Virginia dá colágeno a filhas pequenas e ignora contraindicação da própria marca, diz especialista
Influenciadora causou polêmica ao publicar vídeo oferecendo substância para as crianças
A influenciadora Virgínia Fonseca, que possui mais de 51 milhões de seguidores no Instagram, causou polêmica na última semana ao publicar um vídeo em que aparece oferecendo colágeno em pó da própria marca, a WPink Suplementos, para as filhas Maria Flor, de 2 anos, e Maria Alice, de 3.
Na publicação, feita nos Stories, a esposa de Zé Felipe coloca uma quantidade referente a uma dose no copo infantil e dá para a criança tomar. "Vamos lá fazer o...?", inicia Virgínia. "Colágeno!", responde a pequena Maria Flor. "O colágeno da Floflô", completa a influenciadora. "Vem, Maria Alice, vai lá pegar seu copo", diz a mãe para a outra filha, que aparece depois na gravação, também ingerindo a substância. "Mariazinha pegou o dela também", certificou-se a influencer.
Assista ao vídeo
A prática é, no entanto, enfaticamente não recomendada por especialistas em nutrição infantil. A ação de Virgínia é até mesmo contraditória em relação à recomendação da própria empresa.
No site da WPink, onde o produto está à venda, a marca enfatiza que "o suplemento é para uso adulto, acima de 19 anos". Já na área de "contraindicações", a empresa diz para manter "fora do alcance de crianças" e que o produto "não deve ser consumido por gestantes, lactantes e crianças". "Procure sempre a orientação de um profissional da saúde", orienta o site.
'Ingestão desaconselhada'
Em entrevista ao Diário do Nordeste, a nutricionista Mariany Cardoso, especialista em terapia alimentar e nutrição materno infantil e escolar, afirmou que a ingestão de colágeno para crianças é totalmente desaconselhada. Além de ser desnecessário, não há evidências científicas que justifiquem essa indicação, já que os pequenos produzem a substância de forma natural.
"O colágeno não é recomendado para criança. A Sociedade Brasileira de Pediatria não faz nenhuma recomendação específica, ou um posicionamento oficial sobre o uso dessa recomendação na infância, porque não há evidências científicas que justifiquem essa indicação, já que as crianças produzem colágeno de forma natural o tempo todo, então, uma alimentação equilibrada pode oferecer os nutrientes necessários para a produção do colágeno, para o desenvolvimento adequado dos ossos, das articulações e da pele", explica a profissional.
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A nutricionista também alerta que, na composição do colágeno da WPink, há a adição de adoçantes, componente que pode trazer riscos à saúde da criança. O produto só deve ser utilizado em casos específicos, de doenças que podem causar déficit nutricional, mas o uso deve ser sempre sob orientação.
"O colágeno só deve ser utilizado por recomendação médica ou de um nutricionista, se a gente vê que há necessidade, quando existe problemas específicos, como atraso no desenvolvimento ósseo, dificuldade nas articulações, ou doenças que estão afetando a produção de colágeno. Fora isso, não é recomendado", enfatizou Mariany.
"A Sociedade Brasileira de Pediatria é um dos principais norteadores para suplementação e alimentação da criança. Outros estudos também não comprovam nenhum benefício, já que a criança produz de forma natural, assim como nós adultos, mas que com o tempo vai diminuindo. O colágeno é uma proteína fibrosa, então, se a criança come proteína de forma correta, ela não vai ter necessidade de fazer essa suplementação", completou.
Riscos
Segundo a especialista, o colágeno é uma proteína presente em muitos alimentos naturais, e o uso dele em excesso pode apresentar alguns riscos, como o desequilíbrio nutricional, já que uma suplementação alimentar não acompanhada pode alterar o equilíbrio da dieta e de nutrientes.
Além disso, o excesso de proteína pode, sem indicação médica, sobrecarregar os rins e afetar a saúde renal da criança.
“O que eu percebi no vídeo, em que ela colocou uma criança como garota propaganda, é como se colágeno pudesse ser usado de qualquer forma no dia a dia. Mas o colágeno, se for fazer parte de um tratamento específico, um problema de saúde, alguma deficiência genética ou uma doença rara, vai precisar ser específico para aquele momento, não para a vida toda, ou para tomar diariamente a longo prazo, de forma aleatória", orientou.
Adoçantes usados na composição de colágeno prejudicam saúde infantil
A nutricionista Mariany Cardoso também ressalta o risco de alergia que o uso de colágeno em crianças pode acarretar.
