Como a tecnologia pode ajudar a reduzir a criminalidade no Ceará?

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o superintendente da Supesp, Helano Matos fala sobre os feitos nos quatro anos da Pasta

Traçar estatísticas, montar mancha criminal e formular produtos que auxiliem no dia a dia da Segurança Pública. A Superintendência de Pesquisa e Estratégia de Segurança Pública (Supesp) do Ceará completa quatro anos neste domingo (22). De 2018 até então, são quase seis mil demandas atendidas, que incluem elementos para nortear o planejamento das forças e o setor de Inteligência.

Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o titular da Pasta, Helano Matos fala sobre investimentos em tecnologia e o trabalho feito com intenção de prevenir crimes de várias naturezas, como as mortes violentas, que já ultrapassam 1.100 ocorrências neste ano de 2022.

Como a Supesp trabalha em parceria com o policiamento ostensivo e os outros órgãos da Segurança Pública?

A Supesp é um órgão que trata ciência e dados, apoiando formulação de políticas de Segurança Pública. Fomos ganhando corpo com o passar dos anos. De início era uma sala, poucas estatísticas. Inovamos bastante criando tecnologias, ampliando o leque de produtos e serviços. Antes, a Segurança Pública disponibilizava dados em formato PDF. Agora, os cidadãos conseguem ter acesso aos dados em planilhas de Excel, conseguem ter acesso a dados de mais crimes. Hoje, a Supesp tem até site. Somos 36 profissionais voltados para criar e expandir produtos que auxiliem na área da Segurança Pública.

Como é feito o trabalho de compilar dados e disponibilizá-los em forma de estatística?

Os dados são guardados nos sistemas, como, por exemplo, quando se registra um B.O. São dados soltos. Aí usamos inteligência artificial. A partir dos dados posso oferecer às forças policiais as manchas criminais. Com base nos dados verificamos a intensidade de determinado homicídio, como o CVLI (Crime Violento Letal e Intencional). Sabemos onde em Fortaleza há microterritório com mais homicídios. É uma informação preciosa para o tomador de decisão. É importante o cidadão registrar ocorrências na Polícia, até mesmo para ações de prevenção à violência.

Quais são os principais produtos desenvolvidos nos últimos anos e que interferem na rotina da Segurança?

Temos um vasto leque, tecnologia disruptiva é o nosso foco. Um que podemos falar é o nosso bigdata 'Cerebrum'. Ele tem 16 bases de dados, onde é possível fazer consultas integradas. Outro trabalho é a Mancha Criminal, direcionamos onde estão os pontos quentes. Essa ferramenta foi criada no Ceará, com inteligência artificial e analisa dados estatísticos. Ainda se destacam o Sistema Tecnológico para Acompanhamento Territorial de Unidades de Segurança (Status), o Sistema de Georreferenciamento Operacional (Sigo), e o Registro de Operações Táticas e Ações de Segurança (Rotas), esse último desenvolvido em parceria com a Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (Cotic).

Investir em tecnologia é uma característica desde a última gestão da Segurança Pública do Ceará. Quanto, em média, custa este investimento?

Só o Cientista Chefe, nos últimos anos, foram R$ 2 milhões. Tem também o Previo, com a então vice-governadora, que abrange além da Segurança Pública com investimento de dezenas de milhões. Nós otimizamos para criar produtos e serviços para as vinculadas.

Um dos programas que mais se fala quando mostram resultados é o Spia. No que ele se baseia?

O Spia (Sistema Policial Indicativo de Abordagem) lê placas usando a inteligência artificial. Então depois criamos uma versão melhorada, o Agilis, que também lê placas e faz mais. O Agilis lê placas por cor do carro, modelo, toda uma inteligência além da placa. No Agilis é possível saber por onde o veículo passou nos últimos meses. São muitas câmeras espalhadas e temos acesso para fazer a leitura. O programa lê dados, faz cruzamentos, busca histórico. Então a abordagem de imediato, quando necessário, fica mais facilitada.

São produtos desenvolvidos com importação de tecnologia?

É tudo feito aqui. São os nossos cérebros. Temos ligação com o programa Cientista Chefe, ligado a Funcap. São ofertadas bolsas para criarem soluções para as secretarias. É a ciência aplicada para resolver problemas. Quando junta a ciência e os problemas reais, desenvolvemos produtos. Recentemente recebemos visita de um norte-americano e ele se surpreendeu com a nossa tecnologia de como criar e perceber as manchas criminais.

O que podemos esperar de avanços com uso na tecnologia?

Estamos constantemente atualizando. Sempre em constante modificação. Estamos criando o Status 2.0, o Big Data 2.0, um sistema só para operações integradas até mesmo com órgãos não-policiais, com previsão para lançar até o fim de 2022. Coisas que antes eram feitas via papel, agora estão em um sistema automatizado. Até o fim do ano também queremos lançar o Proteger (Programa de Gestão Territorial e de Risco). A Supesp é a responsável pela coordenação estratégica do programa e vamos criar uma nova tecnologia criando o Proteger Virtual. O policial que está na base poderá mapear a visita toda de forma virtual.