uma sensação que dispara nossa vaidade", descreve emocionado. 

Mino descreve que a comenda da Sereia de Ouro é algo muito importante em sua trajetória. Um reconhecimento maravilhoso.

 "Você quer controlar, mas comove muito. Toda entrega que ia do prêmio, chegavam amigos que falavam 'você é que merecia'. Até estava me acostumando com essa história. Nunca questionava e entendia que ainda tinha muita gente ainda na frente", compartilha. 

O desenho como porta de entrada para o conhecimento
Legenda: Mino acredita e investe na potência da leitura enquanto estratégia de formação intelectual das crianças
Foto: Fabiane de Paula

O multiartista cearense, intelectual símbolo de toda uma geração, se serve do notório bom humor que lhe acompanha. Por ser o idealizador da querida sereia, personagem inspirado no grande amor da vida, o mestre da arte gráfica divide: "Quando me perguntavam a razão de ainda não ter recebido, eu brincava. É contra o regulamento, sabe por quê? Porque ninguém pode receber a Sereia duas vezes, né?", finaliza Mino

A comenda

Criado em 1971 pelo chanceler Edson Queiroz e dona Yolanda Queiroz, o Troféu Sereia de Ouro é uma das mais tradicionais comendas do Ceará. Procura homenagear personalidades que se destacaram em diferentes setores de atuação, contribuindo para o desenvolvimento do Estado.

É concedido anualmente pelo Sistema Verdes Mares, integrante do Grupo Edson Queiroz, em solenidade realizada no Theatro José de Alencar. A honraria já foi entregue a centenas de nomes, brilhantes em atividades públicas e privadas, e que seguem inspirando gerações.