"Ainda pode acontecer algum processo de risco de alergia, já que quando é feita a suplementação de colágeno, existem alguns aditivos, algumas substâncias que podem provocar reações alérgicas, se for uma criança sensível", disse.
A especialista explica que, na composição do colágeno, existe a adição de adoçantes para saborizar o produto, o que é totalmente contraindicado para crianças. "O adoçante é modificado para adoçar o produto, mas ele está atrapalhando a criança, o paladar da criança. Então, a gente não indica de forma nenhuma", sublinhou.
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O consumo indiscriminado da substância ainda pode modificar a fase sensorial dos pequenos, o que pode interferir no entendimento deles sobre alimentos doces.
"O uso de adoçantes artificiais pode prejudicar o desenvolvimento infantil, pois ele acaba atrapalhando sensorialmente a criança e seu hábito alimentar, então, ela consome alimentos doces sem vontade do doce, mas ali, por ser um adoçante, desequilibra esse entendimento dela sobre o doce", afirmou.
Impacto na saúde a longo prazo
O impacto a longo prazo dos adoçantes artificiais não são positivos. Para a segurança nutricional não é indicado. “Pode prejudicar a saúde da criança, principalmente a longo prazo. Crianças não têm essa necessidade e pode desequilibrar a nutrição e o desenvolvimento delas", assegura a profissional.
Colágeno nem sempre passa por regulamentação rigorosa
Outro ponto levantado pela especialista é que, segundo ela, o mercado de suplementos de colágeno nem sempre é regulamentado de maneira rigorosa. Dessa forma, algumas impurezas e substâncias inadequadas podem estar presentes no produto.
"A qualidade dos produtos pode variar, não se sabe ao certo o quanto de impurezas e de substâncias inadequadas estão nesses produtos. Quando a gente fala de criança é mais interessante ainda ter a segurança nutricional, então, não é qualquer tipo de colágeno que a gente ofertaria, e só ofertaria em casos específicos", alertou.
"O colágeno tem benefícios para a pele de pessoas adultas, para as articulações, mas quando a gente fala em pediatria, as evidências sobre essa eficácia e a questão da segurança ainda é muito limitada, são em casos bem específicos. É preciso a avaliação de um profissional", completou Cardoso.
Como ter colágeno de forma natural?
Quando a criança tem uma alimentação rica em proteína, frutas, verduras, fontes de vitamina C - como laranja, kiwi, limão, acerola, morango -, além de minerais como zinco, que ajudam nessa síntese de colágeno, ela vai desenvolver e produzir a substância naturalmente. Então, não há necessidade dessa suplementação, enfatizou a nutricionista.
"Mas se ela não faz um consumo de vitaminas e nutrientes necessários, é preciso fazer a revisão do que é necessário para a criança. A gente não vai começar, de fato, pelo colágeno, a gente vai começar pela alimentação, pela suplementação de vitamina C, por exemplo, pela suplementação de outros minerais. Eu quero que a criança coma bem, principalmente a proteína e, normalmente, se bate [o índice] de proteína facilmente", explica Mariany sobre o melhor caminho para a saúde nutricional dos pequenos.
Principais alimentos para a produção de colágeno
- Alimentos ricos em proteínas, como carnes, ovos, peixes, feijões, entre outros.
- Vitaminas e minerais (vitamina C, zinco e cobre são importantes para a síntese desse colágeno)
“Leite, ovos e carnes são bem fáceis de 'bater' na alimentação da criança. Se eu perceber que não tem esse consumo, a gente orienta, se houver necessidade de suplementação como vitamina C e outras fontes de minerais como zinco e cobre, aí sim a gente faz essa suplementação antes mesmo do colágeno. A gente tem que suplementar com comida de verdade", afirmou.
De acordo com a nutricionista, por meio do exame bioquímico é possível ver as necessidades nutricionais e, a partir dele, pode ser feito um plano alimentar baseado nos nutrientes que estão em deficiência na criança.
“Até mesmo em uso adulto, tem muita orientação de colágeno sem embasamento. O colágeno, na verdade, é uma suplementação que muitas vezes não há necessidade se a gente está fazendo, seja criança ou adulto, uma alimentação equilibrada que tenha a fonte de proteína. Então, o mais adequado é garantir uma alimentação balanceada, que consiga fornecer todos os nutrientes necessários para essa produção de colágeno natural", finalizou a especialista.