A estudante de veterinária Carolina Arruda, de 27 anos, que viralizou nas redes sociais, semana passada, ao compartilhar a rotina com neuralgia do trigêmeo (NT) — distúrbio incurável que provoca dor apontada como a "pior do mundo" — revelou que tentará duas novas técnicas para melhorar a qualidade de vida. Caso os tratamentos reduzam a intensidade da dor, ela disse que pode desistir da ideia de buscar eutanásia na Suíça.
Há 11 anos, a jovem vive com episódios de dor incapacitante nos dois lados do rosto — em forma de pontadas ou choques. Apesar de já ter realizado diversos tipos de tratamento, entre eles quatro cirurgias, não teve melhora do quadro. Devido a isso, lançou uma vaquinha virtual para arrecadação de R$ 150 mil, visando viajar até o país europeu para realizar o procedimento de antecipação da morte.
Tenho uma dor constante durante o dia, uma dor permanente, e ela fica ali no nível 6, mais ou menos. E quanto tem a crise, a dor aumenta muito, vai ao nível 10 e fica muito insuportável."
Uma das possibilidades de combater a condição está na Clínica da Dor da Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais. Nesse caso, Carolina, que é mineira e reside em Bambuí, já conhecia o trabalho da equipe do local, mas nunca conseguiu acesso devido ao valor alto da terapia. A consulta será realizada nesta segunda-feira (8), virtualmente, e a estudante não pagará nada por ela. As informações são do jornal Folha de S. Paulo.
Se der certo e aliviar a dor, talvez eu reconsidere a eutanásia. Tudo é válido para minimizar a dor. Mesmo que tenha decidido optar pela eutanásia, ainda terei que passar por um processo burocrático e demorado."
A segunda alternativa é uma nova técnica para tratar neuralgia do trigêmeo, provavelmente cirúrgica, do próprio neurologista, Wellerson Sabat, e de uma equipe da Argentina. A consulta com o médico brasileiro deverá acontecer dia 18 de julho e custará R$ 400. O grupo argentino ainda não informou datas, procedimentos e valores.
"Vou tentar, dependendo da margem de sucesso. Tudo vai depender do que eles me apresentarem, porque se for uma terapia que não tem muitas chances de sucesso, não tem muitos estudos, não vou me arriscar e me submeter a mais tipos de cirurgia. Então, tenho que avaliar bem a proposta, a condição. O médico ainda tem que me passar as informações", disse a paciente ao jornal.
"Busco apenas paz e alívio", justifica a estudante sobre a campanha que promove visando conseguir ajuda financeira para realizar eutanásia na Suíça, onde o procedimento é legalizado. Até esta manhã de segunda-feira, a vaquinha acumula mais de R$ 120 mil, dados por 3.023 doadores. O objetivo dela é conseguir R$ 150 mil.
O que é neuralgia do trigêmeo?
A neuralgia do trigêmeo é comparada a choques elétricos e até a facadas. O trigêmeo é um dos maiores nervos do corpo humano e é sensitivo, ou seja, controla as sensações que se espalham pelo rosto. Ele tem esse nome porque se divide em três ramos:
- oftálmico;
- maxilar, que acompanha o maxilar superior;
- mandibular, que acompanha a mandíbula ou maxilar inferior.
A dor provocada pela condição é incapacitante e impede que a pessoa consiga fazer atividades simples do dia a dia.
Diagnóstico de Carolina Arruda
O neurocirurgião Marcelo Senna, profissional com ampla experiência no diagnóstico de neuralgia do trigêmeo e que atendeu a jovem há 7 anos, conta que quando foi procurado, ela já convivia com as dores há quatro anos e já tinha passado por vários médicos.
"A neuralgia do trigêmeo não aparece em um exame de imagem. Então, ouvir o histórico dela, as queixas e como os episódios de dor ocorriam foram fundamentais para fechar o diagnóstico, que na idade em que ela estava é extremamente raro. A doença acomete principalmente adultos e idosos em uma faixa etária de 50 a 80 anos", afirmou.
Após o diagnóstico, a jovem já realizou vários tratamentos com outros médicos e cirurgias, como descompressão microvascular, rizotomia por balão e duas neurólises por fenolização, mas sem alívio que trouxesse qualidade de vida para ela.
Mas, embora esses tratamentos não tenham surtido efeitos positivos na jovem, Marcelo Senna ressaltou que a maioria dos pacientes responde bem ao acompanhamento medicamentoso.