Facção usa modelo de ‘administração’ descentralizada para crescer no Ceará

Terceiro Comando Puro (TCP) avança no Estado.

Escrito por
Emanoela Campelo de Melo emanoela.campelo@svm.com.br
(Atualizado às 07:18)
muro pichado com a sigla da faccao terceiro comando puro, tcp, em fortaleza.
Legenda: Instalada há quase dois anos no Estado, em setembro deste ano a TCP se aliou à facção local Guardiões do Estado (GDE) para ganhar força.
Foto: Reprodução.

A forma como a facção carioca Terceiro Comando Puro (TCP) opera, "com hierarquia descentralizada pode ser vista como uma estratégia para facilitar a expansão e o controle de territórios distantes". A afirmação vem de promotores de Justiça de Combate às Organizações Criminosas do Ministério Público do Ceará (MPCE).

O Diário do Nordeste teve acesso a documentos nos quais constam a 'preocupação' do Poder Público com o avanço do grupo no Ceará. Com vários líderes que dividem a autonomia conforme o território onde atuam, o TCP "não precisa seguir ordens diretas dos líderes da facção no Rio de Janeiro ou de outras regiões. Essa estrutura pode ser vista como uma estratégia para facilitar a expansão e o controle de territórios distantes, como no Ceará, onde as operações locais podem ser geridas de maneira independente".

Instalada há quase dois anos no Estado, em setembro deste ano o TCP se aliou à facção local Guardiões do Estado (GDE) para ganhar força. Por meio de salves e fogos de artifício, os grupos comunicaram que "o fortalecimento vai ser de mil grau agora" (sic). 

"A chegada do TCP ao Ceará, especialmente no Interior, não é apenas um fato isolado, mas faz parte de uma dinâmica nacional de expansão das facções brasileiras para além de seus territórios de origem"
MPCE

A reportagem solicitou entrevistas junto ao MPCE e à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social. O MP disse não ter fonte disponível no momento e a Secretaria não respondeu à demanda até a publicação desta matéria. 

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CENÁRIO DA SEGURANÇA PÚBLICA

Ainda segundo documentos que constam em investigação contra integrantes desse grupo, "a presença do TCP no Ceará representa mais uma complexidade no cenário da segurança pública cearense, que já lida com a presença de facções locais e nacionais. A entrada de mais um grupo poderoso como o TCP agrava a violência e intensifica os conflitos armados, além de dificultar ainda mais o controle do tráfico de drogas e o combate às facções criminosas por parte das forças de segurança estaduais e federais".

O professor de sociologia e coordenador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), Luiz Fábio Paiva, afirma que "essa expansão do TCP é um fenômeno que me parece recente. Existem muitos elementos que replicam estratégias do Comando Vermelho, como a dimensão de autonomia dos territórios".

"Há um intercâmbio, uma troca, um laço social que envolve uma série de compromissos e isso faz com que se crie conexão entre grupos locais e o TCP"
Luiz Fábio Paiva
Sociólogo

Os promotores de Justiça de Combate às Organizações Criminosas do Ministério Público do Ceará destacam que o "Terceiro Comando Puro (TCP) surgiu no contexto das facções criminosas do Rio de Janeiro em 2002, após um racha com o Comando Vermelho (CV). Desde então, a facção tem se consolidado como uma das principais organizações criminosas do estado, controlando diversas áreas e envolvida em atividades ilícitas como tráfico de drogas, extorsão e violência armada. No entanto, a novidade no relato é a expansão do TCP para além do Rio de Janeiro, atingindo o Ceará, fato que desperta a atenção de autoridades e da população local".

"Além das mensagens, as pichações com a sigla "TCP-CE" começaram a aparecer em diversas cidades do interior cearense. Essas marcas de território são uma forma comum de sinalizar o domínio de uma facção em áreas específicas, como favelas, comunidades ou municípios, e são uma demonstração de força e presença. A inscrição "TCP-CE" faz referência direta à atuação do Terceiro Comando Puro no Ceará, indicando uma expansão do grupo, que está em busca de consolidar novas áreas de controle, especialmente no interior do estado, onde a presença de facções cariocas ainda é relativamente recente"
MPCE

PRESO EM FLAGRANTE

Em setembro deste ano, em meio à queima de fogos de artifícios em Fortaleza e Região Metropolitana, dezenas de suspeitos foram presos. Um deles é João Victor dos Santos, apontado até aquele momento como líder da Massa Carcerária e como mais novo recém-aliado do Terceiro Comando Puro.

João Victor foi flagrado recebendo uma remessa de fogos de artifício durante "notório e violento confronto entre grupos criminosos".

A Polícia destacou na época que "a utilização de fogos de artifício transcende a mera celebração, servindo como meio de comunicação codificada, demonstração de força, comemoração de conquistas territoriais e celebração de alianças espúrias" e o MPCE denunciou João no mês seguinte por organização criminosa armada.

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