Artista plástico cearense expõe série de obras em bienal no Equador
José Guedes apresenta na Bienal Nomade a série "Fênix", que realiza um mergulho na história da arte
Amassar um pedaço de papel para jogá-lo no lixo é um ato aparentemente banal, mas para o artista plástico José Guedes essa ação espontânea foi o ponto de partida da sua série “Fênix”. A mostra está presente na Bienal Nomade, que começou nesta semana em Guayaquil, no Equador, e segue até 18 setembro com artistas de 17 países.
Fênix é resultado de um mergulho profundo na história da arte realizado nos últimos anos por Guedes. Nas profundezas da arte, o cearense joga entre a destruição e reconstrução de obras consagradas de artistas com personalidades marcantes.
É quase uma representação simbólica de um desejo de reconstruir o mundo
Na exposição, José apresenta 12 obras da série com foco no trabalho “Los Caprichos” do espanhol Francisco Goya. A Bienal Nomade está presente em três museus equatorianos: MAAC, Nahím Isaías e Presley Norton.
“Nesse amassado eu busco uma nova construção daquele trabalho. A partir desse momento existe um renascimento que faz alusão ao Fênix. A história da arte passa por um processo de destruição e de reconstrução dentro da minha ótica”, explica o artista plástico.
A partir do trabalho do pintor espanhol, Guedes realiza uma sátira da sociedade brasileira. Em “Los Caprichos”, Goya ironiza a comunidade espanhola do final do século XVIII, sobretudo o clero e a nobreza. Ao reconstruir essa obra, o artista plástico cearense estabelece uma relação entre o contexto da Espanha durante o iluminismo e do Brasil atual.
“O momento é parecido com o nosso, inclusive com relação à religião. Hoje nós temos o uso da religião de uma maneira distorcida. A nossa sociedade vive um momento muito crítico. A minha ideia no final de tudo é transformar oitenta obras do Goya numa obra só. Já tenho todas elas trabalhadas e selecionei doze para a Bienal, fazendo esse link entre a obra dele para o que estamos vivendo hoje”, acrescenta.
Tridimensional
Guedes estava trabalhando com uma imagem fotográfica renascentista quando se deu conta de que ela estava em baixa resolução. Depois de amassá-la, o artista percebeu que estava em suas mãos uma obra “bem resolvida do ponto de vista estético”. “Eu tinha feito naquele ato completamente espontâneo uma recriação daquela obra”, completa.
Demorou um tempo até que Fênix se consolidasse. Guedes conta que no começo ele passou a experimentar a técnica em artistas geométricos, cuja personalidade fosse facilmente identificada na obra original. As primeiras obras a ganharem uma nova interpretação foram as do artista modernista Piet Mondrian.
As obras são impressas em papéis de fotografia de alta resolução para em seguida serem amassadas. Mas não é um processo tão simples. José Guedes compartilha que as vezes é necessário repetir o processo até 20 vezes para chegar às dobras ideais no papel.
O resultado é apresentado através de uma placa fina de alumínio, que são recortadas acompanhando a periferia do amassado. A ideia é provocar no espectador uma ilusão de tridimensionalidade.
“A partir desse ato de destruição, eu coloco uma carga simbólica nessa intenção de transformar o mundo através de uma ação poética”, finaliza.